CAPÍTULO 3 - RICK

1687 Words
Eu bato palma de pé com o fim trágico de Titanic, eu coloco a caixa de lenço de lado, encaro o sorvete de flocos já derretido e a barra de chocolate meio amargo. Nada fora de um ritual depressivo e desanimado. Eu poderia listar os filmes que eu poderia ver mil vezes e chorar mil e uma vez. Titanic era um deles. Eu gostava tanto desse filme, mas tinha uma opinião formada de uma personagem. A principal. – Você é uma palerma Rose, ele cabia aí nesse pedaço de madeira, sua mocreia egoísta – Eu suspiro fundo, revoltada pelo fim descrente de j**k. – Relaxa flor, respira fundo – Fico parado. – Você vai ficar bem. Quando eu tinha quatorze anos, eu fugi de casa, pra ir em uma festa. Era meu primeiro encontro com um garoto, eu lembro que eu sentia borboletas no estômago, sentia as mãos geladas. Era a típica garotinha preste a dar o primeiro beijo, só que dessa vez era um beijo com um garoto, Madson estava comigo, lembro que foi a noite mais confusa da minha vida depois que beijei um cara, porque ele me mostrou um mundo que antes eu só sentia, mas que podia tocar e ter. Senti o corpo enrijecer com a presença daquele cara, isso mesmo, um cara mais velho que eu, estava na universidade, era metido e cabelinho em pé, mas era assumido para me pegar. Ele era uma mistura de gostoso com delícia, embora eu fosse, na época, considerado uma flor desabrochando, como dizia Madson, que era portadora do meu segredo vital. Beijar ele foi como reviver a minha primeira moeda debaixo do travesseiro que a fada do dente me deixou. Eu sei, a metáfora é uma porcaria. Quero chegar na surpresa, não estou falando do um dólar deixado debaixo do travesseiro, não, não é isso. Mas pensando nisso me faz lembrar meu dente que caiu, meu pai havia tirado na marra, eu chorei f**o no dia, havia muito sangue. Eu também não sabia que mamãe colocaria uma moeda, ela fez isso com minha irmã, mas não sabia se faria comigo por eu ser um garoto. Mas ela fez. E eu lembro da alegria eufórica dentro de mim, da surpresa e da felicidade. Foi isso que senti no meu primeiro beijo. Essa surpresa e essa felicidade explosiva. Um beijo estalado e bom, mas eu parecia um desentupir de pia, eu admito, sem vergonha nenhuma. Rick, o boca desentupidora. O carinha riu e disse, me olhando nos olhos: Não precisa ir tão rápido, temos a noite toda. Se eu usasse calcinha naquela época, não que eu use hoje, ela estaria toda molhada na época. Mas eu usava cueca e não, eu não fiz sujeira. Ainda tinha traços da minha ingenuidade e inocência totalmente intactas. Quando íamos nos beijar, eu acabei esbarrando em uma menina, uma menina nova, da minha idade e do meu colégio, da sala vizinha, filha do senador, o mesmo que na época estava metido em um escândalo e estava prestes a anunciar as eleições no próximo ano para governador. E quando ela ergueu os olhos, eu vi a revolta nela, por alguns instantes ficamos nos olhando, como se nós entendêssemos, eu olhei para ela, ela me encarou, esperando que eu brigasse com ela pelo momento inoportuno, mas quando eu ergui o olhar para trás, eu vi dois brutamontes. E naquele momento eu me coloquei na frente dela. Aquela garota precisava de ajuda, estava nervosa assim como eu, eu de alguma forma tive uma ligação de outro planeta com ela. Pode ser Deus ou o destino, tanto faz, mas o fato é que eu estava lá, ela estava lá. Os homens tentaram passar por mim pra pegar a garota, mas o boy magia ficou do meu lado – isso foi uma das razões que me apaixonei ainda mais por ele –, e quando menos esperei, a confusão se formou, Madson apareceu bem depois, correndo com a gente daquele lugar, os brutamontes não queriam conversar, queriam a garota que corria para longe com a gente. Era quase como o trio perfeito, correndo uma maratona completa. Quando paramos, estávamos casados, nossas pernas pareciam gelatinas. Naquela noite, eu conheci outra pessoa importante. Ellana Chase Colin, que hoje é conhecida por Ellen Colin, sem vínculos com o falecido pai. E porque dessa história toda pra chegar nela? Porque ela não está aqui para compartilhar essa bad do c*****o comigo, estou de pijama, sozinho nesse apartamento, querendo ser o roteirista do filme. Eu mudaria o final, colocaria j**k para buscar ajuda, mas não voltaria a tempo de ser resgatado, só no navio de resgate eles se encontrariam, pegariam aquele colar e iriam para Vegas. Sim. Quem nunca quis ir em Vegas, a cidade que nunca dorme. Suspiro. As pessoas querem ver reencontros, momentos fofos e safados – Acham que não foi uma jogado o do desenho de Rose? –, romance, pureza, a dama e o