Capítulo 11 - Coração Elástico

1281 Words
O céu sobre a Costa da Lua queimava em tons de âmbar e púrpura, refletindo-se nas ondas que quebravam suavemente na areia. As fogueiras espalhadas pela praia dançavam com o vento, projetando sombras trêmulas sobre os jovens lobos que corriam e riam sob o céu noturno. Risos e conversas se misturavam com a música distante, criando uma melodia caótica de liberdade e juventude. Para todos, a noite era uma celebração de dança, alegria e despreocupação. No entanto, para Mia Ashworth, cada risada ressoava como um eco daquilo que lhe era privado — a escolha, a espontaneidade, a tranquilidade que os outros pareciam respirar tão naturalmente. Enquanto a praia vibrava ao longe em movimento e cor, Mia se via diante do espelho em seu quarto, cercada por perfumes importados, maquiagens e vestidos delicadamente alinhados. Seus dedos trançavam o cabelo prateado em um penteado que ocultava a inquietação do seu coração, cada fio ajustado com uma precisão quase ritualística. O vestido azul que ela vestia era uma lembrança viva do passado — um presente de Bryan, de uma época em que seus olhos eram ternos e seu toque doce e cuidadoso, quando seu amor parecia verdadeiro. Entretanto, aquele mesmo vestido agora pesava sobre sua pele como uma armadura de memórias, cada costura recordando o quão distante ele se tornara, frio e calculista. O perfume de jasmim e âmbar misturava-se à brisa salgada do mar, tentando acalmar a tempestade que fervilhava dentro dela. Bryan estaria sempre presente, como uma sombra, em cada expectativa e medo que Mia carregava. Ele podia tentar machucá-la, testar cada vulnerabilidade e manipular outros para feri-la — mas Mia sabia algo que ele talvez esquecesse: podia pressionar, ferir e atravessar seu coração com palavras afiadas, mas jamais a veria quebrar completamente. Sua resistência era moldada pela dor e fortalecida pelo sofrimento, sempre pronta para esticar sem romper. “Companheiro.” Mika murmurava dentro dela, um lembrete silencioso de vínculo e destino. Mesmo quando o ódio e a mágoa ameaçavam consumi-la, aquele único pensamento persistia: ele era seu passado, seu presente e seu futuro. Destino e obrigação, não importavam; ela ainda estava irremediavelmente ligada a ele. Cada detalhe do quarto parecia amplificar sua ansiedade: o brilho suave do espelho refletia sua imagem apreensiva, o perfume doce que escapava da garrafa era um lembrete da fragilidade do momento, enquanto os sapatos cuidadosamente alinhados testemunhavam a preparação meticulosa para o que estava por vir. Ela respirou fundo, uma tentativa de transformar a tensão em força, de converter a ansiedade em determinação. Podia sentir a expectativa no ar — não a alegria, mas o peso de um profundo teste. Cada segundo que se aproximava do luau se transformava em uma batalha silenciosa; cada passo em direção a Bryan era um ato de coragem. O chamado irrompeu, interrompendo seus pensamentos: — Mia, Bryan chegou. — A voz firme de seu irmão, Léo, ressoou do outro lado da porta, trazendo um aviso sombrio de que o momento decisivo finalmente havia chegado. — Já vou. — A resposta de Mia saiu firme e quase mecânica, mas carregada de uma determinação inabalável. Cada palavra que proferia era um lembrete claro de que ela não cederia, não importava o quanto ele tentasse desestabilizá-la. Ao descer as escadas, sentiu o peso da expectativa de cada momento vivido ao lado dele; cada degrau era um teste de sua paciência e resistência, cada respiração, um esforço consciente para manter a compostura. Sabia exatamente o que a aguardava: a ausência de elogios, o desdém velado em seus olhares, a atenção voltada para outra; a exposição silenciosa de sua posição como futura companheira, mas não como o centro de seu mundo. E então ele estava lá. Bryan Blackwolf, parado em frente ao carro, uma presença que exalava poder, controle e frieza. Cada detalhe dele — a postura ereta, o