Capítulo 4

1813 Words
Isabella Mendes Acordei seis horas com o bendito despertador gritando. Que saudade da tia Sílvia me acordando de manhã. Levantei da cama confortável e fui direto para o banheiro fazer minha higiene matinal e tomar um banho, após isso retornei ao quarto com a toalha enrolada no corpo e abri o guarda-roupas. Meus pais me matricularam no colégio do morro onde a Karol estuda, eu não conhecia ninguém de lá. Quando era mais nova estudava em um colégio fora da comunidade. Vesti uma calça jeans escura e a blusa branca do uniforme, muito brega, mas não tinha o que fazer. Assim que terminei de me vestir, me sentei em frente a penteadeira e comece a secar meu cabelo para depois fazer uma maquiagem simples. Ao terminar, peguei minha mochila e desci a pequena escada que levava até a sala. Trombei com meu pai que vinha da cozinha. — Bom dia — ele disse passando por mim. — Bom dia — eu disse colocando minha mochila no sofá. — Cadê todo mundo? — Dormindo — Leandro respondeu. — Vai tomar café, daqui a pouco a Karol passa aqui para vocês irem juntas. — Está bem. — Balancei a cabeça. Meu pai me olhou e coçou a barba, parecia um tanto sem jeito. Por fim ele suspirou e perguntou: — Você ainda está chateada comigo, Isa? — Não, já passou — respondi. Lá no fundo eu ainda estava um tantinho chateada por ser forçada a voltar para o Rio, mas sabia que meu pai só fazia o que ele acreditava ser o melhor para mim. Por isso não fazia sentido ficar brava com ele ou ficar remoendo isso. — Estou feliz que você esteja em casa, Isa. De verdade, é a primeira vez em muito tempo que estamos todos juntos, estou feliz por isso. — Papai sorriu, os olhos brilhando em sinceridade. — Eu também estou feliz por estar em casa, pai. Leandro se aproximou e beijou minha testa. — Tenha uma boa aula. Eu amo você, minha caçula. — Eu também te amo. Bom… trabalho, pai — falei hesitante e ele respondeu um "valeu" antes de sair pela porta de madeira da sala. Assim que terminei o café da manhã, escovei os dentes e fiquei sentada no sofá esperando minha prima. Minutos depois ouvi a voz dela gritando meu nome lá fora e sai de casa com minha mochila no ombro. Respirei fundo e empurrei o portão pesado de ferro para o lado, dei de cara com a Karol. — Bom dia — ela disse rouca. Karol estava com a cara amassada de sono, mas parecia bem disposta. — Bom dia, Ka — respondi ajeitando minha mochila nos ombros e ela entrelaçou nossos braços me puxando para descer a rua. — E então, como é esse colégio? — Normal. — Ela deu de ombros. — Tem gente chata, aulas chatas e professores chatos — disse enquanto passávamos por um beco perto de casa e eu assenti. — Normal mesmo — concordei e ela riu. — Eu sei que é tudo novo para você — Karol disse um pouco mais séria. — Confesso que há três meses quando eu voltei de Recife foi difícil, eu estava acostumada a levar uma vida mais tranquila e deixar tudo para trás foi horrível. Mas com o tempo, assim como eu, você vai perceber que aqui é um bom lugar para morar, são nossas raízes. — Ela sorriu e eu balancei a cabeça compreendendo. — E não se preocupe, não vou te deixar de lado, estamos na mesma sala. Vou estar contigo o tempo inteiro. — Obrigada, Karol. Passamos por algumas ruas até chegar em uma que ficava quase na entrada da favela, muitos adolescentes estavam ali com seus grupinhos conversando ou ouvindo música em caixinhas de som altas, era totalmente diferente do meu antigo colégio. — Eles são bem animados, né? — murmurei e a Karol riu. — Vai se acostumando, é disso para pior. Alguns minutos depois o portão de entrada foi aberto por um inspetor, nós entramos e seguimos para nossa sala em meio aquela multidão de alunos barulhentos. E então começaram as longas aulas, ainda bem que estava no começo do ano e ninguém prestou muita atenção em mim, até porque a Karol me disse que ninguém sabia que a filha mais nova do Andro voltou. Era melhor assim, eu não queria que as pessoas levantassem aquela história antiga novamente. ... — Passo aqui amanhã de novo — Karol disse beijando meu rosto assim que chegamos no portão da minha casa. — Está bem. — Como foi o primeiro dia? — minha mãe perguntou ao me ver passar pela porta da sala. — Bom, normal — respondi deixando a mochila escorregar pelo ombro. — Vai se trocar e desce para almoçar — ela mandou e eu assenti subindo a escada. Trombei com uma garota no corredor, era alta e tinha um longo cabelo preto. — Quem é você? — perguntei e ela me olhou de cima a baixo antes de dar um sorriso. — Meu nome é Adriele, mas pode me chamar de Drica — disse vindo me abraçar e eu estendi minha mão para cumprimentá-la. — Prazer, Isabella — falei e ela apertou minha mão com um sorriso forçado… — Quem é você? — repeti. Nunca vi essa criatura na minha vida. — Namorada do Jhonatan, sua cunhada. — A tal Adriele sorriu convencida e eu ergui a sobrancelha. — Sério? Meu irmão não me contou que tem