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1931 Words
CAPÍTULO 3 ANNA NARRANDO Estou me arrumando em meu quarto, fazendo uma bela maquiagem. Coloquei um vestido verde esmeralda até o pé e sandálias prata, o vestido é bem ajustado em meu corpo e tem alças finas. Deixei meu cabelo ruivo e longo com ondas, e coloquei brincos e um colar de diamantes. Peguei emprestado com minha mãe falsa, Claire, ou melhor dizendo, senhora Davis. Enquanto me arrumava, lembrei de uma situação com Mattia, que aconteceu na pré-adolescência. A verdade é que eu e Mattia poderíamos ter nos dado muito bem, mas eu desisti dele em prol da minha vingança. FLASHBACK (Lembranças de Anna) Quando eu tinha onze anos, Harold se afastou por completo de mim e de senhora Davis. Meu irmão Liam tinha sete anos, era muito triste. Ele mandava dinheiro para ela, para calar sua boca, mas ela sempre foi egoísta e gastava tudo consigo mesma. Ela cuidava muito do Liam, mas não de mim. Eu estava passando em frente a um restaurante. Vi que havia uma mesa lotada de sobras do lado de dentro e entrei, me sentei e comecei a comer. Estava delicioso, eu estava com tanta fome! Mas então, o dono do restaurante me mandou embora como se eu fosse um cachorro de rua. Ele me expulsou, me enxotando de verdade! Eu me sentei no meio-fio e comecei a chorar. Chorei muito, muito mesmo. Eu estava suja, com fome e passando frio. Minha mãe, nesse dia, havia me trancado para fora porque tirei uma nota r**m na escola. — Oi. — Um garoto da minha idade se sentou ao meu lado no meio-fio. — Por que está chorando? — Porque estou com fome! — Falei e limpei meu rosto. — Ei, garoto, por que está falando com essa maltrapilha? Vai acabar com piolhos! — Era o dono do restaurante, que me expulsou. Isso me fez chorar ainda mais. Ele estava parado na porta do restaurante, com uma cara de raiva. — Não fale assim dela! Ei, vamos, eu vou pedir aos meus avós para você almoçar com a gente. — Ele disse. Os olhos dele pareciam inchados. Parecia que ele havia chorado tanto quanto eu. — Por que você está com os olhos inchados? Estava chorando? — Perguntei. Ele olhou para baixo e suspirou. — Acabei de sair do velório dos meus pais. Estou muito triste... Agora sou só eu e meus avós. — Ele disse, e eu segurei sua mão. Continuamos sentados no meio fio. — Eu sinto muito. Como é seu nome? — Mattia. E o seu? — Anna. Meu pai está vivo, mas ele me odeia. Odeia minha mãe também. Nunca mais o vi. — Ele ergueu as sobrancelhas. — Nossa, eu sinto muito, Anna. — Eu concordei com a cabeça. — Eu também. Mas tudo bem, Mattia. Estou acostumada, minha vida é uma droga. — Vem, vamos comer, pelo menos alguma coisa pra melhorar o dia, podemos fazer, não é mesmo? Eu sorri e concordei. Nós almoçamos juntos naquele dia. FIM DO FLASHBACK (Fim da lembrança de Anna) Desci as escadas da mansão pronta para ir para a festa. Vi meu pai, senhor Jones, se agarrando com senhora Davis... E isso me deu um pouco de nojo. Segui meu caminho, porque não queria atrapalhar os dois. Quando cheguei na mansão dos Moretti, me impressionei com o tamanho e com a beleza do salão da recepção. Todos os convidados estavam bem arrumados como eu, parecia um jantar importante. Me dei conta que o jantar era em comemoração aos sessenta anos de casamento dos avós de Mattia, e que seria um pouco inconveniente da minha parte conversar com eles sobre negócios em um momento tão bonito... Mas a minha aproximação era necessária, então, decidi ficar. Vi Mattia de longe, e ele está mais lindo do que eu me lembrava. Ele é alto, tem olhos e cabelos castanhos