Isabella Mendes
Senti a luz forte contra meu rosto e puxei a coberta para cobrir minha face enquanto ouvia um barulho de saltos batendo contra o piso amadeirado do meu quarto.
— Acorda, mocinha — Sílvia disse puxando minha coberta e eu me virei enterrando o rosto no travesseiro. — Você vai se atrasar, vamos, levante.
— Estou cansada — murmurei abrindo os olhos lentamente, me acostumando com a claridade.
— Eu disse para você ir dormir cedo ontem — Sílvia suspirou e eu me espreguicei bocejando — Bom dia.
— Bom dia. — Sorri sem ânimo e me sentei tomando coragem para levantar.
— Você tem... — ela olhou seu relógio de pulso — uma hora para se arrumar. Vou preparar a mesa do café, não demore. — Ela saiu do quarto deixando a porta aberta.
Deixando a preguiça de lado me arrumei para o primeiro dia de aula.
Quando estava saindo do quarto vi as mensagens que minha mãe mandara, toda nervosinha porque eu viajei para Nova Iorque sem a permissão dela.
Nem foi nada de mais!
"Seu pai está puto da vida, Isabella, você ficou mais de um mês sem atender nossas ligações"/Mãe
"Mãe, eu estava em outro país, a linha lá é horrível. Prometo que quando eu chegar do colégio te ligo, desculpa. Te amo"/Isabella.
"Também te amo, mas estou chateada"/Mãe.
Suspirei já prevendo a bronca que eu ia levar, meus pais são muito protetores. Quando eu quis vir morar aqui eles quase surtaram, só por um motivo me deixaram vir, motivo esse que eu não gosto de lembrar.
Peguei minha mochila e saí do quarto passando pelo corredor e descendo a escada até a sala, deixei minha mochila no sofá e me dirigi até a sala de jantar, ao lado da sala de estar, divididas apenas por uma estante de vidro que ia do piso ao teto.
— Bom dia, Isa. — Tio Alberto sorriu ao notar minha presença.
— Bom dia, tio. — Me sentei e peguei duas fatias de pão de forma fazendo um sanduíche de queijo.
— Eu já ia te chamar. — Tia Sílvia disse saindo da cozinha, ela segurava uma jarra de suco.— Posso? — Apontou para o meu copo e eu assenti, ela serviu e se juntou a nós para o café. — Está animada para o primeiro dia de aula? — perguntou.
— Nem tanto. — Balancei os ombros e eles riram.
— Já é o seu último ano na escola. No próximo você já começa a faculdade, não é? — Tio Alberto me olhou levando a xícara de café até a boca.
— Sim, senhor.
— Fico muito feliz que tenha decidido seguir a carreira do seu tio, ser uma advogada. — Minha tia sorriu e eu retribui.
Minha vida em São Paulo era simplesmente perfeita, eu morava em uma casa grande e luxuosa, vivia com meus tios que são pessoas maravilhosas, estudava na melhor escola da cidade e tinha os melhores amigos. Minha prima Lívia também morava conosco, mas a mãe dela vivia no Rio assim como meus pais. Lívia é de fases, tinha meses que ela ficava por ali e outros que ela ia para lá, ela não parava em um lugar. Já eu gostava muito de São Paulo, era mais calmo e tranquilo, diferente do lugar que minha família mora.
— Bom dia — Lívia murmurou tomando o assento na cadeira ao meu lado.
— Bom dia.
— Que horas a senhorita chegou ontem? Eu vi Isabella chegar, mas não vi você. — O tio encarou a Lívia e ela deu um sorrisinho murcho.
Depois que chegamos de viagem ontem eu vim direto para casa, pois precisava organizar umas coisas para o primeiro dia de aula, enquanto a Lívia resolveu ir para a casa do Willian matar a saudade.
— Cheguei perto da meia-noite, estava com o Willian — ela disse e o tio assentiu.
Tio Alberto nunca nos proibiu de fazer nada, ao contrário, ele sempre nos incentivou a aproveitar todo o tempo fazendo todas as loucuras que a gente quisesse, esse é um dos motivos pelo qual gosto de morar aqui, não me sinto pressionada.
— Vamos meninas, está na hora!— Tio Alberto se levantou e eu terminei de beber meu suco fazendo o mesmo.
Despedimo-nos da tia Sílvia e saímos de casa adentrando o carro, Lívia foi na frente com tio Alberto, que dirigia, e eu tomei o banco traseiro. Chegamos no colégio às 07:04.
— Se comportem, eu amo vocês. — O tio beijou nossos rostos e saímos do carro após desejarmos um bom trabalho para ele.
— Olá, senhoritas Mendes! — um garoto do segundo ano disse assim que entramos pela portaria.
— Bom dia, Rodrigues. Você está um gatinho hoje, pena que eu já tenho namorado — Lívia disse debochada e eu neguei com a cabeça. — Até o intervalo, Isinha. — Ela beijou meu rosto quando passamos pela porta da sala dela.
— Até, Liv. — Acenei e segui até minha sala que ficava no fim do corredor, as pessoas falavam comigo e eu só acenava sorrindo.
Entrei na minha sala e me sentei no mesmo lugar do ano passado: fileira do meio, quarto lugar. Logo os alunos foram adentrando a sala e tomando seus lugares até que o professor adentrou a sala e iniciou aquela rotina de primeiro dia.
...
— Eu não aguentava mais essas aulas insuportáveis — eu disse e Lívia riu concordando.
— Meu professor de geografia é muito chato, cara! — Ela revirou os olhos e nos levantamos do banco, que ficava em frente a escola, assim que vimos o carro da tia Sílvia se aproximar.
— E então, como foi o primeiro dia? — Ela perguntou dando partida e nós respondemos com um "normal". — Passei no salão para fazer o cabelo e avisei ao tio de vocês que ia vir busca-las.
Chegamos em casa e entramos. Ouvimos algumas vozes vindas do escritório e eu estranhei, não me lembrava de que teríamos visitas para o almoço hoje.
— Deve ser algum cliente importante. — Tia Sílvia disse. — Vou preparar a mesa do almoço. — Ela caminhou até a cozinha fazendo seus saltos emitirem um barulho ao baterem no piso de madeira.
— Que tal a gente chamar a Mari e o Will para sair? — Liv sugeriu e eu sorri gostando da ideia.
— Vou me arrumar, quem chegar por último no quarto paga o táxi — eu disse e corremos desesperadas subindo a escada.
— Você paga! — Lívia gargalhou batendo a porta do quarto.
— Que saco! — murmurei fechando minha porta e joguei a mochila na cama.
Tomei um banho rápido e me arrumei, já estava pronta quando bateram na porta do meu quarto.
— Entra — eu disse e me virei vendo quem eu menos esperava apoiado no batente da porta do meu quarto. Ele estava sorrindo de um jeito misterioso, como sempre exalava autoridade e imponência. — Pai?
Meu coração acelerou e eu soube que aquela não era uma simples visita. Dava para ver nos olhos dele.
— Como vai, filha? — Leandro sorriu e cruzou os braços. — Hora de voltar para casa.
Ah, não...