04

2107 Words
CAPÍTULO 4 ANNA NARRANDO — Anna... — Eu ouvi a voz suave de Mattia dizer, rente ao meu ouvido. Estou deitada na minha cama, e ele se deitou atrás de mim. Senti suas mãos fortes acariciando meu quadril e subindo por minha cintura. Seus lábios sussurravam próximo ao meu ouvido. — O que você quer, Mattia? — Questionei, com a voz baixa como a dele. Ele ficou em silêncio. Deslizou a mão para o meio das minhas pernas, a apoiando ali e me estimulando. Senti meu corpo tremendo em resposta a isso. — O que eu quero? — Ele sussurra, mais uma vez. — Quero você. Molhada. É assim que me sinto. Tanto de suor, quanto lá embaixo. Acordei em um pulo na minha cama. Maldito Mattia, está invadindo meus pensamentos desde o dia que coloquei meus olhos nele novamente, naquele banquete i****a. Ele sempre teve esse poder sobre mim, mas eu não devia me distrair nem na minha outra vida, nem agora... Tenho tanta coisa pra fazer, agora que voltei aos meus vinte anos! Tenho que salvar minha família, minha moral, tenho que impedir a i****a da Bella de fazer o que ela fez... Um pouco antes de eu receber esse presente que foi a volta no tempo, a Bella conseguiu o que queria: Ela passou a empresa para o nome dela e do maldito do marido, Leonard, e os dois conseguiram falir. Eu trabalhei na empresa durante vinte anos com muita força de vontade, tentando controlar os gastos ridículos que a Bella fazia com coisas desnecessárias... Mas a única coisa com que ela se importava era com as aparências. Talvez ela tivesse sido uma excelente decoradora de ambientes, mas gestora ela realmente não foi. Bella fez o favor de roubar muito dinheiro o transferindo para paraísos fiscais. E eu descobri a fraude, algumas semanas antes do dia em que me joguei do topo do prédio da empresa. Consegui provar, com provas extremamente concretas, que ela era a culpada dos rombos na contabilidade e... O que eles fizeram? O que minha família fez? Eles ficaram do lado de Bella, como se eu tivesse contado mentiras. Como se eu fosse um monstro por dizer essas coisas da filha favorita. Com o tempo, Bella começou a reverter a situação para o meu lado. Ela implantou pistas falsas, e conseguiu convencer a todos que a pessoa que cometia fraudes na empresa era eu, não ela. Ela me culpou e eles me demitiram. Fui humilhada por meu próprio pai, na frente de todo o comitê... Nem mesmo Mattia, que estava no comitê da empresa, me defendeu. Eu estava completamente sozinha. Foi naquele momento, que eu percebi que a única saída para mim, era a morte. Quando tudo falhou, eu não tinha uma só pessoa para contar. Claire Davis, aquela que fingiu ser minha mãe durante vinte anos, estava feliz e ocupada demais com seu esposo Harold, para se preocupar com uma garota que apesar de ter sido criada por ela, não era sua filha. Paola Jones, minha mãe verdadeira, sempre foi apaixonada demais por Bella e por toda sua perfeição. Bella se casou e lhe deu netos... E eu? Eu não tinha ninguém. FLASHBACK (Lembranças de Anna) — Você sabe muito bem que foi você quem fez isso, Anna! Admita! — Bella gritou, em frente ao comitê da empresa Jones. — Eu estive fora por algumas semanas, e você inventou tudo isso! Olhe para você, Anna! A mesa redonda de madeira abrigava doze pessoas. Entre elas, Mattia, meu pai Harold, o esposo de Bella, Leonard, e vários empresários e investidores que fazem parte do comitê de decisões. — Você está mentindo, Bella! Eu apresentei todas as provas! Vocês viram, a culpa é totalmente dela, eu nunca coloquei um centavo a mais do que o meu salário no meu bolso! Essa empresa é a minha vida! — Falei, indignada. — Sabe qual é o problema, Bella? Você não aceita que é a p***a da bastarda aqui! Eu estava nervosa. Muito nervosa. Os ânimos se exaltaram, e ela fingiu surpresa. Bella fez uma cena ridícula e começou a chorar. — Você usa minha dor para me