Daniel (38) entrou na Unidade de Terapia Intensiva com a rigidez de um homem que caminha para a própria execução. O som constante dos monitores cardíacos e ventiladores era a nova trilha sonora de sua vida. Ele parou ao lado do leito.
Lucas (18) estava pálido, com a cabeça enfaixada e vários tubos conectados ao corpo. A semelhança era inegável agora, sob a iluminação fria do hospital. Não era o "jeito analítico" ou a coincidência; era o seu DNA.
O Promotor Albuquerque, implacável no tribunal, era apenas Daniel, um pai que olhava para o filho que nunca soube que existia.
As lágrimas que ele havia se recusado a derramar por dezoito anos vieram agora. Eram lágrimas de perda. Perda do primeiro aniversário, do primeiro dente, da primeira briga com a mãe. Dezoito anos de vida roubados por Minha Escolha de Helena.
Ele sentou-se na cadeira ao lado da cama. Ele queria tocar a mão de Lucas, mas estava com medo. O toque paternal parecia ser um direito que ele precisava reconquistar.
— Meu filho. — Daniel sussurrou, a voz carregada de uma dor que jamais sentira. — Por que ela fez isso?
Ele pensou na confusão. Ele achava que aquele garoto era o motivo da traição, o amante que ele deveria odiar. E agora, a verdade era uma revelação c***l: ele tinha gasto as últimas semanas tentando destruir o próprio filho por ciúmes. O acidente foi, de certa forma, sua culpa. A vingança dele havia ferido Lucas.
Enquanto isso, Viviane (34) chegou ao hospital. Ela estava furiosa por Daniel ter retirado a moção de ética e por ter sumido no meio do mandado. Ela o encontrou na porta da UTI.
— Daniel! O que significa isso? Você não pode simplesmente abandonar uma ordem judicial e um caso de evasão! E por que você está aqui com a Doutora Monteiro?!
Daniel se virou, e Viviane recuou. Seus olhos estavam vermelhos, e a frieza habitual havia sido substituída por uma vulnerabilidade aterrorizante.
— Você precisa ir embora, Viviane. — Ele disse, a voz sem emoção. — O caso PHOENIX está suspenso por enquanto.
— Suspenso? Por que, pelo amor de Deus? O que há com aquele garoto? A Doutora Monteiro usou a chantagem?
Daniel a encarou. A verdade era um veneno que ele precisava cuspir em Viviane, a mulher que o havia incentivado a destruir o filho.
— Não foi chantagem. — Daniel fez uma pausa. — Lucas não é o amante de Helena. Ele é meu filho. Biológico. O DNA confirmou.
Viviane ficou em silêncio. Seus lábios se moveram, mas nenhum som saiu. A informação era um colapso total. O garoto que ela viu como peça, o Promotor que ela via como prêmio, e a rival que ela queria destruir a relação entre eles era irrompível.
A raiva de Viviane transcendeu a ambição e o ciúme; tornou-se uma fúria destrutiva. O plano dela havia desmoronado. Se Daniel era o pai, a ligação dele com Helena seria permanente, inevitável.
— Essa é a maior manipulação que eu já vi! — Viviane gritou em um sussurro, chamando a atenção de uma enfermeira. — Ela mentiu por dezoito anos, usou o garoto para espioná-lo, e agora, quando ele sofre um acidente, ela inventa uma história para garantir que você não a processe!
— O DNA é inegável, Viviane. — Daniel apontou para a UTI. — Eu sou o pai.
Viviane viu seu futuro com Daniel, seu prestígio no escritório, descer pelo ralo. Seus olhos encontraram os de Helena, que estava sentada sozinha no final do corredor, encolhida. Viviane tinha um alvo claro agora.
— Eu vou expor vocês dois! — Viviane sibilou para Daniel. — Vou revelar que a Dra. Monteiro escondeu um herdeiro e que você tentou processar seu próprio filho!
Daniel pegou o braço de Viviane com força. — Você não vai tocar neles. Lucas é meu filho. E se você ousar expor essa história, eu garanto que sua carreira termina amanhã. O Promotor Albuquerque pode ser um pai traído, mas ele ainda é o homem mais poderoso desta Comarca.
Viviane se soltou e saiu do hospital, prometendo vingança em seu olhar. Ela não tinha mais nada a perder.
No final da tarde, Lucas finalmente abriu os olhos. O som dos monitores e a dor intensa eram o seu único guia. Ele viu Daniel.
Daniel estava curvado, com o rosto nas mãos. Ao sentir o movimento, Daniel levantou a cabeça. Pai e filho se olharam pela primeira vez sabendo a verdade.
Lucas tentou falar, mas a dor e o tubo o impediram. Ele tentou levantar a mão.
Daniel se aproximou, hesitante. Ele tocou a mão de Lucas, um contato gentil, temeroso.
— Não force, filho. — A palavra saiu pesada, real. Filho.
Lucas não conseguiu sorrir. Seu olhar estava cheio de perguntas, mas também de uma compreensão dolorosa. Ele se lembrou do diário. Ele tentou gesticular para Daniel.
— O que foi? — Daniel se inclinou.
Lucas, com esforço imenso, moveu a mão para formar uma palavra nos lábios. Ele formou a palavra: "Diário".
Daniel franziu a testa. — Diário? De quem?
Lucas repetiu, com mais clareza: "Mãe."
Daniel endureceu o semblante. O diário. Helena havia mantido um registro. Ele precisava encontrar aquele diário para entender a extensão da mentira.
Lucas, exausto, fechou os olhos. Daniel ficou sentado ali, segurando a mão do filho. O Promotor Albuquerque tinha sua primeira missão como pai: proteger seu filho e confrontar a mãe.
Ele saiu da UTI, encontrando Helena sentada ainda no mesmo lugar.
— Onde está o diário, Helena? — Daniel não pediu. Ele exigiu.
Helena o olhou, exausta, mas ainda desafiadora. Ela sabia que aquele diário continha o perdão, mas Daniel teria que encontrá-lo por conta própria.
— O que você faria se eu dissesse que ele foi destruído no acidente?
Daniel olhou para o ferimento no braço dele, ainda coberto de sangue. Ele sentiu o ódio reviver. Ele não podia confiar nela. Ele encontraria o diário, e então, faria a Minha Escolha final sobre o que fazer com a mulher que o havia roubado por dezoito anos.