O Preço do Amor

1002 Words
BEN Mano, a notícia se espalhou pelo morro mais rápido que tiro de fuzil. Em menos de um dia, todo mundo já sabia. Eu e a Keyla. O chefe comendo a mãe do seu braço direito. A mulher do Matemático, que tá pra sair da cadeia. O burburinho era baixo, mas dava pra sentir no ar, um veneno doce que todo mundo respirava e cochichava por trás das portas. O respeito, aquele medo que eu tinha construído com sangue e suor, tava rachando, e eu sentindo cada f***a. Cheguei no QG e a primeira coisa que perguntei foi pelo Douglas. Os vapô que tavam lá, encostados na parede, ficaram se olhando, com uma cara de cu que já me deu a resposta. — Ele… ele veio aqui mais cedo, chefe. Tava alterado. Pegou uns cinco fuzis do nosso arsenal e vazou. Disse que era com sua autorização — um deles falou, cabisbaixo. — CINCO? E VOCÊS DEIXARAM? p***a, NINGUÉM AQUI TEM CÉREBRO PRA PENSAR? — gritei, batendo a mão na mesa com uma força que fez tudo pular. A raiva não era só deles, era de mim mesmo. Eu tinha criado um monstro, e agora o monstro tava solto com um arsenal que provavelmente usaria contra mim. — Mas chefe… ele é o Douglas. Seu braço direito. Como a gente ia impedir? — outro tentou se justificar. Não tinha resposta. Eles tavam certos. Eu mesmo tinha feito do Douglas um cara intocável. E agora essa arma tava virada contra mim. Precisava sair dali. Fui almoçar na casa dos meus pais, na esperança de um pouco de paz. A Betina, minha mãe, sempre foi meu porto seguro. Mas hoje, o porto tava com maré alta. Ela me puxou pro canto da cozinha, a cara séria. — Ben — ela começou, a voz baixa mas firme. — Eu te criei desde os seus cinco aninhos, te vi virar o homem que você é. Me diz que esses rumores por aí são só fofoca de gente sem o que fazer. Eu olhei nos olhos dela. Não dava pra mentir. Nunca deu. — Mãe, não é mentira. Eu e a Keyla… a gente se ama. Nos damos bem de verdade... O rosto dela fechou. — Ben, pelo amor de Deus. Ela é casada! E o marido dela vai ser solto em dias! O Matemático pode não ser um cara de violência, mas você tá mexendo com a família dele. É óbvio que ele vai vir com tudo pra cima de você! A fúria que tava contida em mim desde a discussão com o Douglas explodiu. — Betina, eu sou o DONO DO MORRO, p***a! Quero ver esse filho da p**a vir pra cima! A Keyla já é minha, e eu não abro mão! Ela levou um susto com a minha grosseria. — Sério? Agora me chama de Betina? E essa boca suja, Benjamin? — o meu nome, ela só usava quando tava p**a da vida comigo. — Você é um menino doce, Ben. Eu entendo, a Keyla é uma mulher bonita, atraente… mas não é a única do mundo. Você vai abrir mão da amizade com o Douglas por causa dela? Fora que ela também vai perder o respeito do filho. Bom, pensa melhor no que você tá fazendo da sua vida e com a vida dos outros. Ela virou as costas e foi pra pia. A mensagem tava dada. Eu tinha decepcionado ela. E o pior: eu sabia que ela tava certa. O almoço foi amargo. A comida, que sempre foi uma festa na casa dela, pareceu serragem na minha boca. O Brutus, meu véio, não disse uma palavra. Só ficou me encarando da ponta da mesa, aquele olhar frio de quem já viu tudo e não gostou do que tá vendo. Ele conheceu o Matemático na prisão, viraram amigos de cela. Tava claro que ele tava do lado do cara. Meu próprio pai, contra mim. A Cecília e o Lipe, inocentes, não percebiam a tempestade. O Lipe não parava de falar de um jogo novo e pedia pra eu jogar com ele no feriado. A Ceci, toda animada, me mostrou o ingresso da peça da escola, já tinha comprado um pra mim. Eles me olhavam com aquela admiração pura, de irmão mais velho herói. E eu ali, me sentindo o lixo mais baixo do mundo, concordando com tudo, com a cabeça a milhas de distância, pensando só na Keyla, no desastre que eu tinha causado. Depois do almoço, voltei pro QG. A atmosfera tava diferente. Os homens não me olhavam mais com aquela submissão de antes. Tinha um deboche no ar, uns cochichos que paravam quando eu passava. Um grupo tava encostado na parede do corredor, e eu ouvi claro: — Chefe que come mulher de irmão é fura-olho, pô. s*******m, mano. Era um dos caras mais antigos. Eu parei e encarei ele. Ele baixou os olhos na hora, mas o estrago tava feito. A semente da discórdia tava plantada. Minha liderança, construída na base do medo e do respeito, tava sendo corroída por um caso de amor proibido. Entrei na minha sala e fechei a porta, tentando respirar. Foi quando vi. Um bilhete, dobrado, no meio da minha mesa. Ninguém tinha entrado. Alguém tinha enfiado por baixo da porta. Abri. A letra era desconhecida, mas a mensagem era clara como água: "Contagem regressiva começou. Vai pagar caro." Não era uma ameaça vaga. Era um aviso. O Matemático? O Douglas? Algum inimigo se aproveitando da minha fraqueza? Não importava. A merda tava feita. O preço por ter me apaixonado pela Keyla tava sendo cobrado, e a moeda era meu império, meu respeito, e talvez até minha vida. E o pior de tudo? Naquele momento, olhando para aquele bilhete, eu me perguntei se valia a pena. E a resposta, que me encheu de medo e de uma paz doentia ao mesmo tempo, foi que sim. Por ela, eu pagava o preço. Até o último centavo. ADICIONE NA BIBLIOTECA COMENTE VOTE NO BILHETE LUNAR INSTA: @crisfer_autora
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