BEN
Acordei aquele dia achando que era só mais um dia comum nessa vida maluca. O sol entrando forte pela janela, iluminando a poeira dançando no ar. Tomei meu café sozinho, aquele silêncio pesado de sempre, só quebrado pelo barulho do morro acordando. Café coado na hora e um pedaço de bolo que a Betina, minha mãe, tinha mandado por um dos vapô. Ela vive fazendo isso, tentando adoçar uma vida que é amarga pra c*****o.
Tomei um banho rápido, vesti um shorts e uma camiseta básica, peguei a moto e fui pro QG. Uns dois ou três vapô na minha cola, fazendo a segurança.
É a rotina.
Cheguei lá, conferi um carregamento que tinha chegado de madrugada, o cheiro forte da erva ainda impregnando o ar. Tudo normal, até o Douglas aparecer perto da hora do almoço. E o maluco não tava sozinho não, tava com duas novinhas coladas nele, uma em cada braço, com aquela cara de quem não paga boleto.
Aquilo me deu uma irritação.
— Qual foi, Douglas? Vacilo, mano. Acabei de conferir a carga sozinho, onde tava? — falei, a voz já saindo grossa, de chefe.
Ele deu uma risada b***a, tentando disfarçar.
— Foi m*l, Ben! Hoje é dia de visita íntima, minha mãe saiu cedo pra ver meu véio e não me acordou. Aí esbarrei nas mina e vim direto.
A palavra "visita íntima" entrou no meu ouvido e explodiu na minha cabeça igual um tiro.
Visita íntima.
A Keyla.
Lá com o marido.
Naquela cama de concreto.
Dando pra ele.
Uma facada gelada no peito, seguida de um calor de raiva e ciúme do c*****o.
Porra, ela é casada, eu sei.
Lógico que eu sei.
Mas saber não muda nada, não tira o desejo. Pelo contrário, deixa mais forte, mais proibido. A Luana, que era um fantasma que me assombrava, simplesmente tinha sumido dos meus pensamentos. Agora era só a Keyla. A boca dela, o corpo, o cheiro. Tava louco, mano. Completamente pirado por aquela mulher.
— E aí, Ben, vai querer? — a voz do Douglas me arrancou do mundo da lua. Pelo jeito, ele já tinha repetido a pergunta umas três vezes.
— O quê? — perguntei, ainda meio perdido.
Uma das novinhas, uma morena com uns olhos pintados que parecia ter saído de um clipe de funk, veio na minha direção.
— Você não quer ficar comigo? — ela disse com uma voz melada, doce demais.
O cheiro de bebida barata e perfume enjoativo invadiu meu espaço.
Eu mantive o olhar nela enquanto ela se aproximava, até botar a mão no meu braço e apertar, enfiando as unhas.
Um convite claro.
Mas não acendeu nada em mim.
Só um vazio, e uma vontade de que fosse a Keyla ali.
— Tô de boa. — falei pra ela, dando um passo pra trás pra me livrar do toque. — Douglas, tira essas meninas daqui. Não quero problema com pai de menor no meu QG, não.
Ele riu, entendendo a mensagem, e saiu com as duas penduradas nele. Eu fiquei ali, a cabeça ainda rodando com a imagem da Keyla com o marido.
Precisava me distrair.
Fui pra casa dos meus pais.
O Brutus, meu véio, tava na varanda bolando um beck com uma calma que só ele tem. A Betina, minha mãe, na cozinha, terminando o preparo do almoço. Aquele cheiro de comida caseira, de família, sempre me acalma um pouco.
— Ben! — minha irmãzinha, a Cecília, veio correndo e me abraçou forte. Ela é a coisa mais linda desse mundo, loira de olhos azuis, puxou a Betina. Já vai fazer 13 anos e tá quase do meu tamanho, mano. Crescendo rápido demais.
— E aí, loirinha. Tudo beleza?
— Ben, já comprou meu presente? — ela perguntou, os olhos brilhando de expectativa.
— Comprei, mas ainda não chegou. — menti.
Na verdade, ainda não tinha comprado nada, mas ia comprar tudo que ela pediu.
— É algum dos que te pedi? — ela insistiu, olhando pra cima, ainda grudada em mim.
— Surpresa, loirinha. Só vai saber no dia do seu aniversário.
— Ben, não fica mimando ela. — a Betina gritou da cozinha.
Ela fala, mas sabe que eu não escuto. Faço tudo que a Ceci pede. É meu jeito torto de tentar compensar ela pelo meu vacilo quando era adolescente. Por ter colocado ela em perigo naquela treta que quase deu merda. Mesmo ela estando recuperada do trauma, eu me sinto um lixo toda vez que lembro. É uma dívida que eu acho que nunca vou pagar.
Enfim, almocei com a família.
Meu irmão mais novo, o Lipe, não parava de falar que tá na escolinha de futebol do morro e que marcou três gols no último treino. A gente ri, brinca, é um alívio. Por umas horas, eu não sou o chefe. Só sou o Ben, o irmão mais velho.