olhar rápido e avaliador, a forma como segurava o volante — era um lembrete de que o tempo e a i********e não haviam suavizado sua essência calculista. Mia sentiu o coração bater mais forte, não por esperança, mas pela necessidade de se manter firme. E então, em um movimento quase hipnótico, ela o viu. Lívia. Seus olhos cor de trigo brilhavam com uma satisfação provocadora, enquanto o vestido leve se ajustava às suas curvas, com a jaqueta ousada acrescentando um toque de arrogância sutil. O sorriso de Mia vacilou, mas não por fraqueza; era uma onda de raiva contida que fervia sob a superfície. Lívia parecia sempre saber onde estava o poder, caminhando pela tensão deixada por Bryan como se fosse seu território, aproveitando cada oportunidade para se elevar acima dela. — Você está linda, Lívia. — As palavras de Bryan deslizaram pela atmosfera como um sussurro suave, quase melódico, mas cortantes como lâminas, ecoando na mente de Mia e despedaçando qualquer esperança de admiração ou reconhecimento. O sorriso de Lívia cresceu, triunfante, resplandecente em sua arrogância. Ela se aproximou com passos medidos, os dedos deslizantes roçando a manga da jaqueta dele em um ato de i********e exibida, como se aquela proximidade fosse uma vitória silenciosa, um triunfo ardente sobre Mia. — Obrigada, me arrumei pra você. — Sua voz ecoava audaciosa e clara, reivindicando domínio e triunfo com a facilidade de quem nunca fora contestada. O chão parecia sumir sob os pés de Mia, mas ela se recusou a ceder. O elástico do coração estava esticado ao seu limite, ameaçando se romper, mas a loba feroz e resiliente dentro dela permaneceu firme. Cada gesto calculado de Bryan, cada sorriso provocador de Lívia e cada palavra não dita direcionada a ela tornavam-se combustível para a força silenciosa que pulsava dentro dela. Ela não desviou o olhar. Não fraquejou. Respirou fundo, permitindo que o perfume da brisa salgada lhe desse coragem. Embora a humilhação fosse intensa e aguda, ela sabia que era controlável. Cada puxão, cada tensão esticava seu coração como elástico, mas a quebra não seria permitida. Mesmo enquanto Bryan e Lívia interagiam, Mia manteve sua postura. Com a certeza de que, apesar de sua juventude, sua vida era um constante teste de resistência, ela se lembrou: ele podia controlar o presente, brincar com os sentimentos dela, elogiar outra, até mesmo tentar atravessar seu peito com palavras afiadas, mas sua essência era inabalável. Naquele momento, uma promessa silenciosa surgiu em sua mente: ele podia tentar destruí-la com todas as suas armas, mas Mia Ashworth não se dobraria. Bryan se afastou do carro e, com uma calma glacial que cortava o ar, dirigiu-se a Mia: — Mia, vai atrás. A Lívia vai na frente comigo. O chão pareceu desaparecer sob os pés de Mia. A oficialização de sua posição, a confirmação de que ele não a via com admiração nem carinho, atingiu-a como uma lâmina afiada. Ela não desmoronou com a afronta, manteve-se firme como uma rocha sob o mar tempestuoso – elástica, resiliente, indomável. O luau continuava, o riso e a música enchendo o ar. Mas para Mia, cada chama que iluminava a areia era um lembrete do calor da raiva contida, da determinação silenciosa e do fogo interno que ninguém poderia apagar. Cada passo que daria naquela noite seria um ato de resistência; cada sorriso, uma máscara que escondia a força de uma loba que não cederia. E mesmo quando Bryan e Lívia se dirigiam para o carro, a tensão atingindo seu ápice, Mia permaneceu firme, respirando profundamente através da dor. Ela sentia o elástico da sua resistência esticar a cada instante, mas nunca romper. O passado, o presente e o futuro estavam profundamente entrelaçados com a intensidade do momento, mas o coração resiliente de Mia estava preparado para tudo. Ele podia lançar sua raiva e descontentamento contra ela, mas nada a faria despedaçar.
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