e barba da mesma cor. Sua pele é branca, porém queimada pelo sol. Seu cabelo é comprido e ele o arrumou em um coque bem alinhado, atrás da cabeça. Está sorrindo para uma moça, e os dois estão com champagne nas mãos. Deus, como eu pude deixa-lo? Como? Por que eu estive tão cega? Me aproximei deles, sorrindo. Ele me olhou e sorriu, pedindo licença à moça que conversava anteriormente. — Anna Davis. — Ele disse, me entregando a mão para que eu entregasse a minha. — Mattia Moretti. — Respondi, entregando minha mão. Ele deu um beijo no dorso da minha mão de forma educada, e esse beijo me fez arrepiar por completo. Aquele pequeno beijo desencadeou mais uma memória, um pouco mais vívida dessa vez. Lembrei-me do meu primeiro beijo, que coincidentemente, foi com ele. Muitas das minhas amigas tiveram primeiros beijos horríveis, mas o meu não foi assim, porque foi com ele. Ele beijou minha boca de um jeito que nunca esqueci... Mas preferi guardar na lembrança e não repetir. O que eu sentia por ele parecia ser tão grande a ponto de atrapalhar minha vingança contra os Jones e contra minha mãe falsa Claire, então, eu decidi me afastar. — Como vai, Mattia? — Eu falei, com um sorriso nos lábios. — Muito bem. E você? — Respondeu. Mattia parecia diferente. O olhar dele, para mim, não era o mesmo. Ele me olhava com amor desde o primeiro dia, em frente àquele restaurante... Mas hoje, o olhar dele para mim é como olhar dele para qualquer outra pessoa. Confesso que isso me entristeceu um pouco. Acho que ele superou a sua quedinha por mim. — Estou bem. Um pouco preocupada com a situação da empresa dos Jones... Mas isso pode esperar, por essa noite. Marcamos uma reunião para essa semana, se puder. — Pedi. — Eu realmente não quero atrapalhar esse grande momento dos seus avós, eles merecem uma boa comemoração. Sessenta anos, hein? — Ele concordou com a cabeça, sorrindo. — Sessenta anos. — Ele repetiu, colocando as mãos nos bolsos. — É isso que acontece quando você decide lutar pelo amor da sua vida. Talvez tenha sido uma indireta, talvez não. — É, é verdade. Eles estão escrevendo uma história diferente da história maluca da minha vida. — Falei e ri. — Um casal rico, com a vida perfeita, e o homem decide trair a esposa com uma enfermeira do hospital que sua mulher faz as consultas com o ginecologista para tentar engravidar. — Eu girei meus olhos e ri novamente. Mattia sempre desconfiou que eu fosse filha do Harold. Falamos disso uma vez, ele é a única pessoa que sabe, por mais que eu nunca tenha confirmado de fato, dando nomes aos bois. — Você é fruto dessa história, então não é tão ridícula assim, Anna. — Ele disse. Ele não faz ideia que sou a verdadeira filha dos Jones, mas desconfia que sou filha de Harold. Desconfia não, tem quase certeza. — Vem, vamos para a pista de dança, vamos dançar um pouco. Ele me ofereceu a mão e fomos para a pista de dança. Mattia colocou uma das mãos em minha cintura e com a outra, pegou minha mão. Eu apoiei uma das mãos em seu ombro e acompanhei seus passos. Não tenho tanta educação e etiqueta como Bella, mas eu aprendo muito rápido. — Você já sabe dançar? — Questionou, antes de dar os primeiros passos. — Na verdade, não. Mas sou uma excelente aluna. Se importa de me guiar com paciência? — Perguntei. Ele sorriu de forma doce. — Não se preocupe, vamos devagar. Começamos a dançar. Mattia, como sempre, foi um cavalheiro. Seus olhos se encontraram com os meus vez ou outra, e cada vez que eu sentia isso acontecer, parecia que meu coração de pedra derretia um pouco. Eu realmente devia ter dado mais