Lábios Molhados

1514 Words
KEYLA A gente vive de aparências. Sempre vivi. Aparência de "família perfeita", de mulher de presidiário fiel, de mãe que segura as pontas. Mas por dentro, eu tava um caco. Um caco cheio de desejo proibido e culpa, me afogando num mar de confusão. Fui pra visita íntima, com o coração nas mãos e o corpo todo ereto, tenso. Nem me esforcei pra me arrumar direito, pois nem pode mesmo. Meti uma legging pink que marcava tudo, uma camiseta rosa básica, chinelo de dedo e prendi o cabelo num r**o de cavalo qualquer. Era quase um uniforme para as mulheres de presidiário. O quarto na prisão é aquele mesmo de sempre: parede de concreto suja, uma cama de concreto com um colchão velho e um lençol branco, meio amarrotado, que já tinha visto mais desespero que amor. O cheiro é de desinfetante barato e sexo. O Eduardo chegou algemado e com aquele olhar esperançoso que me deu um aperto no peito. Ele me puxou pra perto, e o beijo veio. Os lábios dele eram familiares, macios, mas… não acendiam nada. Nada. É como beijar uma fotografia de alguém que eu conheci há muito tempo. — Você bem que poderia vir uma vez por semana, Keylinha — ele sussurrou, ofegante, entre um beijo e outro. — Eu sinto sua falta, esse seu cheiro, esse seu gosto, tenho necessidade de te ter mais de saber que é minha. As mãos dele correram pelo meu corpo, apertando a minha b***a por cima da legging, tentando reacender uma chama. Eu tentei, juro que tentei. Fechei os olhos e me forcei a responder, a gemer baixinho, mas minha mente era um cinema maldito. Só passava um filme: o Ben. O toque dele na minha coxa, quente e proibido, debaixo da mesa do churrasco. O olhar de fogo no corredor escuro. O sussurro no mercadinho. É como se o corpo do Eduardo estivesse lá, mas quem me tocava, quem me beijava na minha mente, é o Ben. Um fogo me consumiu por dentro, um calor que o Eduardo, com todo o seu carinho, não conseguiu produzir. E aí veio a gota d'água. Ele tentou. Se esfregou em mim, ansioso, mas… nada. O p*u dele não subiu. Ficou mole, impotente contra a minha coxa. Ele parou, frustrado, e deu um soco no colchão. — p***a! Não consigo! — ele gritou, a voz cheia de um ódio que não era por mim, mas pela situação, pela pressão, pela própria impotência. — Eduardo, calma… — tentei dizer, mas a voz saiu fria. — Calma o quê, Keyla?! Você tá aí, dura que nem uma tábua! Parece que tá fazendo favor! É óbvio que não tá afim! A raiva que eu guardava há anos, a frustração, o cansaço de uma relação que começou errada e só piorou… tudo veio à tona. A saturação bateu forte. — E você acha que eu tô afim?! — revidei, me afastando dele e arrumando a roupa. — De vir aqui, nesse lugar deprimente, há dez anos? De viver uma vida que não é a minha? Cansei, Eduardo. Cansei. Ele olhou pra mim, incrédulo. — O que você tá dizendo? — Tô dizendo que chega. Que eu não aguento mais. Não vou mais atender suas ligações, não vou mais vir te visitar. Acabou. A expressão dele mudou de raiva para desespero. — Keyla, pelo amor de Deus! Lembra do começo? Você com seus quinze anos, linda, a mais gostosa do morro… eu com trinta e pouco, todo bobo, louco por você… a gente se envolveu naquele baile, você engravidou do Douglas… seus pais te obrigaram a ir morar comigo, mas a gente se deu bem, não deu? Eu te amo! Era a cartada final dele. Sempre que as coisas ficavam feias, ele jogava a história triste na minha cara. E pela primeira vez, aquilo não me comoveu. Só me encheu de mais raiva. — Meus pais me obrigaram, Eduardo! Eu era uma criança! E sim, a gente tentou, eu juro que tentei te amar. Mas agora não sinto mais o mesmo. As coisas mudaram. Eu mudei. Nossas vidas mudaram completamente. Ele caiu sentado na cama, o rosto pálido. — Então é isso? — a voz dele saiu quebrada. — Eu tô velho, tô preso, não sirvo mais pra nada. E você, toda gostosa, vai cair na gandaia, é? Nunca gostou de mim mesmo. Só tava comigo por obrigação e se acomodou. Ver um homem daqueles, que sempre foi o "homem da casa", chorar baixinho, foi um golpe baixo. Mas não foi o suficiente. A minha decisão estava tomada