O Amigo

977 Words
DOUGLAS Mano, o mundo tá aí pra ser vivido, né? Tô aqui na varanda da casa do Ben, naquele lugar dele que é grande pra c*****o e sempre vazio, igual um bunker de chefe de filme. O Ben tá dentro, resolvendo uns B.O, e eu tô na minha, curtindo a brisa da tarde e observando a movimentação. Aí passam duas novinhas na rua, uma morena e uma loira, as duas um espetáculo. Elas me olham, dão aquela olhada de baixo pra cima, com um sorriso maroto. Eu seguro o olhar, um sorriso de malandro estampado na cara. É isso. Eu, Douglas, 18 anos na cara, sangue quente e com a fama que precede. Conheço o Ben desde que era moleque, a gente jogava bola junto no campinho de terra, sonhando em ser jogador. Hoje, ele é o cara, o dono do morro, e eu tô do lado dele. Irmão de coração, parceiro pra tudo. Meus pais... bem, essa é uma parada mais complicada. Meu véio, o Matemático, tá preso há uma década. E minha mãe, a Keyla, a mulher mais responsa desse morro, resolveu dar o fora nele agora, nessa altura do campeonato. Uma s*******m sem tamanho, se você me perguntar. O cara tá lá, no inferno, precisando de apoio, e ela mete essa? Tô puto da vida com ela, real. Por isso tô morando aqui com o Ben. A casa é grande, ele é um cara fechado, solitário pra c*****o, mas me recebe de boa. É meu porto seguro, tá ligado? As duas minas que passaram tão me encarando ainda, e eu faço sinal pra subirem. Por que não, né? A vida é curta, viado. Elas sobem, rindo, e a gente vai pro quarto de hóspedes. O quarto é simples, uma cama, um armário, mas dá pro gasto. Acendo um baseado, dou uma tragada e passo pra morena. O clima já tá esquentando. Eu sou dominador, gosto de comandar. E as duas curtem. É uma bagunça gostosa de pernas, mãos, bocas. Eu no centro de tudo, fazendo elas gemerem, mostrando quem manda. O baseado vai passando, a fumaça deixando tudo mais intenso. É o meu jeito de esquecer a treta com a minha mãe, a situação do meu pai. Por uns minutos, eu só existo no prazer. Depois que elas vão embora, satisfeitas e com meu número no celular, eu fico na janela do quarto, acendo outro baseado sozinho. A fumaça queima a garganta, mas é um queimar bom. A raiva volta. — Minha mãe largou meu pai na pior. Falo baixo, pra mim mesmo. — Dez anos esperando, o cara aguentando a barra naquele lixo, e ela desiste agora? Na reta final? Não entra na minha cabeça. Ela sempre foi forte, segurou a barra sozinha me criando, sempre esteve lá pro meu pai. E do nada, pum! Acabou. Tem coisa aí, mano. Tem coisa. Mais tarde, o Ben chega junto, a cara fechada de sempre, mas com um ar mais leve esses dias. A gente vai pra cozinha pegar uma cerveja. — Irmão, fui lá em casa esses dias — começo, abrindo a geladeira. — Minha mãe tá diferente. Estranha pra c*****o. Ele pega a cerveja que eu passo pra ele, os olhos me encarando, atentos. — Diferente como? — Viado, ela tá com um cagaço do c*****o. O celular toca, ela dá um pulo. A campainha então? Parece que viu um fantasma. Toda nervosa, olhando pros lados. Não é normal, Ben. Ela sempre foi tranquila, segura pra c*****o, tá ligado? Desabafo, a raiva voltando a ferver. — Será que tem outro? Se eu descobrir que tem um cara metido nessa história, que ela tá dando pra outro enquanto meu pai apodrece na cadeia, juro por Deus que... — Para, Douglas! — o Ben corta, a voz dele é firme, mas sem grosseria. Ele bota a mão no meu ombro. — Sua mãe sempre foi direita. Deve ser só o stress da situação toda, do término. Tá sob pressão, as pessoas falam... Eu olho pra ele, querendo acreditar. O Ben é o cara mais lúcido que eu conheço. Se ele diz que é isso, deve ser. — É, talvez... — concedo, tomando um gole da cerveja. — Mas tá f**a, mano. Tá f**a demais tudo isso. A gente fica em silêncio um tempo, cada um no seu pensamento. Aí, eu vejo o Ben pegando o celular. Ele olha a tela, e um sorriso discreto, quase imperceptível, aparece nos lábios dele. Ele responde uma mensagem rápido e guarda o aparelho. Na hora, uma luz acende na minha cabeça. O Ben tá diferente também. Menos fechado, menos carrancudo. Até o olho dele, que sempre foi um deserto, tá com um brilho diferente. E aquele sorriso? O maluco não sorria assim desde a época da Luana, a ex que foi embora e deixou ele um caco. — Ihh ó o cara, já tá apaixonado por alguém, viado. — penso, alto. Ele me olha, meio surpreso, mas não n**a. Só dá de ombros, aquele jeito dele. E eu fico feliz por ele. O Ben merece. Merece alguém que bote luz naquela escuridão toda. Depois da Luana, ele virou uma fortaleza. Ver ele assim, mesmo que seja só um vislumbre, me aquece o coração. Eu confiava no meu irmão de coração como confiava em mim mesmo — era a única certeza que me restava nesse caos. Enquanto minha família desmoronava e o mundo lá fora era uma guerra sem fim, o Ben era minha âncora. E se ele tivesse encontrado alguém, quem era eu pra não ficar feliz? Pelo menos um de nós estava se saindo bem nesse jogo de amor. Agora, só me restava descobrir quem era a sortuda que tinha conquistado o rei do morro. ESSE LIVRO É UM SPIN OFF DO MEU LIVRO: FILHA DO MEU PADRASTO ADICIONE NA BIBLIOTECA COMENTE VOTE NO BILHETE LUNAR INSTA: @crisfer_autora
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