Bryan respirava com dificuldade. O som da voz de Mia ainda ecoava, cortante, e a provocação de Lívia era como fogo derramado em ferida aberta.
O ar pareceu se partir quando ele explodiu.
O rugido saiu do fundo do peito — um som primal, que fez os lustres vibrarem e o chão estremecer. Copos se partiram com estalos secos, e até os lobos mais velhos sentiram o lobo interior se encolher.
— Já chega, Lívia! — A voz dele reverberou como trovão em meio à tempestade, carregada de fúria ele cerrou os punhos e bateu com força na mesa fazendo tremer tudo ali. — Você esqueceu o seu lugar? Mia é a Luna desta alcateia , Eu não vou tolerar esse tipo de desrespeito com ela , Sua voz era o próprio som da autoridade. A voz de um Alfa, … E quem você pensa que é pra falar com ela assim? Você precisa de um tempo na prisão para aprender o seu lugar?
A tensão partiu o ar como lâminas afiadas. Lívia congelou, os lábios entreabertos, o sorriso falso desfeito.
Mas antes que Bryan pudesse continuar, Mia ergueu a mão.
O gesto foi pequeno, mas o suficiente para fazer o Alfa silenciar.
Os olhos dela encontraram os dele — cinza contra o azuis oceanos — e bastou um olhar para ele entender: Ela estava no comando.
A mesa inteira assistia, muda.
Lívia ainda respirava rápido, o peito subindo e descendo com o impacto da humilhação. Mia, porém, manteve-se impassível, dona de uma calma que feria mais do que qualquer rugido.
Ela limpou os lábios com o guardanapo, como quem encerra um banquete — e o gesto simples fez todos se encolherem.
— Não há necessidade de escândalos, meu Alfa — disse ela, sem olhar para Bryan, a voz suave, mas firme. — Pode deixar que eu recolho o lixo.
O salão parecia prender a respiração.
Lívia empalideceu, mas tentou sustentar o olhar.
Bryan, ainda ofegante, observava cada detalhe dela: o controle, a elegância, a frieza. Sabia que cada palavra, cada sorriso, cada toque dela era uma encenação perfeita — o teatro da mulher ferida que não permitiria ser vista sangrando.
Mas, dentro dele, o caos era real.
“Mesmo que ela me odeie, eu vou lutar. Mesmo que nunca me perdoe… eu vou merecer estar ao lado dela de novo.”
A culpa ardia como fogo, mas o amor — aquele amor instintivo, selvagem, impossível de domar — queimava ainda mais forte.
Aproveitou o silêncio cortante que se seguiu para dar mais uma volta na faca:
— Deixa eu te ensinar algo sobre os homens, quando eles amam uma mulher de verdade, eles lutam por ela, até o fim. E todas as vezes que ele teve que escolher… ele sempre me escolheu. Bom, houve até uma vez que ele escolheu sim outra, mas, quando eu e ele terminamos, de novo, ainda assim não foi você. Ele preferiu Júpiter do que você. — lembrou, com uma ponta de pena teatral. — E você… você nunca foi mais do que a sombra de uma sombra. Ele te usou quando foi conveniente, mas quando ele quis escolher, ele escolheu outra.
Um suspiro fingido, carregado de dó, encerrou o discurso.
Lívia não parecia mais uma loba arrogante. Assemelhava-se a um pimentão esmagado — boquiaberta, avermelhada, com o orgulho escorrendo pelo rosto. Ela viera para se banquetear com a dor alheia, e em vez disso encontrava-se publicamente esfolada, exposta como a suplicante necessitada que sempre fora.
A tensão na sala não era mais apenas palpável — era elétrica, um campo de força prestes a explodir. Cada pessoa na mesa prendia a respiração, cônscia de ter testemunhado não uma discussão, mas um ajuste de contas hierárquico. E Mia, sem levantar a voz, provara quem verdadeiramente governava aquela alcateia.
Lívia continuou tentando desestabilizar Mia:
— Eu jamais imaginei que você fosse do tipo “corna mansa”, Mia… — a gargalhada de Lívia saiu forçada, estridente como vidro batendo. O brilho dourado nos olhos dela tentou soar perigoso; a mão, trêmula no talher, denunciava outra coisa: pânico disfarçado. — Parabéns pela atuação, irmãzinha. Quase acreditei que você não se importa em dividir seu “amado Alfa” comigo.
Mia não se mexeu. Inclinou apenas a cabeça — um gesto de rainha observando uma cortesã em colapso.
— Ah… Que fofa… você acha que tem algo com ele? — murmurou ela, voz de seda cortante.
— Você acha que me ofende dizendo isso? Eu tenho muitas qualidades, irmã. Uma delas, por exemplo, se chama poder. É algo que você nunca vai ter… — A faca marcou o cream cheese num traço preciso; cada pequeno gesto era um compasso de controle.
— Posso, por exemplo, te prender por dormir com o meu Alfa. Para nossa espécie, isso é o pior dos crimes, é imperdoável. Posso fazer você ir a julgamento com o estalar de um dedo. Basta eu querer, porém, por amor a nossa mãe e ao nosso pai, você pode continuar respirando…
Seus olhos cinzentos varreram a mesa, passando pelas faces paralisadas, pelas mãos que hesitavam sobre os talheres. O choque circulou como corrente: não era um argumento, era uma sentença que pairava.
— Bryan terá a desculpa da lua cheia que o deixa vulnerável e da planta do uivo carmesim que você usou nele, e consequentemente os efeitos dela chegaram a mim através do nosso vínculo de companheiros — Bryan arregalou os olhos com a informação, sentindo um misto de alívio e respeito. Mia continuou implacável, erguendo a taça de suco num brinde que era escárnio puro. — Ele sairá livre. Você, porém, não tem desculpa. Não há compaixão na lei para quem age por luxúria e não respeita a união sagrada do Alfa e da Luna. Você perde a vida, basta eu querer.
A risada que se seguiu saiu gelada, teatral — um som de desdém que arrancou a cor do rosto de Lívia.
— Agora faltam-lhe as palavras, maninha? — Mia arqueou a sobrancelha, o sorriso evaporando como névoa.
— Lembre-se muito bem de quem eu sou e do que sou capaz. Você só continua respirando porque eu permito. Você permanece na minha sombra. Eternamente.
Ela voltou os olhos para Bryan num intervalo seco — um olhar que falava sem som. Na mente dele, uma pressão breve e imperativa ecoou:
“Não ouse falar.”
E ele prontamente respondeu: “Eu não ousaria, minha Luna.” Ele respondeu a ela através do link mental que os conectava. Bryan engoliu em seco, a culpa queimando na garganta, mas mesmo assim não conseguiu esconder o orgulho e o fascínio que sentia. Mesmo diante de tudo, Mia permanecia inabalável. Sua Luna era uma mulher incrível, e ele seria um homem t**o se a perdesse.
Por fim, Mia devolveu a Lívia a última farpa, mansa e corrosiva:
— Agora faça um favor a si mesma e pare de ser tão deselegante. Mamãe nos deu educação — disse, com uma condescendência glacial — mantenha-se no seu lugar de insignificância, o cheiro do seu desespero por atenção está me dando náuseas.
O silêncio que caiu foi tão cortante que o tilintar dos cubos de gelo na jarra parecia estilhaços. Lívia estava irreconhecível — não derrubada por gritos, mas devastada por uma verdade imposta com requinte de verdugo. Cada rosto à mesa sabia, sem sombra de dúvida: ali quem governava não precisava levantar a voz para destruir.