Mia acordou com um peso ao lado dela, uma sensação sufocante que a fez hesitar por um instante. Tentou se mover, mas não conseguiu — algo quente e sólido a prendia. Abriu os olhos e o cheiro inconfundível a atingiu de imediato: Bryan. O corpo dela entrou em alerta. Ele estava ali, colado a ela, ambos nus, os corpos ainda entrelaçados. Bryan dormia profundamente, os traços serenos, como se a noite passada tivesse apagado qualquer preocupação. A respiração dele no pescoço dela causava arrepios nela, com os olhos ela varreu o local , A luz do sol filtrava pelas cortinas pesadas do quarto luxuoso do resort Blackwater, banhando a cena numa estranha calmaria.
Mas dentro dela, a calmaria não existia.
As lembranças da noite anterior vieram como um choque: a mensagem inesperada, a madrugada cortada pela pressa, o reencontro que a consumiu até a exaustão. Agora, com o coração acelerado, Mia não sabia como interpretar aquilo. Bryan havia passado meses longe, estudando fora. E de repente estava ali, como se nada tivesse acontecido.
“Por que ele veio?” a pergunta ecoou, pesada. Não precisava ser dita em voz alta. Dentro dela, Mika já a sentia, já a sabia.
— Nós sabemos que não foi só por saudade. — a loba murmurou, sua voz como um trovão baixo, reverberando no peito de Mia.
Com cuidado, Mia afastou o braço pesado de Bryan e deslizou para fora da cama. A nudez dela a fez corar, ao mesmo tempo em que lembranças da noite passada a fazia sentir um calor subir pelas partes íntimas.
Os pés tocaram o tapete espesso que cobria o chão, e ela só então percebeu os detalhes do quarto: luxuoso, com paredes em tons neutros e cortinas pesadas, a cama king-size desfeita com lençóis de seda amarrotados pelo desejo da noite anterior. Um espaço quase perfeito, mas que contrastava com o caos em sua mente.
Ela atravessou o quarto até o banheiro. Mármore polido brilhava sob a luz suave, refletindo sua figura nua nos espelhos. Ao encarar o próprio reflexo, Mia sentiu a dúvida corroer seu peito.
— Por que voltou agora, Bryan? — murmurou para si mesma.
— É isso que precisamos descobrir,
respondeu Mika, incisiva dentro dela.
No banheiro, cercada por paredes de mármore e dourados discretos, Mia parou diante do espelho. A própria imagem refletida parecia uma estranha: nua, marcada pela noite que tivera, vulnerável e inquieta. Pegou a escova nova, escovou os dentes, mas nem o frescor da menta conseguiu apagar a tempestade que rugia dentro de si.
Logo, entrou na cabine de vidro. A água quente a envolveu por inteiro, descendo em jatos sobre sua pele. Quis acreditar que o banho poderia levar consigo a culpa e a dúvida, mas sabia que não. O vapor preencheu o ar, tornando o silêncio denso. Foi nesse silêncio que Mika, a loba dentro dela, falou.
A água caiu quente, cercando-a em um casulo de vapor. Ela fechou os olhos, permitindo-se sentir cada gota, como se pudesse lavar não apenas o corpo, mas também as dúvidas. _porque ele veio agora? Será que ele vai ficar? E se for para por um fim na gente e se for uma despedida?_
Ela fechou os olhos, deixando o vapor envolver seu rosto, e sentiu Mika inquieta dentro dela.
A resposta veio firme, sussurrada como um rugido suave:
— Porque o laço não pode mais ser negado. Nosso Alfa nos escolheu finalmente, e Bones já nos escolheu. Eles são nossos, e nós somos deles.
A água continuava a escorrer, o mundo lá fora existia apenas como uma sombra distante. O que importava agora eram eles, o laço, a promessa que nenhum dos dois poderia quebrar. Mia respirou fundo, sentindo seu corpo e seu coração sincronizados com Bryan e Bones, sabendo que a ligação deles era irrevogável, inquebrável.
Por alguns instantes, ela se permitiu simplesmente sentir: a presença dele, o calor dele, o rugido baixo de Mika no peito. A loba dentro dela não uivava em desespero; agora, estava tranquila, ciente de que eles haviam encontrado seu caminho de volta, juntos.
Mia sentiu um arrepio percorrer sua espinha. A verdade daquelas palavras era tão inegável quanto o calor de Bryan quando despertou ao seu lado. Seus lobos — dela e de Bryan, Mika e Bones — estavam entrelaçados tanto quanto eles próprios. O vínculo, a promessa silenciosa e eterna, não podia ser ignorado.
— Sim… Eles são nossos… nossos, Mika. E nós somos deles… — repetiu Mia, quase como se precisasse se convencer, mas sentindo a certeza se firmar dentro dela.
Mia apertou os olhos, deixando a água quente escorrer sobre o rosto. “Eu não consegui resistir… Ele me toca e tudo some. Ontem eu me entreguei sem pensar.”
— Não se culpe, Mia — murmurou Mika, firme dentro dela. — Nós somos uma só. Sentimos da mesma forma. Ele é nossa maior fraqueza e nossa força, tudo ao mesmo tempo. Mas não vamos nos enganar: há segredos no olhar dele. Nós sentimos. No silêncio, no que ele não diz… há algo que ainda não conhecemos.
O peito de Mia pesava com cada palavra da loba. Era como se Mika falasse por ela, dando voz a sentimentos que ainda não conseguia admitir. Cada batida do coração ecoava dúvida, desejo e medo, misturados num nó impossível de desfazer.
— E se eu não aguentar quando ele se afastar de novo? — sussurrou, quase sem fôlego. — E se ele voltou para decretar nosso fim? Vamos conseguir suportar isso, Mika?
— Não sei, Mia… — a resposta da loba soou profunda, carregada de cuidado e firmeza ao mesmo tempo. — Mas espero que ele nos marque como deles. Que saiba que não existe outro caminho senão nós. Mas precisamos da verdade. Não podemos nos enganar...
— E se ele nunca contar? — Mia sentiu a pressão no peito aumentar, a água escorrendo pelo corpo como se levasse embora apenas o calor da noite, mas não o medo. — E se isso tudo for só… despedida?
— Não será — respondeu Mika, com a convicção de quem sente até o mais profundo dos instintos. — Nós sabemos que há algo mais. Ele carrega segredos, sim, mas não podemos recuar. Estamos juntas. Uma só. O que vier, vamos enfrentar juntas.
Mia apoiou a testa contra o vidro do boxe, fechando os olhos e respirando fundo, sentindo cada fibra de Mika dentro dela. Pela primeira vez, sentiu que não precisava carregar o medo sozinha. A loba era coragem, era alerta, era proteção — e agora, mais do que nunca, eram uma só.
Enquanto isso, Bryan começou a despertar. A cabeça pesada pela ressaca do álcool e pelo sexo intenso da noite anterior. Ele respirou fundo, os músculos relaxados, mas o coração carregava um peso antigo. Não havia voltado antes porque estava preso a um segredo: a gravidez de outra loba. Algo que ele nunca teve coragem de revelar a ninguém além dos que foram com ele para Oxford na Inglaterra. Agora, com o fim daquela situação, ele correra de volta para Mia — sua verdadeira razão de existir.