ferir, todas as vezes que está errada! Eu não tenho culpa de ter sido fruto de um adultério do papai, mas eu fiz muito mais do que você, que é a verdadeira herdeira de tudo, como você adora dizer! — Ela gritou, em meio a lágrimas. — Eu não sei porque você existe! Anna, você só destrói tudo que toca! A empresa está falida por sua causa! Você acha que uma pessoa como eu, casada, com filhos... Uma pessoa boa, que sempre ajudou todos, uma pessoa estudada, que cresceu com os ensinamentos de Harold Jones, roubaria a própria empresa e a levaria a falência? — Ela limpou as lágrimas do rosto, e me olhou num misto de tristeza falsa e ódio. — Olha pra você, Anna. Você, sim, queria vingança o tempo todo. Eu nunca quis me vingar de ninguém, gosto da vida que tenho, eu tenho muita coisa! Você... Você é um poço de amargura e desejo de vingança contra a mulher que você chamou de mãe por dezoito anos! E contra toda sua família! — Ela finalizou gritando. — Você é uma p*****a falsa, mesmo! Isso tudo é ridículo! Eu mostrei números, mostrei datas, e você está tentando vencer através da chantagem emocional! Você pode dizer o que quiser, Bella, eu sei a verdade! Eu sei! Você roubou a empresa! — Respondi a plenos pulmões. Liam se levantou da cadeira e veio até mim. — Vamos parar com o show, Anna. Todos já entenderam quem é a culpada aqui. Vamos fazer uma votação aberta. Quem acha que Bella é a culpada pela falência parcial da empresa, levanta a mão. Ninguém. Nenhuma alma sequer, apenas eu. Eu, sozinha, mais uma vez. — Eu não acredito nisso... — Sussurrei, para mim mesma. — Quem acha que Anna é a culpada pela falência parcial da empresa, levanta a mão. Minha cara foi no chão ao ver todas as mãos levantadas, menos a de Mattia. Todos aguardavam a resposta dele. — Não vai votar? — Liam questionou, como se quisesse obriga-lo a levantar a mão. — Eu não quero votar. — Mattia respondeu, colocando as duas mãos na mesa. — Me recuso a participar disso. Eu acho que as provas são insuficientes, de qualquer forma, para acusar qualquer uma das duas. Mas já que vocês abriram uma caça às bruxas... Vou dar o meu parecer jurídico em relação ao assunto: Primeiro, como eu disse, se isso for à justiça, nenhuma das duas responderá por absolutamente nada. Minha cara foi no chão. Como ele pode dizer que todas as minhas provas não são válidas? — Mas... — Eu tentei falar. — Fica quieta, Anna. — Liam disse, apertando meu braço. — Segundo, acho que todos já decidiram quem é a culpada: Anna. Não importa o que ela diga ou faça, ela será culpada, porque já é culpada na cabeça de vocês. Meu conselho é: Ao invés de envolver a justiça ou polícia nessa briga ridícula, ao menos tenham a decência de abafar o caso. Demitam a Anna, e pronto! — Eu arregalei os olhos e a boca em surpresa. — Me demitir? Como assim me demitir? Vocês não... — Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, meu irmão começou a falar, mais alto. — Quem aceita demitir a Anna, levante a mão. — E aí, todos levantaram a mão em apoio. Inclusive o Mattia. Eu queria morrer. O apoio dele era o único que eu esperava, mas não tive. Comecei a chorar e corri para a minha sala. Comecei a arrumar as coisas, para ir embora, mas os pensamentos suicidas e a humilhação não paravam de me constranger. A única coisa que me fez voltar a realidade foram as batidas na porta do meu escritório, e quando a abri, vi Mattia, me olhando nos olhos. — Posso falar com você? — Vai me humilhar mais? — Questionei. — Vai embora. — Ele negou com a cabeça. Mattia colocou as duas mãos nas laterais dos meus braços e me empurrou gentilmente para dentro da sala, fechando a porta atrás de si. — Olhe para mim, Anna. Eles tomaram a decisão deles. Vá viver sua vida, você foi demitida e não há o que fazer! Por favor, Anna... Você não precisa deles. Já conversamos sobre isso tantas vezes... — Neguei com a