Isabela Mendes
No dia seguinte segui a rotina normalmente, fui à escola e retornei para casa com a Karol.
— Até amanhã. — Karol acenou subindo a rua. — Vai lá em casa qualquer dia.
— Vou sim! — Sorri acenando de volta e entrei fechando o portão.
Encontrei minha mãe e minha irmã sentadas no sofá assistindo
— Estamos te esperando para saber se você quer ir ao shopping com a gente — minha mãe disse ao me ver entrar.
— Tudo bem, só vou tomar um banho — eu disse subindo a escada.
— Não demora, Isabella — mamãe gritou.
…
— Vamos? — chamei pulando o último degrau da escada e elas se levantaram do sofá.
— Não vejo a hora de comprar umas blusinhas novas — Juliana estava animada.
— Preciso fazer uma limpeza no meu guarda-roupas, tem peças que nem me servem mais — eu disse entrando no banco traseiro.
Juliana entrou no motorista e mamãe ao lado dela.
— Você pode doar o que não for mais usar para a organização de caridade do Alemão — Ju disse colocando o cinto e eu balancei a cabeça.
— Ótimo, vou fazer isso depois.
Demorou uma eternidade para chegarmos ao shopping, o trânsito estava horrível e para piorar a Juliana era uma negação no volante. Nossa mãe gritava para ela meter o pé no acelerador e a Juliana gritava de volta dizendo que era recém habilitada, uma loucura total.
Quando enfim chegamos ao shopping, mamãe disse: — Eu vou comprar umas roupas para o pai de vocês, por que não vão naquela loja de blusinhas? — e saiu andando antes que a gente falasse algo, de certo ela queria dar um tempo para minha irmã e eu conversarmos.
— Tem alguma novidade para me contar? — perguntei e a Ju me olhou como se estivesse avaliando se podia confiar em mim ou não.
Por fim ela decidiu que sim, podia confiar em mim.
— Eu tenho um namorado. — Ju balançou os ombros pegando uma blusa de alcinhas transparente. — Mas o pai não sabe, na verdade ele nem desconfia. — Ela riu sem ânimo.
— A mãe sabe? — perguntei e ela assentiu. — Por que não conta para o pai?
— Meu namorado é muito novo para morrer — ela disse e acabou rindo junto comigo. — Não conta para ele, por favor.
— Não vou contar, sou boa em guardar segredos — falei procurando por uma peça que me interessasse e ela assentiu. — Não gostou muito que eu tenha voltado, não é?
— Por que você está falando isso, Isabella? — Juliana se virou me encarando. — Você é minha irmã, é claro que gostei!
— Vamos ser honestas, Ju.
— Não que eu tenha ficado chateada por você ter voltado, mas confesso que sinto um pouco de ciúmes, sabe. O pai vivia falando de você, que sente a sua falta, do quanto queria que a caçulinha dele estivesse com a gente. Ele sempre falava de você, o tempo todo. — Ela suspirou voltando a me olhar. — E eu me sentia...
— Deixada de lado? — Ergui as sobrancelhas e ela assentiu. — Não se sinta assim, Ju. Você sabe que o pai ama a nós três igualmente, ele só falava de mim o tempo todo porque eu estava longe — eu disse e ela sorriu sem jeito.
— Eu sei, é bobagem — Ju pegou na minha mão. — E sendo totalmente honesta, eu realmente gostei que você tenha voltado para casa. Eu senti falta da minha irmãzinha.
— Eu também senti sua falta. — Abracei a Juliana e ela beijou meu cabelo com carinho.
Juliana e eu nunca fizemos o tipo “irmãs grudadas”, na verdade eu era bem mais próxima do Jhow do que dela. Juliana sempre foi mais reservada, mais quietinha, enquanto meu irmão e eu éramos super elétricos e bagunceiros. Começamos a nos aproximar na adolescência, quando já tínhamos interesses em comum, foi nessa época que me mudei e não conseguimos fortalecer nosso laço.
Fizemos compras, almoçamos e demos algumas voltas no shopping com a nossa mãe. No fim da tarde acabamos voltando para o morro, mas antes passamos na casa da tia Thaís, a mãe da Lívia.
— Não faz nem uma semana que você veio embora e Lívia já quer vir também — tia Thaís disse. Estávamos na sala de estar do apartamento dela. — Meu irmão está muito triste por você ter vindo.
— Imagino, tia — falei com meus pensamentos voltados ao meu tio Alberto, tadinho, ele gostava tanto de ter a Lívia e eu perto dele.
— Deus há de fazer um milagre e eles vão ter um filho para preencher esse vazio. — Mamãe suspirou e tia Thaís balançou a cabeça.
— Tomara, Jessyca, tomara. Alberto e Silvia já estão casados há mais de dez anos e nunca conseguiram ter um filho, nem os tratamentos resolveram.
— Incrível, né Thaís? A gente só sentou uma vez e pronto, já saiu grávida — minha mãe disse e a tia gargalhou.
Juliana me olhou e negamos com a cabeça rindo.
— Depois que eu tive a Lívia nunca mais quis saber de fazer essas coisas, eu hein! — Thaís gargalhou.
— Você nunca foi em um baile, né? — Ju sentou ao meu lado, um pouco afastado das "adultas".
— Em bailei do Alemão eu fui só uma vez, você lembra? — perguntei e ela riu assentindo.
Quando a gente era menor, nosso pai não nos deixava ir aos bailes e nem às festas que tinha no morro, ele só foi deixar depois dos nossos dezesseis anos, e mesmo assim eu nunca fui, só a Ju. Uma vez, eu tinha doze anos e a Ju tinha quatorze, nós dissemos que íamos dormir na casa da Karol com a Lívia, mas na verdade nós quatro fomos para o baile escondidas, um segurança viu a gente no meio do povo e contou para o Leandro, então fomos obrigadas a voltar para casa com meu pai gritando com a gente no meio da rua, foi vergonhoso.
— Não tem como esquecer, ficamos de castigo por quase dois meses!
— As vezes eu sinto saudade de como éramos antes...
Antigamente éramos um quarteto: Karol, Ju, Liv e eu, primas inseparáveis, sempre juntas. Minha mãe dizia que éramos as protegidas do Alemão.
— Podemos voltar a ser. — Ju tocou meu braço. — Você só precisa largar essa marra de patricinha.
— É difícil, estou acostumada.
— Tudo bem, eu posso te ajudar, só me desculpe se você ficar favelada demais — ela disse e eu gargalhei.