Após ter arrumado toda sala em que o senhor Richard Diamonds irá ocupar enquanto estiver na cidade, eu me jogo de cabeça no novo projeto em que Julius e eu estamos trabalhando.
Uma nova coleção de joias em pedra de diamantes será lançada e levará o nome imponente de sua família. Quem me dera ter uma honraria como essa. Rio com os meus pensamentos.
Você não sabe Gabriela que essas coisas não combinam com sobrenomes comuns como os quais você carrega? Repito em um tom divertido para mim mesma.
O mais perto que meu nome chegara a algo tão luxuoso como esses objetos será apenas na participação do projeto no qual estou fazendo parte, o quê não deixa de ter lá sua importância. Respiro fundo.
Estar à frente de um cargo com grande responsabilidade como o qual eu fui contratada requer tempo, dedicação e concentração, e isso tem exigido muito de mim.
Meu corpo frequentemente tem clamado por um descanso, uma folga, e eu mereço depois desses longos e exaustivos dias entregue ao trabalho, eu mereço algumas horas de descontração.
Após massagear levemente com as pontas dos dedos as pálpebras, olho em meu relógio de pulso e constato que já se passavam das 18:00 da noite. As horas já eram avançadas, estive tão envolvida em meu trabalho que não havia me dado conta. Arrumo minhas coisas enquanto desligo o tablete e o computador.
Preciso correr contra o tempo se quiser encontrar o "quebra-galho" mercadinho do senhor José e da dona Ângela ainda em funcionamento.
Eu quero comprar alguns ingredientes para preparar uma deliciosa massa ao molho branco enquanto deixo o vinho tinto gelando, é assim que Jonathan gosta.
Três batidas na porta me desperta do meu devaneio. Ergo os olhos e fito minha amiga Mel parada diante dela com um dos seus ombros sobre o batente e o outro trazendo consigo a sua bolsa tiracolo. Sorrio feliz ao vê-la.
—Oi amiga, está aí há muito tempo? — seu sorriso direcionado a mim é amável, doce, afável. Além de tantos adjetivos, Mel não é só uma linda mulher por fora, mas também por dentro.
— Entre — lhe convido. - Você é linda, mas hoje está literalmente de parar o trânsito.
—Você que é sempre muito gentil — sorri de canto.
—Eu só estou dizendo a verdade — lhe lanço uma piscadela marota.
Eu gosto muito de Mel, ela fora a primeira pessoa com quem tive contato de amizade dentro da Diamonds.
Ela me recebera com carinho impedindo que eu me sentisse desprezada pelos meus colegas, que se sentiam ameaçados com a minha chegada. Logo em seguida Mel se aproximara se permitindo me conhecer, logo formamos um trio inseparável na empresa, Ellen e eu não somos melhores amigas, mas nós duas descobrimos ter muitas coisas em comum e entre elas estão o nosso carinho, respeito e amor por Mel.
—Não, eu cheguei a pouco — me observa atentamente.
—E você? O porquê ainda está aqui? - pergunta confusa. Eu volto a lhe fitar.
-Você acredita, perdi a hora. Eu estava tão concentrada em meu trabalho que acabei não vendo o cair da noite — dou de ombros.
—Entendo. Também está próxima a chegada do todo poderoso, você fica ainda mais sobrecarregada.
—Não me lembre, isso está me deixando louca.
—Imagino. - rimos.
—Bom, eu estou indo embora, se você quiser eu posso te dar uma carona até o metrô? — faz um breve sinal com seu dedo polegar por cima dos ombros indicando o caminho da saída acompanhada de uma leve mordida em seu lábio inferior.
—Ai amiga, eu vou aceitar, não quero me atrasar, preciso chegar a casa antes de o mercadinho fechar. Preciso comprar algumas coisas para o jantar.
—Tem um mercado aqui ao lado se você quiser te levo até lá — dá de ombros.
—Você não existe, Mel — eu paro de organizar a minha mesa para lhe fitar. Algumas pessoas são anjos que Deus envia do céu e coloca na terra em forma de amigo e Mel eu tenho certeza que foi um desses anjos que Deus enviou.
Ela retribui a gentileza com um largo sorriso.
— Eu lhe agradeço de coração, mas não vai ser preciso, eu vou tentar chegar no horário, eu quero comprar uma garrafa de vinho que Jonathan adora, mas eu só encontro lá.
—Hum! Eu já entendi tudo — ela ri ao mesmo tempo em que noto a maçã do seu rosto corar —Vai rolar um jantarzinho romântico hoje — ri amarelo com o canto da boca seguido de baixar os olhos evitando o contato visual.