cabeça. — Essa empresa é minha vida. Você sabe o quanto Bella sempre tentou me prejudicar, e agora, ela finalmente conseguiu me fazer parecer a vilã! — Falei, chorando. — Você me conhece, Mattia... Eu sou vingativa, eu sou mesmo! Eu queria arruinar a Bella com todas as minhas forças, mas eu jamais envolveria a empresa nisso, jamais! — Ele concordou com a cabeça. — Eu sei. — Então por que não me defendeu? — Questionei, o olhando de forma profunda. — Nem você se defendeu, Anna. Você também desistiu. Sabe que seu lugar não é aqui. Eu coloquei as duas mãos em meu rosto, me abaixei no chão e me sentei. Eu comecei a chorar feito criança. Mattia se abaixou, ajoelhou na minha frente e levou as duas mãos até meu rosto. Ele limpou minhas lágrimas das bochechas e me fez olhá-lo nos olhos. — Siga sua vida, Anna. Por favor. Senti um beijo em minha testa. Ele se levantou e começou a caminhar em direção a porta. — Aonde você vai? — Isso aqui... Essa bagunça da família Jones, da empresa... Tudo isso já deu pra mim. Vou seguir a minha vida também. Mattia saiu pela porta. E levou com ele o último fio de esperança que eu tinha. Eu me levantei daquele chão convicta do que deveria fazer. Eu estava quebrada e sozinha. O mundo não precisa de alguém como eu, então, eu vou dar um motivo para eles se lembrarem desse dia. Eu fui destruída? Fui, mas essa história acaba do meu jeito. Eu caminhei lentamente até o elevador. Minha cabeça estava erguida, e eu não reparei se alguém me olhava ou não. Apertei o botão do elevador para o terraço e fui, sem nenhuma dúvida do que fazer. Não havia ninguém ali. Vez ou outra, os fumantes vem para poder fumar sem serem incomodados. Eu tirei meus saltos, caminhei até o parapeito e cuidadosamente o passei, para ficar em contato direto com a beirada do edifício e sem nenhuma segurança. Olhei para baixo. O vento fazia meus cabelos ruivos voarem bastante. E então... Eu fechei meus olhos, e pulei. FIM DO FLASHBACK (Fim das lembranças de Anna) Voltei a realidade daquela lembrança triste da minha vida passada, e percebi que estava com a escova de dentes na boca faziam uns dez minutos. Voltei a escovar meus dentes rapidamente, e então, lembrei de Mattia. Acho que ele é a única pessoa que não guardo mágoa. Ele fez de tudo por mim, mesmo eu sendo uma verdadeira i****a com ele. Eu não devia retomar contato... Ou devia? Eu desprezei Mattia a vida toda, porque considerava que meus sentimentos por ele atrapalhavam minha vingança. Talvez eu devesse dar voz ao meu coração dessa vez, não é mesmo? Peguei meu telefone e o procurei em uma rede social. Assim que o achei, mandei uma mensagem simples e gentil de quem quer retomar o contato com alguém: “Olá, Mattia. Foi muito bom rever você na festa de comemoração ao aniversário de casamento dos seus avós. Gostaria de tomar um café com você, um dia desses.” Acho que eu deveria ter mandado essa mensagem na outra vida, mas não mandei. Tudo que eu fiz com Mattia foi pedir, pedir e pedir. Drenar a mente dele com todos os meus problemas... Sem lhe dar um pingo de atenção real. Eu passei anos considerando Mattia meu amigo, sendo que nem ao menos sabia qual era seu tipo de pizza favorita. Terminei de me arrumar. Coloquei uma saia lápis vermelha, uma camisa branca e meus saltos favoritos e poderosos, da cor vinho. Quando cheguei no andar de baixo, para tomar o meu café da manhã, meu celular vibrou dentro da minha bolsa nude. Eu o peguei e vi que era uma mensagem na rede social. E era uma mensagem de Mattia. “Oi, Anna. Foi um prazer rever você, também. É claro que tomaria um café contigo... Eu estou indo para o Blue’s Coffee, caso queira aparecer por lá, costumo ir embora às oito e meia. Abraços.” Eu olhei para o relógio, e eram sete e meia. É, parece que eu tenho um encontro no Blue’s Coffee, com o Mattia.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD