CAPÍTULO 1 — Manhã de Destinos
Mia Ashworth desceu para o café da manhã. A mansão Ashworth já estava a todo vapor naquela hora o cheiro de café fresco, pão quente, vozes pela casa, passos apressados.
Ela ajeitou a trança dos cabelos platinados sobre o ombro, e seus olhos prateados varreram o ambiente antes de entrar na sala de jantar.
— Bom dia, família — disse com um sorriso leve.
— Bom dia, querida, sente-se o café ainda está quente — respondeu Elizabeth sua mãe, apressada, girando três coisas ao mesmo tempo na mesa. – Quer panquecas? – Elizabeth já estava acelerada.
— Sim mãe, obrigado.
E seus irmãos estavam todos ali:
Chloe estava encostada no ombro de Benjamin Blackwolf , irmão mais velho de Bryan , enquanto os dois conversavam baixinho sobre o treino daquele dia.
Theo conversava com Bryan, mostrando algo no celular , provavelmente uma estratégia de treino ,
Léo comia como se já estivesse no terceiro round de batalha.
Zoey desenhava um coração no vapor do copo de leite.
Zack, o caçulinha, batucava com a colher no copo como se estivesse criando uma música secreta só dele totalmente alheio ao redor. Quando avistou Mia ele balbuciou: — Miau miau. — era assim que ele chamava a irmã mais velha que se aproxima dele e dá um beijo na pequena testa dele e depois bagunça seus cachos castanhos.
Mas o foco de Mia era ele:
Bryan.
Alto, loiro, pele dourada de sol e olhos azuis tão fundos quanto o oceano.
O Herdeiro Blackwolf.
O Predestinado dela.
O garoto que um dia seria Alfa… e marido de Mia.
Ele conversava com Theo, mas Lívia estava plantada ao lado dele, jogando os cabelos castanhos para trás como quem ensaia charme diante do espelho — rindo alto demais, inclinada demais, tocando o braço dele com uma falsa naturalidade que Mia reconhecia de longe:
desespero disfarçado.
Mas aquele teatro morreu assim que Mia apareceu.
O olhar de Bryan simplesmente mudou.
Iluminou.
Desviou da conversa.
Como se um ímã tivesse puxado seu foco direto para ela.
Ele se levantou na hora.
— Bom dia, meu amor — disse, com aquele sorriso que fazia até o sol parecer tímido. — Trouxe pra você.
Das costas, ele tirou um mini buquê que ele mesmo amarrara com um laço torto.
Rosas brancas minúsculas, colhidas do jardim entre as duas casas.
Mia corou.
De verdade.
— São lindas, meu alfa. Obrigada.
O olhar deles se encontrou por um segundo… e foi o suficiente para o mundo ao redor perder o foco. Como sempre acontecia.
E foi então que Lívia explodiu.
— ESSA blusa é minha! — ela rosnou, girando o corpo para atacar Mia como se fosse questão de honra.
Mia deu de ombros, pegando uma torrada com toda a calma do planeta.
— Sim. Mas fica melhor em mim.
Lívia estreitou os olhos, venenosa:
— Essa tava na lavanderia, Mia.
A resposta de Mia não veio de imediato.
Porque antes… veio o pensamento, aquele velho e cansado pensamento.
Era sempre assim.
Desde que Mia se entendia por gente, Lívia implicava com ela como se cada respiração de Mia fosse uma afronta pessoal a ela.
Lívia sempre acreditou que Mia havia lhe roubado o destino:
o alfa que ela dizia pertencer a ela,
o futuro perfeito como Luna,
toda a fantasia impecável que ela criara pra si mesma.
E então Mia nasceu.
E nasceu com a marca de Bryan.
E o castelo de sonhos de Lívia ruiu numa noite só.
Mia revirou os olhos, já acostumada com aquela acidez diária da irmã.