—Nada demais, apenas um jantar para dois, não vamos exagerar, amanhã pegaremos a estrada.
— Vão viajar? Quando voltam? É uma lua de mel antecipada? — ela volta a me fitar curiosa, de uma maneira como eu nunca vira antes.
—Não, não é uma segunda lua de mel, nós vamos para Minas, vou à casa dos meus pais, já faz um tempo que eu não os vejo, e com a vinda do senhor Diamonds eu não sei quando eu terei outra oportunidade em ir até a minha cidade — apago a luz da sala, fecho a porta atrás de mim e saímos a caminho do elevador.
—Quando voltarão? — aciono o botão do elevador chamando-o.
—No Domingo, será uma viagem rápida. Você precisa conhecer a minha cidade, podemos marcar, o quê acha?
— Convite aceito. - diz toda animada.
—Ótimo, nós marcaremos. -digo por fim.
—Vamos — ela pousa sua mão na base da minha coluna, me guia para dentro do elevador.
—Obrigada — agradeço. Ela assente com a cabeça.
Aciono o botão do elevador chamando a garagem.
—Você deve estar muito feliz em revê-los.
—Sim, estou, mas também estou feliz em poder descansar. Por Deus, eu não me recordo qual fora à última vez em que estive pensando em algo diferente que não fosse trabalho — rio sem ânimo.
[...]
—Minha amiga Ana Beatriz tem razão quando diz que eu não tenho uma vida social ativa, que eu preciso tirar alguns dias de descanso, socializar, estar na companhia de familiares e amigos como se isso fosse fácil. Nunca sobra dinheiro para nada, m*l dá para pagar as contas.
—Concordo com a sua amiga. Não dá pra pensar só em trabalho — ela para no farol vermelho, puxa o freio de mão e volta sua atenção pra mim — Você precisa dividir melhor o seu tempo, enquanto a dinheiro, economize, não gaste no que não é prioridade.
—Minha vida inteira eu tenho feito isso, mas acredito que agora que fui promovida tenho fé de que as coisas vão melhorar.
—Vocês dois juntos não tem como reservar alguma coisa?
—Jonathan ganha muito pouco, eu não gosto de pressiona-lo com essas coisas, eu sei o quanto ele é um tanto paranoico com isso. Vive em busca do sucesso e dinheiro para me dar uma vida melhor, quase estamos sem tempo para nós dois.
—Isso é péssimo.
—Sim, péssimo. - minha voz soa entristecida.
—Quer ir para algum lugar? — leva sua mão que estava no freio de mão até a minha que descansava sobre a minha perna, entrelaça e com o dedo polegar acaricia.
—Não. Eu tenho que ir pra casa. Eu sei que tudo vai se resolver.
—Claro que vai. Eu torço por você, sabe disso — dá uma piscadela em seguido de um sorriso com o canto da boca.
—Obrigada, amiga. E obrigada pela carona — solto a sua mão, beijo o seu rosto em seguida eu saio do carro fechando a porta atrás de mim.
—Tchau, Gabi — acena brevemente com a mão.
Em passos largos vou a caminho da estação de metrô, que está cheia como todos os dias em horário de pico.
—Com licença, com licença, com licença — digo ao descer correndo as escadas rolantes ao ver o metrô parado na plataforma.
—Está louca? —ouço um homem irritado gritar.
—Uai moço, eu preciso passar — grito de volta.
Sobre alguns empurrões, apertos e xingamentos, eu consigo chegar à plataforma. Prendo uma mecha de cabelo que escapara do coque atrás da orelha. Suada, ofegante e mesmo com toda dificuldade, eu consigo adentrar no vagão.
Sentar é um privilégio, eu espero o anúncio para que as portas se fechem, finalmente, fico de costas sobre o metal frio e duro como um escudo de proteção de algum espertinho que queira aproveitar da do vagão cheio para descaradamente se aproveitar das mulheres abusando-as.
Foram inúmeras brigas que eu já presenciei acontecer em vagões, mulheres que foram violadas por homens que sem escrúpulos algum abusam na maior cara de p*u como se nós fossemos propriedade sua.
Isso me enoja.
Sou desperta do meu devaneio ao ouvir o meu aparelho celular tocar, mas o ignoro, estou numa situação desconfortável que m*l dá pra me mover e atender ao telefone é uma péssima ideia.
[...]
Passei uma hora chacoalhando dentro do transporte público que a cada dia aumenta o seu preço em valores absurdos, mas a sua qualidade para transportar as dezenas de passageiros que os utilizam todos os dias continuam da mesma forma, em péssimo estado. Enfim eu chego a meu destino.
