O ar no ambiente rarefez, pesado com uma energia primitiva que Mia nunca sentira. Não era apenas poder; era a essência crua do território e da posse. A voz de Bryan surgiu, não como um som, mas como um rosnado profundo que vibrou nos ossos dela.
— Sua atenção é minha agora, Mia.
Ele não pedia. Decretava.
— Eu errei sim. Fui fraco. — A admissão saiu como um cuspe, mas seus olhos, escuros como almas penadas, não pediam perdão. Eles exigiam submissão. — Mas o seu lugar é aqui. Presa a mim. Você é minha, um fato que eu, t**o, tentei negar lutando contra a corrente que me puxa para você. Toda a minha energia, cada segundo da minha vida maldita, é gasta em uma única missão: mantê-la segura. Minha.
Ele tremia, não de nervosismo, mas da fúria de um animal acorrentado prestes a se soltar. Até Mika, em seu interior, encolheu-se, emitindo um gemido de submissão instintiva perante o predador superior.
— Você acha que minha frieza é desamor? — Ele cuspiu as palavras com desdém. — É o preço da minha sanidade. Cada sorriso seu para outro homem é uma facada. Cada olhar que pousa em você, eu calculo, eu mensuro, eu arquiteto a ruína de quem ousou dirigí-lo a você. Eu não sou o príncipe encantado porque estou muito ocupado sendo o monstro na sombra que afasta todos os outros monstros. E cansei de lutar contra isso.
Ele se inclinou para frente, e o sussurro final não era para os ouvidos, mas para a alma dela, uma promessa sombria e inevitável:
— Então prepare-se, Mia. Você vai conhecer o homem de verdade. Vai ter tudo de mim. A fera, a obsessão, a escuridão que eu trancafiava para seu próprio bem... Tudo. E você vai aprender que o perigo que sempre temeu... mora dentro de casa.
Bryan recuou um passo, e o espaço que se abriu entre eles parecia um abismo repentino. Mia permaneceu paralisada, não pelo medo comum, mas por um choque profundo que lhe nublava o pensamento. Este não era o Bryan que ela conhecia — o homem contido, de palavras medidas e emoções guardadas a sete chaves. Aquele que raramente se despia por completo, mesmo para ela. A frieza habitual dera lugar a uma tempestade visceral, e ele estava mostrando, pela primeira vez, as entranhas sombrias de sua alma.
— Agora, Mia — disse ele, e cada palavra saiu carregada de um veneno doce e mortal, um tom que era ao mesmo tempo um aviso e uma promessa —, já que você fez questão de declarar seu desejo de se entregar a outro, vou deixar minha posição absolutamente clara.
Ele se aproximou novamente, não como um marido, mas como um juiz proferindo uma sentença irrevogável.
— Cada homem que você escolher... cada respiração que você gastar se apaixonando... — Seus olhos faiscaram com uma luz perversa. — Eu vou adorar despedaçá-lo diante dos seus olhos. Vou transformar a carne dele em minha tela e o sangue dele em minha obra de arte, só para você entender, de uma vez por todas, o preço de me trocar.
Mia sentiu as pernas amolecerem. O poder que ele irradiava não era mais apenas intimidador; era esmagador. Uma energia primitiva que fazia o ar tremer e comprimia seu peito, tornando cada respiração uma batalha. Ele começou a caminhar de um lado para o outro, como um tigre enjaulado, seu corpo tenso passando tão perto dela que ela podia sentir o calor da sua fúria.
Ele parou abruptamente, encarando-a de um ângulo que a fazia se sentir pequena e presa.
— E sabe de uma coisa? — sussurrou ele, com uma frieza súbita que era mais assustadora que todos os seus gritos. — Por que não começar agora?
Antes que ela pudesse articular um som, ele se virou, virando as costas como se ela já não fosse mais a prioridade. Seu olhar se fixou no grupo de familiares do outro lado da sala, e um sorriso sinistro, quase de antecipação, surgiu em seus lábios.
Um frio percorreu a espinha de Mia. Ela o seguiu com passos trôpegos, seu corpo pesado e descoordenado pelo choque. A mente dela girava, incapaz de processar a loucura que estava se desenrolando, mas seu instinto mais profundo gritava que algo de horrível e irreversível estava prestes a acontecer. As palavras morreram em sua garganta, e cada passo era um esforço monumental, como se ela estivesse tentando correr em um pesadelo.
Um silêncio mortal caiu sobre a sala no instante em que Bryan cruzou a soleira. O ar pareceu congelar. As conversas morreram nos lábios de todos, substituídas por uma quietude pesada, carregada apenas pelo som de seus passos firmes no assoalho. Não era preciso dizer uma palavra; o temor era uma entidade viva, visível nos olhos arregalados, na palidez repentina que tomou todos os rostos, na maneira instintiva como alguns recuaram um passo.
Seu olhar, n***o e impiedoso, varreu o ambiente até se fixar nos trigêmeos. Sem um aviso, sem um pedido de explicação, sua mão disparou à frente como um raio, agarrando Niel pela gola da camisa e erguendo-o do chão como se ele não pesasse mais que um boneco de pano. Os pés de Niel chutaram o vazio, sua expressão de surpresa mudando rapidamente para o puro desespero.
Bryan aproximou o rosto do dele, e a voz que saiu de seus lábios era um sussurro rouco e assassino, carregado de uma dor e uma fúria inextinguíveis.
— Você é meu irmão. Um guerreiro leal. A alcateia precisará de sua força. — Cada palavra era um golpe, um reconhecimento amargo do valor do homem que ele estava prestes a destruir. — Mas a sua morte agora... será o meu prazer mais profundo hoje.
Antes que qualquer um pudesse reagir, antes que um grito de protesto pudesse ser ouvido, Bryan o lançou.
Não foi um arremesso comum. Foi a liberação de uma força pura e descomunal, a manifestação física de um poder de Alfa poderoso. Niel foi projetado pelo ar como um projétil humano, seu corpo cruzando a sala em um borrão. O estrondo da parede de vidro despedaçando-se foi ensurdecedor, uma explosão de mil estilhaços que brilharam como diamantes sob a luz antes de se espalharem pelo ar. O corpo de Niel atravessou a a******a dilacerada, descrevendo um arco no ar noturno antes de atingir o gramado com um baque surdo e horrível, afundando a relva com o impacto. Ele não se moveu. Ali, no buraco que seu corpo criou, ficou para todos verem: a prova do preço da obsessão de seu Alfa.
Mia correu para Bryan.
— Pela Lua, o que você está fazendo, Bryan?!
Ele se virou para Mia, ainda com aqueles olhos escuros que Mia nunca havia visto nele, e um sorriso sinistro pairava em seu rosto.
— Não é óbvio, meu amor? Eu sou um homem de promessas. Vou matar um por um dos homens que têm interesse em você. — Mia tremia, os olhos arregalados.
A promessa de sangue estava apenas começando.