O Teste de Emergência

877 Words
A frase do médico ecoava na sala de espera: — O tipo sanguíneo do seu filho, Lucas, não é compatível com o seu, Doutor. Daniel (38) cambaleou para trás, a dor do ciúme e da traição se aprofundando. Ele não era o pai. Ele era apenas o t**o que ela abandonou e de quem ela continuava a rir. — Quem é o pai, Helena? Me diga! — A voz de Daniel era rouca, oscilando entre a fúria e o desespero. Helena (36) permaneceu sentada, a cabeça baixa. Ela tinha mentido sobre a incompatibilidade, inventando que "não sabia" para ganhar tempo. Mas o médico estava impaciente. — Doutora, não temos tempo para disputas pessoais! — O médico interveio, a voz profissional e firme. — O menino precisa de transfusão urgente. Sua condição está se deteriorando. Se não soubermos quem é o pai biológico, precisamos de um exame de DNA rápido para encontrar doadores compatíveis no banco de dados familiar mais rapidamente. A vida de Lucas (18) estava em jogo. A muralha de dezoito anos que Helena construiu desmoronou em um instante. O sacrifício não valia a morte de seu filho. Helena levantou a cabeça, e o olhar que ela dirigiu a Daniel estava carregado de uma dor antiga e da rendição. — Você. — Ela sussurrou, a palavra mais pesada que já havia proferido. — Você é o pai, Daniel. O silêncio na sala de trauma era ensurdecedor. Daniel olhou para ela, o choque congelando a fúria em seu rosto. — O quê? É outra de suas mentiras, Helena? Para tentar me manipular?! — Não! — Ela se levantou, aproximando-se dele, as mãos estendidas em súplica. — Ele nasceu um ano depois que eu fugi! Ele tem dezoito anos! Você tem que acreditar em mim, Daniel! Eu jurei que nunca iria te contar para que você pudesse ter a vida que eu achei que merecia! Foi Minha Escolha te dar liberdade! O Promotor Albuquerque, o homem de lógica e fatos, não conseguia processar a bomba. O garoto. O amante. O filho. — Você… você me abandonou grávida? E me deixou acreditar que eu era… que eu era o abandonado? — Daniel agarrou os ombros de Helena, a força dele quase dolorosa. — Você me assistiu no tribunal, acreditando que ele era o meu rival, o seu amante, e não disse nada?! — Eu não podia! Eu não podia arriscar que você destruísse o futuro dele no seu ataque de ciúmes! O médico tossiu, chamando a atenção. — Eu sei que a situação é delicada, mas precisamos de certeza. Promotor Albuquerque, se a Doutora está dizendo a verdade, o senhor tem que fazer um exame de DNA de emergência agora. Daniel soltou Helena. Sua mente estava em turbilhão, mas havia uma verdade simples que o forçava a agir: Lucas estava morrendo. — Eu faço. — Daniel disse, a voz quase inaudível. — Façam o que for preciso. Os minutos seguintes foram uma tortura. Daniel foi levado para a coleta de amostra, a máquina de alta tecnologia trabalhando com urgência. Helena permaneceu na sala, tremendo, ouvindo o som distante dos monitores de Lucas. Quando Daniel voltou, ele não olhou para Helena. Sua expressão era vazia, uma tela em branco de descrença e traição. O médico voltou em menos de vinte minutos, o rosto sério. Ele segurava um tablet com os resultados preliminares. — Promotor Albuquerque, Doutora Monteiro. Devido à urgência, conduzimos um teste rápido de identificação. Ele olhou para Daniel. — Seus tipos sanguíneos são incompatíveis, o que é comum em muitos casos de paternidade, mas o DNA... Ele fez uma pausa dramática. — O resultado preliminar da identificação genética confirma: a probabilidade de Daniel Albuquerque ser o pai biológico de Lucas é de 99,99%. Daniel estremeceu. As pernas falharam, e ele teve que se apoiar na parede. Ele sentiu o chão ceder. Lucas era seu filho. A raiva anterior não era nada comparada à torrente de emoções que o atingiu: a alegria avassaladora de ter um filho, a dor excruciante de dezoito anos perdidos, e a traição profunda de Helena por ter roubado a coisa mais preciosa de sua vida. — Dezoito anos. — Daniel olhou para Helena, e seus olhos estavam cheios de lágrimas de ódio e amor perdidos. — Você me roubou dezoito anos da vida do meu filho, Helena! — Eu sinto muito. Eu te amo. Eu sempre amei. — Helena se aproximou, mas ele recuou. — Não se aproxime de mim. — Daniel rosnou, a dor se transformando em um escudo frio. — Você fez sua escolha, Helena. E agora, você terá que viver com a minha. O médico interveio. — Promotor, agora que temos a confirmação, podemos acionar o banco de dados familiar. Precisamos de doadores compatíveis imediatamente. Daniel olhou para o corredor que levava à sala de cirurgia, onde Lucas lutava pela vida. A vingança podia esperar. A paternidade não. — Faça isso. — Daniel disse ao médico, sua voz firme. — Faça o que for preciso para salvar meu filho. E me leve para a sala dele. Ele deixou Helena sozinha, desabando na cadeira, sua escolha de dezoito anos desfeita por um teste de DNA. Ela havia salvado a vida de Lucas, mas tinha destruído a última ponte entre ela e Daniel.
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