Lucas (18) estava acordado. As enfermeiras haviam colocado a televisão em um volume baixo, mas o som das sirenes e o murmúrio nos corredores eram impossíveis de ignorar. Ele viu o flash das câmeras, e então, na tela, o rosto de Daniel (38) e Helena (36), lado a lado.
Ele ouviu a voz grave de Daniel: — O jovem ferido, Lucas, não é o amante da Doutora Monteiro. Lucas é meu filho biológico.
Lucas fechou os olhos. A dor da concussão era forte, mas a onda de choque emocional o atingiu com mais força. Não era mais um segredo; era público. A verdade que ele descobriu no diário estava agora sendo dita para o mundo inteiro.
Ele viu sua mãe, pálida, confirmando tudo, assumindo a culpa pela fuga e pela mentira.
Quando a reportagem terminou, Lucas tentou digerir a informação. A raiva que sentia pela frieza de sua mãe deu lugar a uma compreensão profunda da sua solidão e do seu sacrifício. Ela havia feito a Minha Escolha para ele, Daniel, e para si mesma.
A porta do quarto abriu-se devagar. Helena entrou primeiro, os olhos mareados, a exaustão da coletiva de imprensa ainda visível. Daniel estava logo atrás, visivelmente tenso, mas com uma nova postura: a de um pai.
Helena correu para a cama e abraçou Lucas com cuidado, sem apertar os tubos.
— Meu amor. Me perdoa. — A voz dela era quebrada.
Lucas não conseguia falar muito, mas ele conseguiu mover a mão e apertar a dela. Ele não estava com raiva; estava aliviado.
Daniel observava a cena, sentindo-se um intruso. Ele esperou até Helena se afastar um pouco antes de se aproximar.
— Oi, filho. — Daniel não usou o nome, a palavra "Lucas" parecia íntima demais para um estranho. Ele apenas usou a verdade. — Eu sinto muito por tudo.
Lucas olhou para Daniel, e pela primeira vez, não viu o Promotor implacável ou o mentor. Viu o pai. Ele moveu os lábios, a voz fraca: — Eu... sei.
Helena explicou rapidamente a Daniel: — Ele tentou me dizer, Daniel. Ele encontrou o diário. Foi por isso que ele tentou intervir na reunião. Ele queria nos impedir antes do acidente.
Daniel sentiu um novo golpe de culpa. Lucas soube primeiro e, agindo para proteger a todos, foi ferido.
— Foi minha culpa. — Daniel disse, olhando para Lucas. — Eu estava cego pelo ciúme e pela raiva. Eu te odiei, filho. Eu achei que você era... que você era o amante de sua mãe.
Lucas sorriu de leve, sem humor. A ironia era c***l, mas a confissão de Daniel era o que ele precisava ouvir. Lucas não precisava de desculpas legais; precisava da honestidade paterna.
Ele fez um gesto, pedindo que Daniel se aproximasse. Daniel se inclinou.
— O caso... — Lucas sussurrou. — O caso PHOENIX...
— Está resolvido. — Daniel apertou a mão de Lucas. — O caso acabou. A Promotoria e a PHOENIX vão cooperar para limpar a bagunça que a Viviane criou. Você não precisa se preocupar com isso.
Daniel e Helena ficaram no quarto enquanto a noite avançava. Quando Lucas finalmente adormeceu, eles se retiraram para a sala de espera para a conversa que estava dezoito anos atrasada.
Eles ficaram sentados em silêncio. O hospital estava silencioso depois do frenesi da coletiva de imprensa.
— Você leu tudo? — Helena perguntou, a voz baixa.
— Li. — Daniel estava com os cotovelos nos joelhos, as mãos apertando a testa. — Eu li sobre o seu medo de que eu fosse destruído, sobre o seu sacrifício. Eu entendi, Helena. Eu entendi a sua lógica distorcida.
— Não era lógica. Era amor. — Helena olhou para as próprias mãos. — Eu era uma garota apaixonada, Daniel. Eu não via como dois estudantes de direito com um bebê poderiam ter o futuro que você merecia. Eu pensei que o amor bastaria para me dar forças para criá-lo sozinha.
— Você não me deu escolha. — Daniel virou-se para ela, a dor voltando aos seus olhos. — Você decidiu que o que eu merecia era a solidão. Eu te procurei por meses. Eu construí a minha vida em cima da raiva e da dor que você me deu. Eu me tornei o Promotor que sou porque eu canalizei toda a minha paixão e frustração para o trabalho.
— Eu sei. E me perdoa por isso. — Helena se curvou, as lágrimas caindo silenciosamente. — Mas eu precisava protegê-lo de você.
— Eu nunca teria machucado meu filho.
— Você estava prestes a destruir a carreira dele, Daniel. — Ela levantou o queixo, defendendo sua decisão. — Você o odiou. E você só soube a verdade porque ele quase morreu. A minha escolha foi errada, mas não foi egoísta.
A honestidade entre eles era brutal, mas curativa. Daniel olhou para ela, e pela primeira vez, ele viu o sacrifício, não a traição.
— Eu não sei como vamos consertar dezoito anos, Helena. — Daniel disse. — Mas Lucas precisa de nós dois. Juntos. Não como amantes, mas como pais.
Helena estendeu a mão na mesa. Daniel hesitou por um momento, mas aceitou o contato, apertando sua mão. O toque não era mais romântico ou furioso, era um aperto de parceria.
— Eu estou disposta a tentar. — Helena disse. — Por ele.
Daniel assentiu. A guerra havia terminado. A trégua havia começado. Mas o perdão total e o amor... isso levaria tempo.