uma namorada. Mas foi bom te conhecer, Adriele. Se você me der licença… — Sorri para ela e entrei no meu quarto. Não gostei muito dessa garota. E ninguém me falou dela. Troquei de roupa e prendi meu cabelo em um r**o de cavalo. Organizei algumas coisas no meu quarto e deixei meu material pronto para estudar depois. Desci para a cozinha e encontrei meu irmão, a Adriele e minha mãe almoçando, os três conversando animados. Me servi da macarronada e me sentei, dei a primeira garfada saboreando a comida deliciosa. Minha mãe é uma cozinheira péssima, então ela sempre comprava comida dos restaurantes da comunidade. Quando eu era criança acreditava que era minha mãe quem cozinhava para a gente, só descobri que a comida era comprada quando fiquei maiorzinha e minha mãe me levou junto para comprar o almoço, me senti enganada. Eu estava comendo em silêncio e sentindo os olhares da Adriele sobre mim. — Vocês já se conheceram? — Jhow perguntou e eu assenti. — Vocês namoram há quanto tempo? — perguntei colocando a última garfada de comida na boca. — Quase três meses — Adriele respondeu antes que meu irmão pudesse abrir a boca. — Você nunca me disse nada, Jhow. — A gente sempre acabava conversando sobre outras coisas e eu me esquecia de contar. — Meu irmão balançou os ombros. — Ah, sim — murmurei me levantando. Lavei meu prato e coloquei no escorredor de louças. — Eu vou encontrar algumas amigas, amor — Adriele disse se levantando da mesa. — Quer ir comigo, Isa? Quem deu i********e para ela, gente? Eu hein. — Não, obrigada — eu disse secando as mãos no guardanapo. — Por que você não vai, filha? É bom respirar um pouco de ar puro, conhecer pessoas… — mamãe disse. — Eu preciso estudar, mãe. Vou subir. Subi para o meu quarto e me sentei na cadeira da escrivaninha, eu tinha muita coisa para estudar e já perdi uma semana de estudos enquanto estava envolvida no meu drama particular. Ainda bem que o professor, que o tio Alberto contratou ano passado para ser meu mentor e da Lívia na preparação para o vestibular, aceitou mudar as aulas presenciais para online, se não eu estaria perdida com essa mudança de cidade. Ele havia me dado uma semana de "folga" dos estudos para que eu me organizasse e hoje iremos começar o ano de mentoria. E se tudo desse certo, Lívia e eu estávamos preparadas para o vestibular até o fim do ano. — Isa? — Jhonatan bateu duas vezes na porta. — Sim? — Girei a cadeira virando para ele. — O que você achou da minha namorada? — Ele se sentou na minha cama. — Sinceramente? — Encarei seu rosto e ele assentiu. — Ela não me inspirou muita confiança, mas pode ser que eu esteja equivocada. — Dá uma chance para ela te mostrar que é uma pessoa bacana, beleza? — Ele sorriu e eu suspirei levemente. — Está bem, por você. — Bate aqui, nanica. — Jhonatan ergueu a mão e eu revirei os olhos batendo nela. — Vou deixar você estudar em paz. — Ele beijou minha testa e sorriu antes de sair fechando a porta. Aceitei a chamada da Lívia e logo a cara dela apareceu estampada na tela do meu notebook. — O que você fez, Lívia Mendes? — perguntei chocada. — Gostou? — Lívia balançou a cabeça fazendo seus fios curtos se moverem. Ela havia pintado o cabelo de loiro com as pontas verdes. — Gostei, ficou lindo! — Apoiei o rosto nas mãos. — Mas você para de tacar química nesse cabelo, hora ou outra cai tudo. Lívia riu. — Olha quem está aqui — Lívia disse e o namorado dela apareceu atrás dela, se curvando para aparecer na tela. Ele estava só de cueca, com aquelas pernas de palito aparecendo. — Será que não dá para você colocar uma roupa, Willian? — eu disse. O loiro riu e me mandou um beijo. — É bom te ver também, priminha — ele disse debochado. — Olha o professor aí, some Willian — Lívia disse quando a chamada do professor apareceu. Willian mandou um tchauzinho e sumiu da tela. — É agora que a gente veste nossa máscara e finge que somos alunas aplicadas? — Sim. — Dei risada. Aceitamos a chamada do professor e ele apareceu na tela. Depois da aula o professor se despediu e encerrou a chamada, a Lívia e eu continuamos conversando enquanto resolvemos um monte de exercícios sobre matéria que estudamos. — É muito chato sem você aqui, Isa. — Lívia disse toda murcha. — Sinto muito a sua falta. — Eu também, Liv. — Coloquei a mão na tela e ela fez o mesmo. — E nossos tios? — Estão bem, mas estão morrendo de saudades de você. O tio fica olhando para o seu lugar na mesa enquanto comemos, é triste. Meu peito apertou. Tio Alberto era como um pai para mim e eu sentia muita falta dele. — E o colégio? — mudei de assunto, não queria ficar triste. — É insuportável ter que explicar para todos que você precisou se mudar. — Lívia revirou os olhos. — Tem muito curioso naquela escola. Dei risada e continuamos falando sobre vários assuntos aleatórios. Quando encerramos a chamada já eram quase sete da noite.
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