Em passos largos, caminho pela comprida calçada feita de pedras portuguesas em mosaico que me levam em direção ao meu prédio, e ao mercado "Quebra-Galho" que fica no meu caminho.
É uma rua arborizada de grandes edifícios residenciais, o lugar é ótimo, a vizinhança é tranquila, seria perfeito se não fosse o alto valor que se paga para manter um padrão de vida do qual nada me enche os olhos, mas que John faz questão de manter.
Por mim viveria em um lugar mais simples, onde poderíamos pagar e viver sem aperto, mas Jonathan não concorda e toda vez que tento tocar no assunto é motivo de discussões. Eu decidi que nada mais diria se isso lhe faz feliz, eu farei o quê preciso for para lhe ver feliz.
Adentro o pequeno mercado que está tranquilo, vejo dona Luíza se despedindo de uma cliente, sempre simpática.
Animada por ter encontrado o mercadinho aberto, eu vou até a pilha de cestas que fica localizada na entrada pego uma e caminho pelo pequeno corredor dividido por duas gôndolas vou em busca dos ingredientes que preciso para preparar o nosso jantar.
O "Quebra-Galho" é um mercado administrado por um casal de idosos italianos que vivem no Brasil há alguns anos e após a aposentadoria decidiram abrir este mercadinho com a intenção de ajudar a dona de casa, que ao preparar as refeições da família, acabara esquecendo-me de algum ingrediente e quando saísse em busca pudesse encontrar aqui.
Além de ser um lugar bastante aconchegante, sua decoração é em toda cor vermelha vibrante com o nome escrito em letras garrafais em amarelo chamando a atenção de quem por aqui passar.
Lembro-me dê quando nós nos mudamos para o bairro, eles nos receberam com muito carinho e desde então mantemos contato amigável.
—Boa noite, Dona Luiza - digo ao me aproximar do caixa.
— Boa noite, Gabi. Como está? Que bom vê-la aqui — sorri solicita enquanto organiza alguns enlatados na prateleira.
—Estou bem, exausta depois de um longo dia de trabalho. Agora vou pra casa prepara o nosso jantar, acompanhada de um bom vinho para encerrar a noite.
—Mais um minuto de atraso não nos pegaria aberto — sorri mais uma vez enquanto empacota as minhas compras.
—E eu lamentaria muito por isso — digo sincera enquanto retiro o cartão da carteira.
—Deu sessenta reais, querida, quer que eu anote?
—Não, eu agradeço dona Luiza, mas eu vou pagar no cartão, eu sei que é o sustento de vocês e não acho justo ficar devendo.
—Sabe que não há problema nenhum, você e Jonathan são ótimos pagadores.
—Eu agradeço, mas prefiro assim.
—Como você quiser meu bem, mas você sabe que as portas do Quebra-Galho estarão sempre abertas para você e John.
—Obrigada, dona Luiza, agradeço de coração — faço o pagamento, pego as minhas compras estou prestes a sair quando ouço o homem simpático sair de uma porta que fica atrás de um balcão me cumprimenta com um breve aperto de mãos.
—Gabi, boa noite, querida.
—Boa noite, senhor Mario, como o senhor tem passado?
—Estou bem, querida, e John, nunca mais viera aqui, mande um abraço a ele, diga que eu estou lhe esperando para tomarmos uma taça de vinho e comer aquele queijo que ele tanto gosta.
—Ele tem trabalhado muito, senhor Mario, precisa realmente descansar, mas não se preocupe, eu darei o seu recado. - eu rio simpática.
—Está bem, querida, tenha uma boa noite, e um bom descanso.
—Obrigada, tenham uma boa noite.
Pego as sacolas e corro para casa.
Estou cansada, esses últimos dias na Diamonds não tem sido nada fácil, tem exigido muito de mim, ir para a cozinha e preparar uma comida gostosinha para mim e John ajudaria a relaxar. Ligo o som e deixo Roberto Carlos cantar uma das músicas que tanto amo, "Como é grande o meu amor por você".
Cantarolando vou até a cozinha coloco o vinho no freezer, vou para o quarto, depósito a bolsa tiro os sapatos e sigo para o banheiro, tiro a roupa, coloco no cesto, eu tomo meu banho rápido, vestido em meu roupão volto para a cozinha e começo a preparar o jantar.
Faço o molho, coloco a água da massa no fogo e vou arrumar a mesa em nossa pequena sala de jantar, quando ouço o telefone tocar.