há muito tempo, eu só não tinha coragem de admitir. — Já te amei, Eduardo. Mas agora acabou. — falei, pegando minha bolsa. — Se cuida. Saí daquele quarto me sentindo a pior pessoa do mundo, mas ao mesmo tempo, mais leve. Como se tivesse tirado um peso de dez anos das costas. --- Em casa, a tempestade continuou. Contei pro Douglas, sobre o término. — Filho, a partir de agora, se você quiser ver seu pai, vai ter que ir sozinho nas visitas de domingo. Eu não vou mais. Ele parou de jogar no celular na hora. — O quê? Como assim, mãe? O pai tá lá, preso, triste, precisando da gente! Como você pode fazer uma coisa dessas? — Douglas, eu preciso pensar em mim! — argumentei, a voz cansada. — Eu tenho 33 anos! Tô desperdiçando a minha vida com um presidiário! Eu sou jovem, eu preciso viver! — Viver o quê?! — ele gritou, furioso. — Ficar dando pra geral por aí? É isso que cê quer? O pai sempre foi bom com a gente! E você vai abandonar ele agora? — Não é abandonar! É seguir a minha vida! Você não entende! — Entendo sim! Você é uma egoísta! — ele esbravejou e saiu batendo a porta, me deixando sozinha na sala, tremendo de raiva e tristeza. Mais tarde, subi na laje pra pendurar as roupas. O serviço doméstico sempre foi minha terapia. O vento batia no rosto, a vista do morro era a de sempre, mas tudo parecia diferente. Eu estava solta, assustada e… livre. Foi quando ele surgiu. Do nada, como um fantasma que me assombrava de dia. — Boa tarde. Eu dei um pulo, quase deixando cair a camiseta do Douglas. O Ben estava ali, encostado na porta que dá pra laje, com um jeito descontraído que era pura mentira. Os olhos dele não estavam descontraídos. Estavam me devorando. — Jesus, Ben! Quase me fez ter um treco! — gritei, segurando o coração. Ele não disse nada. Se aproximou, devagar, como se eu fosse um animal assustado. E era. Minha respiração acelerou. Ele parou do meu lado, olhou pra roupa no varal, e então, seu olhar voltou pra mim. — Cê sabe que eu nunca transei com ninguém, né? A pergunta foi tão direta, tão absurda, no meio daquele silêncio, que eu soltei uma risada nervosa, cortante. — Mentira. Você é o dono do morro, Ben. Já deve ter pegado metade das garotas daqui. — virei as costas, tentando continuar a pendurar as roupas, minhas mãos tremendo. Ele se aproximou mais. Tão perto que eu senti o calor do corpo dele nas minhas costas. Eu congelei. Ele levantou a mão e, com uma delicadeza que não combinava com ele, afastou uma mecha do meu cabelo que tinha escapado do r**o de cavalo, liberando meu pescoço. Eu não consegui me mexer. Não consegui gritar, nem mandar ele se afastar. Fiquei paralisada, o corpo todo em alerta, esperando. E então, ele encostou a boca no meu pescoço. Foi um beijo leve, primeiro. Só o contato dos lábios molhados e quentes na minha pele. E depois, uma mordida. Suave, mas firme. Uma marca de posse. Uma onda de calor me invadiu tão forte que me fez estremecer toda. Um gemido baixo, quase inaudível, escapou dos meus lábios. Minhas pernas amoleceram. Era exatamente o ponto, o lugar que eu mais precisava ser tocada. Como ele sabia? E ele sussurrou no meu ouvido, o hálito quente me fazendo arrepiar ainda mais: — Quero perder com você. Quero que você me ensine. Aquilo me fez reagir. Foi a gota d'água. A verdade, dita na minha orelha, com uma voz cheia de desejo puro. Eu me virei de repente, encarando ele. Nossos olhos se prenderam, e os dele faiscavam, um vulcão prestes a entrar em erupção. E com uma força que eu nem sabia que tinha, eu o empurrei. — Sai de perto de mim, Ben! — falei, mas a voz saiu mais como um pedido do que uma ordem. Ele recuou um passo, mas o sorriso de canto de lábio não saiu do rosto. Ele sabia. Ele tinha sentido o meu tremor. Ele tinha ouvido o meu gemido. Ele é virgem, mas beijou meu pescoço como se soubesse exatamente onde eu mais precisava — e eu, mulher de 33 anos, tremi como uma garota de 18. ESSE LIVRO É UM SPIN OFF DO MEU LIVRO: FILHA DO MEU PADRASTO ADICIONE NA BIBLIOTECA COMENTE VOTE NO BILHETE LUNAR INSTA: @crisfer_autora
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