atenção ao Mattia. Ele é um homem especial. — Estou fazendo direito? — Questionei, enquanto acompanhava os passos dele. — Está, está fazendo direitinho. — Respondeu, satisfeito. — Disse que sou uma excelente aluna. Um silêncio se formou entre nós. Eu decidi aumentar o contato, me aproximei um pouco mais dele e encostei meu rosto em seu peito. Ele estava cheiroso, como sempre esteve. Eu fechei meus olhos, e com o braço que estava em minha cintura, ele me abraçou. O silêncio, agora, parecia um pouco mais confortável. — Você parece tão distante. — Eu comentei. Saí do abraço e voltei a posição inicial, voltando a dançar com ele da maneira correta. — Está diferente das outras vezes que te encontrei. — Eu não sou bobo, Anna. A gente aprende um pouco com certas situações que acontecem em nossa vida. Eu conheço você... — Ele suspirou. — Estou protegendo a mim mesmo e sendo prudente. — Sorriu, de forma maliciosa. — Acha que sou uma vagabunda c***l que vai querer roubar seu coração, Mattia? — Brinquei. Ele deu os ombros. — Talvez. Preciso ser cauteloso. Você já tem um espaço aqui dentro do meu peito, seria fácil agir como um cavalo de Tróia e me destruir por completo. — É, seria. Mas eu não gosto de pensar na ideia de destruir você. — Eu respondi, e ele sorriu, fingindo estar surpreso. — Caramba, fico muito feliz com isso. — Disse e riu. Paramos de dançar apenas quando chamaram, dizendo que a mesa estava posta. Todos começaram a comer até se fartar. Eu sentei ao lado de Mattia, e ficamos conversando coisas aleatórias durante todo o jantar. Quando serviram a sobremesa, eu já estava cheia e não quis comer. Mattia comeu, e depois, nos retiramos da mesa. — Vou cumprimentar os seus avós, e dizer que quero conversar com eles essa semana. — Falei. Ele concordou. — Vou conversar com outros convidados. Fiquei um pouco decepcionada de ver que ele saiu de perto de mim, porque imaginei que com ele por perto, a chance de conseguir uma reunião com os avós dele seria maior. Tudo bem, estou por conta própria, como sempre. Me aproximei dos Moretti, com um sorriso no rosto. — Olha só, o casal mais lindo de Nova Iorque. — Sorri ao falar, abri meus braços e abracei a senhora Moretti. Ela me abraçou de volta, me dando um beijo no rosto. — Bella, minha querida! — Meu sorriso se desfez na hora. — É a Anna, não a Bella. — Falei. Ela se afastou de mim com um sorriso sem graça. — Me desculpa, querida! Você está tão linda, que achei que fosse a Bella! — Mas que comentário mais i*****l, meu Deus. — Você é a amiguinha da Bella, não é? Se controla, Anna, pensa na empresa! — Não se preocupe, senhora Moretti. As pessoas me confundem com a Bella o tempo todo. — Ri ao falar, fingindo simpatia. — Sim, sou uma amiga da Bella. Faço parte da liderança da empresa dos Jones, já nos vimos algumas vezes em jantares. — Que bom que não se ofendeu. E convenhamos, ser confundida com a Bella Jones é ótimo! Ela é tão maravilhosa e educada! — Concordei com a cabeça, por mais que estivesse com ódio. — Sim, isso mesmo. A filha dos Jones é maravilhosa. — Sorri, de forma falsa. — Mas então... Eu queria marcar uma reunião para conversarmos sobre negócios. Será que vocês tem um tempo disponível? — Ah, querida, é claro! Sempre estamos dispostos a conversar com os funcionários de alto escalão da empresa dos Jones! Aguardo nossa conversa. — Ela disse. Eu saí do banquete sem me despedir de Mattia. Não queria olhar para ele de novo. Ele parecia ter um olhar de decepção para mim... E eu estou cansada de olhares assim.
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