Só então respondeu, com a língua afiada que Selene lhe deu:
— Tudo fica melhor em mim. Não tenho culpa que você nasceu feia.
Lívia ficou vermelha — um vermelho vivo, ridículo, de pura raiva.
Mia fez uma careta debochada.
Zoey, claro, imitou na hora — a língua pra fora, cúmplice até o último fio de cabelo.
E Mia devolveu a língua também, no mesmo tom atrevido que irritava Lívia mais do que qualquer insulto.
— MÃE! — Lívia berrou. — ESSAS PIRRALHAS TÃO DE GRAÇA COM A MINHA CARA!
Elizabeth suspirou profundamente, sem paciência.
— Lívia, minha filha, ignore. São só crianças.
E então olhou firme para Mia:
— E você… não dê mau exemplo pra sua irmãzinha.
Mia abriu a boca para responder, mas não deu tempo.
Um formigamento subiu pelo braço dela.
Forte.
Quente.
Como eletricidade correndo por baixo da pele.
Ela congelou por um segundo, o coração acelerado — não de nervoso, mas de algo desconhecido.
Bryan percebeu NA HORA.
Ele sempre percebia.
Os olhos dele encontraram os dela, e por um instante, os dois ficaram em silêncio… intrigados.
Como se um chamado silencioso tivesse acabado de passar entre eles.
Theo colocou a mochila no ombro. E uma torrada na boca.
— Bom, temos que ir. Estamos atrasados.
Ele sempre levava todos para a escola.
Mia se levantou da mesa, ajustando a alça da mochila no ombro, quando ouviu a voz firme de Alaric:
— Mia, minha princesa…
Aquele tom.
Sempre que ele usava aquele tom, o mundo parecia encolher ao redor dela.
— Como seu lobo ainda não despertou, quero que use o botão de pânico se algo acontecer, entendido?
Mia sentiu o estômago afundar.
De novo isso.
Era sempre assim.
Sempre o mesmo olhar preocupado.
Sempre a sensação de ser feita de vidro, cercada, protegida, vigiada, como se o simples ato de respirar fosse perigoso demais pra ela.
Respirou fundo, mas a resposta morreu na garganta.
Não era uma cobrança agressiva… era amor.
Mas às vezes doía tanto quanto.
Antes que ela encontrasse palavras, Bryan se adiantou.
Estufou o peito.
Endireitou o ombro.
Falou com a confiança de alguém que nasceu para liderar o mundo.
— Padrinho, eu cuido dela. Nada vai acontecer. — A voz dele cortou o ar com uma firmeza quente, quase possessiva.
Por um segundo, Mia sentiu o corpo esquentar de novo — aquela mesma energia que havia percorrido os dois há minutos atrás, sutil como um aviso do destino.
Alaric encarou Bryan em silêncio.
Dois segundos longos.
Pesados.
De avaliação.
Era o olhar de um Beta… para o futuro Alfa.
E, enfim, ele assentiu — lento, satisfeito, orgulhoso.
— Muito bem, Bryan — disse Alaric, mas o olhar dele pousou em Mia logo depois, suave, paterno. — Mas você, princesa, promete que vai usar o botão caso precise?
Mia apenas balançou a cabeça, o coração inflado de uma mistura estranha de irritação, conforto e… expectativa.
Porque algo naquela manhã não estava certo.
E ela sentia isso no fundo dos ossos.
Elizabeth abriu a porta, limpando as mãos no avental.
— Muito bem, crianças. Tenham um bom dia….E Sem brigas — ela enfatizou olhando para Lívia, que fingiu não ouvir.
Os quatro saíram juntos:
Theo à frente, responsável como sempre.
Lívia bufando com as mãos cruzadas.
Léo absorto nos próprios pensamentos.
Bryan colado em Mia.
E Mia sentindo ainda aquele calor estranho nas veias.
Um calor que crescia.
E que ninguém… absolutamente ninguém… estava preparado para entender aquele dia.