Capítulo 3

1283 Words
Isabella Mendes É tão estranho voltar ao lugar que você foi criada após certo tempo. Tudo acaba se tornando tão novo, como se fizesse séculos que você foi embora. A verdade é que no período em que morei na capital paulista, tentei me esquecer das minhas raízes e obriguei minha mente a acreditar que eu jamais voltaria para cá, me enganei totalmente. Minha estadia na casa do meu tio foi a imagem de "vida perfeita e completa" que eu mesma criei e apliquei. A pior enganação é aquela que nós mesmos criamos e acabamos acreditando de propósito. Implantei na minha cabeça que era tudo perfeito, quando, na verdade era uma mera ilusão. O teto branco já estava se tornando entediante, eu passei a maior parte do tempo dos últimos seis dias olhando para ele, ja éramos até amigos, pelo menos ele ainda não desabou na minha cabeça. Enquanto eu estava fora minha mãe havia reformado a casa e trocado todos os móveis, era tudo diferente do que eu me lembrava. Quando eu saí daqui, com meus quatorze anos, estava naquela fase de adolescente rebelde e revoltada, meu quarto era pintado de roxo escuro e a maioria dos móveis era rabiscado com frases e desenhos feitos de caneta permanente preta. Deixei de encarar o teto e me sentei na cama suspirando e olhando ao redor, tentando me lembrar de quatro anos atrás, o que era difícil já que o quarto mudou completamente depois da reforma. Agora ele tinha as paredes pintadas de um rosa-claro, a janela e a porta eram brancas e os móveis também. Assim que você passa pela porta é possível ver minha cama de casal que fica no meio do quarto, uma mesinha de cabeceira, um guarda-roupa grande ao lado da porta e uma penteadeira parecida com uma cômoda perto da janela, estava tudo assim quando eu cheguei. Meu pai me deu dinheiro para que eu pudesse comprar o que quisesse para deixar o quarto do meu jeito, só comprei uns enfeites e um tapete lilás grande e fofinho. É claro que para mim era estranho estar nesse novo quarto, afinal eu já estava acostumada com o da minha casa em São Paulo, mas esse é bem aconchegante também. Quando cheguei aqui fui bem recebida pela minha família, meu pai acabou me pedindo desculpas por praticamente me forçar a vir embora, mas disse que precisava de mim por perto. Minha mãe me recebeu calorosamente e me deu total atenção. Meu irmão Jhonatan era o que eu mais sentia falta, desde criança a gente era grudado, ele ficou todo emocionado por eu voltar, já minha irmã Juliana tentou ser o mais simpática possível, mas eu sabia que ela preferia que eu tivesse ficado com meu tio, afinal ela sempre teve ciúmes de mim com nossos pais. Eu já estava sentindo saudade dos meus tios, da minha prima, dos meus amigos e de tudo. Por mais que eu estivesse feliz por estar com a minha família novamente, não conseguia deixar de sentir falta da vida que deixei para trás. Peguei minha toalha pendurada na cadeira da penteadeira e a joguei no ombro saindo do quarto e entrando no banheiro que ficava no fim do corredor. Tomei um banho rápido e retornei ao meu quarto para me arrumar, após estar pronta me posicionei em frente ao espelho perto da janela e tirei uma foto para postar nas redes sociais. Estava muito calor, eu nem me lembrava de como era o clima carioca, calor terrível mesmo, graças ao pai eterno haviam instalado ar condicionado na casa toda depois da reforma, se não fosse por isso eu já teria derretido. — Ô Isa, a mãe está chamando você para descer — Juliana disse se encostando na porta do meu quarto, que estava aberta. — Obrigada, mas eu estou bem aqui — eu disse prendendo meu cabelo em um coque, mesmo que não fosse adiantar, logo os fios loiros se soltariam. — Hoje é domingo, mana, geral vem aqui almoçar. Desce que tem umas pessoas querendo te ver — Juliana disse e se virou saindo do quarto. — Ninguém merece — murmurei baixinho e passei a mão na testa limpando uma gota de suor. Suspirei e coloquei meu celular no bolso calçando minha chinela, saí do quarto e passei pelo corredor, que tinha dois quartos de cada lado e o banheiro no final. Desci a pequena escada que dava na sala e já vi minha mãe conversando com uma mulher loira, que eu bem conhecia. — Tia Bia! — Abri um sorriso enorme. Ela se virou e deu a volta no sofá vindo me abraçar. — Como você está linda meu amor! — A loira beijou meu rosto e segurou meus ombros para me analisar. — Olha como você cresceu, nem parece a bebê que a tia trocou as fraldas. — Você está linda também, não mudou nada. — Obrigada, meu amor. Karolina e Bruno, venham dar um beijo na prima de vocês — ela gritou e os dois entraram pela porta de madeira que dava na área da piscina. — Essa não é minha prima não, eu lembro de uma pirralha feia e magrela — Bruno disse me envolvendo em um abraço apertado e me tirando do chão. Me faltou o ar, que isso meu Jesuizinho? O menino estava uma delicinha! A pele bronzeada, o corpo definido, o cabelo perfeitamente cortado e o perfume que me inebriou. — Idiot*! — gargalhei e ele me soltou dando espaço para a Karol me abraçar. Ela também estava maravilhosa. Era uma loira de farmácia como eu, alta e esbelta. Eles não eram meus primos de sangue. Na verdade, a mãe da tia Bia e o pai da minha mãe eram casados há uns vinte anos, então minha mãe e tia Bia se consideram irmãs. — Menina você está tão linda, parece aquelas blogueiras. — Karolina pegou na minha mão me fazendo dar uma voltinha. — Eu pensei que vocês ainda estavam em Recife, quando eu fui embora vocês já tinham se mudado — eu disse e tia Bia sorriu negando. — Voltamos não tem nem três meses, seu pai precisa da ajuda do Edu aqui — ela disse e eu assenti compreendendo. Convivi até meus dez anos com eles, mas o tio Eduardo deu uma pausa em tudo e foram morar em Recife. Depois que me mudei para São Paulo não mantive contato com quase ninguém. — A gente ia vir te ver antes, mas a tia Jessyca disse que você estava um pouco antissocial. — Karol fez aspas com os dedos e eu olhei para minha mãe. — Ué? Mas você estava! — Minha mãe deu de ombros e eu acabei rindo. Eu realmente estava. — Chega de papo, bora almoçar — Bruno disse apontando para a mesa cheia de comida que estava perto da piscina. — Você tem se alimentado bem? Está parecendo meio fraquinha — tia Bia disse me puxando para fora da sala até a mesa do almoço e eu dei risada. — Isabella, minha sobrinha! — Tio Edu deixou a churrasqueira de lado e veio me abraçar. Ele riu antes de me soltar e beijar meu cabelo. — Você está tão crescida, não se parece em nada com a menininha que conheci. — Minha filha está grande mesmo e muito bonita! — Meu pai se gabou, orgulhoso. O almoço em família foi incrível, ainda mais após a chegada da tia Thais, mãe da Lívia. A sensação de estar reunida com eles novamente foi deliciosa, e então eu percebi o quanto sentia falta daqueles domingos animados e com a casa cheia. Talvez minha volta para o Rio de Janeiro não tenha sido tão r**m assim...
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