Seco a mão no pano de prato, jogo em cima da bancada e em passos largos corro para a sala, vou até a mesinha onde fica o telefone, pego e o atendo.
—Alô?
—Alô, Gabi, sou eu, John — ouvir sua voz me traz paz e de alguma forma faz com que eu me sinta revigorada.
—Oi, amor já está chegando? — eu pergunto ansiosa — Eu estou preparando um jantarzinho bem delicioso pra nós — jogo o meu corpo sobre o sofá, descansando os meus pés — O vinho já está gelando no freezer — digo animada na expectativa de ouvi-lo dizer como de costume qual será a sobremesa que ele trará hoje, mas nada fora dito, apenas se ouvia o som pesado de sua respiração.
—Jonathan, ainda está aí? — um suspiro quebra o silêncio.
— Sim, meu amor, eu estou — diz por fim — Eu realmente sinto muito, mas eu não poderei estar com você na hora do jantar — sua voz soa decepcionada.
—Que pena eu estava preparando aquela massa que você tanto gosta e... — ele me interrompe.
—Eu sei. Você sabe que adoro seu tempero, mas Paulo decidiu de última hora fazer o balanço da empresa e não temos hora para terminar — sua voz soa dura.
— Claro — digo sem ânimo.
—Eu sinto muito, meu amor, amanhã cedo estarei aí para pegarmos a estrada como combinado e teremos o final de semana inteiro só pra nós.
—Está bem.
—Eu amo você.
—Eu também — encerro a ligação.
Eu sei o quanto é importante para mim e para Jonathan nosso trabalho, espero que não deixemos que ambos interfiram em nossas vidas.
Por um breve momento me vem à ideia de ligar para a minha amiga Diana, conversar por alguns minutos e lhe contar o conflito em que eu tenho vivido dividir o meu futuro marido com o seu trabalho, mas pensando bem achei melhor não lhe incomodar, ela já tem problemas demais para lidar com os meus.
Eu desisto e sigo para a cozinha, cancelo o jantar, não vejo prazer em cozinhar só para mim mesma, desligo o fogo da água que usaria para cozinhar a massa, pego uma taça no armário, a garrafa de vinho no freezer, eu a abro e sigo para a sacada, me sento no divã enquanto degusto o delicioso vinho.
[...]
Ao despertar, eu me espreguiço deslizando o meu corpo sobre os lençóis macios que envolvem minha pele, volto a minha atenção para o criado mudo onde está o despertador que marca nove horas da manhã, eu dormi mais do que pretendia, sei que o meu amado namorado tem uma parcela de culpa nisso, mas não me farei de rogada, há muito tempo que eu não tenho algumas horas tranquilas de sono, eu estava precisando deste descanso.
Eu me viro para o lado da cama em que Jonathan dormira, mas ele não se encontrava ali, e pelo aroma do café que invadia o ambiente não tive dúvidas que ele se encontrava no ambiente da casa em que mais ele gostava a cozinha.
Olho em direção a poltrona que fica no canto do quarto, e noto que carinhosamente ele havia separado algumas peças de roupas para eu vestir e as depositado sobre o móvel.
Ele não existe...
-Bom dia, meu amor. - eu fito em direção a porta e o vejo adentrar por ela trazendo em suas mãos uma bandeja em inox contendo o nosso café da manhã acompanhado de um lindo buquê de rosas vermelhas.
—Bom dia!
Eu me sento na cama abrindo caminho para que ele se junte a mim, rapidamente eu levo a mão sobre a cabeça ao sentir uma pontada incômoda ali.
—Como você está? Dormiu bem? Como passou a noite? — disse ao se aproximar depositando a bandeja ao centro da cama seguido de depositar um selinho em meus lábios.
—Estou com um pouco de dor de cabeça, mas sobreviverei — sorrio divertida.
—Eu trouxe esse comprimido — tira da pequena embalagem — Tome, ele vai te ajudar com a sua ressaca. - me entrega o remédio, em seguida o copo com água.
—Obrigada — jogo o comprimido na boca, engulo o comprimido seguido de tomar um generoso gole d'água.
—Torço para que fique bem — lhe devolvo o copo, ele se aproxima e beija carinhosamente minha testa.
—Nós vamos tomar café, depois pegaremos a estrada — diz enquanto me serve uma xícara de café fumegante.
—Eu já disse que amo o seu café? — eu beberico a bebida quente.
—Você já disse sim, mas se quiser pode repetir novamente, eu não me canso de ouvir —ri divertido.
— Sabia que você é muito convencido?
—Não tanto quanto eu te amo — me abraça carinhosamente, em seguida beija minha cabeça.