Quando saí, com a barriga cheia e uma sensação boa no peito, a realidade veio me buscar. Encontrei o Douglas num beco escuro, longe do QG. O maluco tava se drogando, com um pino na mão, e com lágrimas nos olhos. Aquela visão me deu um misto de raiva e pena.
— Qual foi, já não disse que não quero você usando essas merdas, mano? — falei, pegando o pino da mão dele e jogando longe.
— Minha mãe terminou com meu velho, Ben. Ela tá louca, cara! — ele desabafou, a voz embargada. — Meu pai precisa dela pra sobreviver naquele inferno! Eu já tô visado, mano, não posso ficar visitando ele toda hora, e ela faz isso agora, nessa altura do campeonato?
Mano, eu devia concordar com ele. Era meu brother, meu amigo. Mas a verdade é que aquela era a melhor notícia que eu ouvia há tempos.
A Keyla tava solteira.
Livre.
O coração acelerou, um misto de culpa e puro t***o.
Tentei ser o cara sensato.
— Mano, a gente não sabe os motivos deles. Só eles podem decidir o que fazer.
— Sei lá, cara. Tô puto. Não quero ficar em casa brigando com ela. Posso ficar uns dias na sua casa?
— Claro, suave. — falei, e aí veio a oportunidade, tão perfeita que parecia armadilha. — Precisa pegar umas roupas?
— É… tá ligado. Tô sem saco pra encarar ela agora.
— Me dá a chave. Eu passo lá e pego pra você.
Ele me deu a chave, ainda cabisbaixo, e seguiu pra minha casa. Eu, com o coração batendo que nem um tambor, virei o caminho e fui pra casa dele. O t***o era tanto que eu m*l conseguia pensar direito.
A porta nem tava trancada.
Abri e entrei, chamando baixo.
— Keyla?
Nada.
Procurei na sala, na cozinha, nada.
Subi pra laje, e lá estava ela.
Pendurando roupa na corda, aquele corpo delicioso curvado, o vestido colado nas curvas.
Uma visão do c*****o.
— Boa tarde. — eu disse, e ela se assustou de verdade, deu um pulo.
— Jesus, Ben! Quase me fez ter um treco!
Eu cheguei perto, sem piedade.
O desejo tomou conta, e eu devia tar com uma cara de bobalhão no cio.
— Cê sabe que eu nunca transei com ninguém, né? — soltei, sem rodeios.
Foi s*******o, eu sei.
Ela riu, nervosa.
— Mentira. Você é o dono do morro, Ben. Já deve ter pegado metade das garotas daqui. — Ela virou as costas, tentando continuar a pendurar as roupas, mas eu vi a mão dela tremendo.
Me aproximei mais.
Cheguei tão perto que senti o calor do corpo dela. Com a mão, afastei o cabelo do pescoço dela, bem devagar.
Ela ficou imóvel. Então, eu beijei.
Depois mordi de leve.
A pele dela se arrepiou toda, e um arrepio percorreu o corpo dela. Ela estava dominada, e aquilo me deu um poder do c*****o.
Era a minha chance.
— Quero perder com você. Quero que você me ensine. — pedi, no ouvido dela, com a voz mais baixa e vulnerável que já usei.
Mas ela reagiu.
Me empurrou.
— Sai de perto de mim, Ben!
Mas ela não saiu do lugar.
Não correu.
Ficou ali, respirando rápido.
Eu permaneci imóvel e soltei um sorriso, sabendo que ela tava tão fodida quanto eu.
Num movimento rápido e preciso, eu a encostei contra o tanque de lavar roupa. O corpo dela era quente e macio contra o meu.
— Só um beijo. — pedi, a centímetros da boca dela.
Ela resistiu, tentando se justificar.
— Sou mãe do seu amigo...
Minha mão desceu pelas costas dela, sentindo a curva da cintura.
— Eu sou o dono desse morro, que tá doido pra saber o gosto da sua boca.
Nossos olhos se prenderam. E lá estava, a faísca. O desejo, brilhando e queimando como fogo nos olhos dela.
Ela não resistiu.
Eu não resisti.
Agarrei os cabelos do r**o de cavalo dela, puxando levemente, fazendo ela ficar com o rosto erguido, oferecendo a boca pra mim.
E aí aconteceu.
O primeiro beijo.
Foi selvagem.
Desesperado.
Como se a gente tivesse prendendo o fôlego a vida inteira e finalmente pudesse respirar. As mãos dela, loucas, agarrando meu corpo, puxando minha camiseta. As minhas mãos, explorando cada curva das costas dela, puxando ela mais perto ainda, até não ter mais espaço entre a gente.
Quando nossas línguas se encontraram, eu entendi porque chamavam aquilo de 'pecado' — porque nada que era bom podia ser tão fácil.
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