vagabundo, s**o ousado. Embora na realidade é tudo diferente. A vida devia seguir um pouco a ficção e não o contrário. Encaro o relógio na parede, os dois telefones estão fora do gancho, o celular está jogado dentro do armário dentro do feijão, desligado. Eu penso em ir atrás de Ellen pra pedir colo, mas ela deve estar em um colo já, com o belo noivo. Minha amiga havia encontrado alguém que morreria por ela, literalmente falando, alguém que iria por ela no inferno, que assumiu a responsabilidade que por seis anos ela manteve a ferro e fogo. E eu ficava feliz, embora o cretino a tirou de mim, tirou meu filho nascido em um útero vizinho. Tiro as coisas da tomada e o silêncio do apartamento me pega. Solidão. Vejam, aqui é onde pensamos em ter alguma pessoa pra dividir as coisas com a gente. – Está sozinho – Sussurro e quando penso em me mexer a campainha toca, fico parado. – Amanhã você vai parecer um cachorro correndo com a língua para fora - Pego as duas notas para o entregador, eu esperava que meu pedido estivesse bem gostoso, me mexo, enquanto a campainha toca de novo. – Já vai! Pego as pantufas e me mexo. Quando abro a porta, eu paro de abrir ela no meio do caminho, eu pisco algumas vezes, antes de tentar fechar a porta e o pé com o sapato preto lustrado se coloca na frente, diversas imagens passa pela minha cabeça, pisar no pé dele e uma delas,fechar a porta e a segunda. – Oi – Ian fica parado, o terno está no antebraço, a camisa sem a gravata e a calça bem arrumada, fico parado, sentindo aquela coisa chamada raiva. – Você não pode atender quando eu ligo, Rick? Ele está sendo autoritário. Vamos reformular. Ele está sendo autoritário na porta da minha casa. Quem esse infeliz pensa que é? – Estava ocupado – Ele desce o olhar. – Vejo como, belo pijama aliás. Me sinto desprotegido com a calça cinza e depois a camiseta escrita "eu me amo". Amor próprio é tudo. – Pensei que já tivéssemos tratado de tudo no fim desta semana. – Você não apareceu na sexta e nem ontem para reunião de pauta, Ellen cobriu você, mas não era você. Senti sua falta. – Sim, eu estava indisposto. Cólica, coisa de mulher, sabe como é, estava naqueles dias, está sendo h******l – Ele sorri, pelos céus, ele tem que ser tão bonito e gostoso, tão atrativo? – Gosto do seu senso de humor. – Eu também, mas eu não gosto de você parado aqui na minha porta. – Está esperando alguém? – Talvez – Brinco com a cara dele, ele fica parado, me encarando estático. Uma coisa que eu sabia sobre ele, era sobre o ciúme, ele era ciumento, se algo era dele, se ele considerasse dele, ele mostrava o quanto dividia, sem ironia, ciumento ao nível de saturno. – O que quer? Não tenho tempo pra você – O ocupado falando, penso. – Eu preciso conversar, pensei que... – Não vou deixar você entrar. – Por favor. – Da ultima vez você fez isso, você também queria conversar. - Conversamos. - Sem roupas. - Rick... -Eu não vou terminar em uma cama com você de novo. Sou uma flor que precisa de descanso, meu sono de beleza – Noto a barba por fazer e o modo que ele olha para os lados e dá um suspiro. Ian nunca ficou com a barba assim, os olhos sem brilho e o modo inexpressivo. Richard Ramires, pare aí, sua gazela infame. Não suavize para o lado dele. Ele é o causador dos próprios problemas. A maioria deles. – Eu acho que fiz uma besteira – Arqueio uma sobrancelha surpreso. Barba por fazer, admitindo que fez besteira. Ian Starlini não faria isso em sã consciência. – Você faz isso o tempo todo. – Eu preciso falar isso para alguém que pode entender. Você pode. – Eu não posso entender você – Eu respiro fundo, segurando as rédeas do meu coração, falando para ele não me trair e nem amolecer que nem gelatina. – Estamos em um belo dia, hoje é um domingo a noite perfeito pra mim Ian, você não pode ir pra seja lá onde vai? Você não vai entrar, da outra vez que entrou paramos em uma cama e minha b***a vai ficar longe de você e suas mãos também. – Eu não quero s**o, Rick – Ele dá um passo para frente e eu fico parado, segurando a porta como se fosse cair a qualquer momento. – Eu estou noivo. Nesse momento algo se parte dentro de mim. Fico olhando para ele. Não acredito nas palavras, tanto que pisco sem parar e abro e fecho a boca, até as palavras desafogar de mim. – Noivo? Você está noivo?! – Eu grito, com a voz escancarando para Deus e o mundo. – Você está brincando, não é? Não é? – Não Rick, eu fiz uma besteira. E dessa vez eu sei que ele realmente fez uma besteira. Pelos céus, não pode ser. Que homem burro senhor, dai-me paciência e sabedoria.
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