Bryan observava, cada músculo do seu corpo tensionado como a corda de um arco. A visão de Mia nadando, inocente e graciosa na água prateada, deveria ser serena. Mas a presença de Daemon ao seu lado transformava a cena em algo perigoso, um momento frágil prestes a se quebrar. A aura do Alfa romeno era um campo magnético de intenções não veladas, e o olhar que ele dirigia a Mia não era de mera apreciação estética. Era um estudo, uma avaliação de algo que ele já considerava seu por direito ancestral. Era o olhar de um conquistador para uma terra prometida.
Então, Daemon se moveu.
Não foi um movimento abrupto, mas uma decisão fluida e silenciosa, como o deslizar de uma sombra. Ele deu um passo à frente, saindo da mancha escura, seus olhos fixos na figura distante de Mia. Foi esse movimento, essa intenção de se aproximar, que fez Bryan explodir em ação. Instinto superou a razão. Ele se interpôs no caminho de Daemon, seu corpo uma barreira sólida e intransigente entre o homem e a água. A distância entre eles era de meros centímetros, o ar carregado de uma eletricidade tão densa que se podia quase saboreá-la.
— Aonde você acha que está indo? — a voz de Bryan saiu como um rosnado baixo e gutural, carregada de toda a autoridade de um Alfa defendendo seu território e sua parceira. Ele não continha sua aura; pelo contrário, libertou-a por completo. Uma onda de poder dominante, frio e controlado, emanou dele, um aviso claro e inconfundível para qualquer lobo que ousasse desafiar seus limites.
Daemon parou. Não por ter sido contido pela força, mas por escolha. Ele se virou para enfrentar Bryan, e um sorriso perigoso e calculista curvou seus lábios. Era um sorriso que não alcançava seus olhos, que permaneciam sérios e penetrantes, e que fez o estômago de Bryan se contrair em um nó de gelo.
— Apenas queria entregar uma toalha a ela — respondeu Daemon, sua voz um contraste suave e mortal com a aspereza de Bryan. Ele ergueu a mão, e Bryan então viu o que não notara antes: uma toalha branca e macia, dobrada com precisão, balançando levemente em sua mão. O gesto era tão mundano, tão aparentemente inocente, que era, em si mesmo, uma provocação. Era um teste, uma maneira de medir até onde Bryan estava disposto a ir por algo tão trivial.
Os dois Alfas estavam agora frente a frente, a tensão entre eles era uma entidade viva e palpável. Bryan sentiu seus caninos latejarem, sua visão se estreitando no homem à sua frente. A voz que saiu de sua garganta era cortante como uma lâmina.
— Eu entrego a toalha à minha esposa. — Cada palavra foi cuspida com uma frieza que podia congelar o fogo.
O sorriso de Daemon não se abalou. Seus olhos, aqueles olhos antigos e cheios de segredos, percorreram o rosto de Bryan com uma calma infuriante.
— Você está com medo que ela goste da minha aproximação, Alpha Bryan? — a provocação foi lançada com uma leveza enganosa. — Eu só quero garantir que ela não congele à noite. A água pode ser traiçoeira, mesmo no verão.
Bryan respirou fundo, sentindo a fúria, n***a e primitiva, borbulhar em suas veias. Não era sobre a toalha. Nunca fora. Era sobre cada olhar que Daemon lançara a Mia, cada insinuação, cada lembrança da confissão sobre a primeira Loba Sigma. Era sobre a ameaça que Daemon representava não apenas à sua união, mas ao próprio lugar de Bryan como o Alfa digno de uma lenda reencarnada. Daemon queria algo que ia além de uma simples aliança; ele queria a chave para uma história da qual Bryan era, por direito de marca e amor, o guardião. Ele queria Mia, e não fazia questão de esconder.
A mente de Bryan era um turbilhão, mas seu exterior permanecia uma máscara de granito. Ele conhecia esse jogo. Era o jogo da política entre alcateias, da dominação sutil. E ele era um mestre.
Sem quebrar o contato visual, Bryan estendeu a mão e pegou a toalha da mão relaxada de Daemon. O gesto foi rápido, decisivo, e a mensagem era cristalina: Ela é minha. Eu cuido dela. Você não tem lugar aqui.
Seus dedos se fecharam em torno do tecido macio. Por um momento, suas mãos estiveram perigosamente próximas. Bryan sentiu o poder contido naquele braço, a força ancestral que pulsava sob a pele de Daemon.
Daemon manteve o olhar fixo por alguns segundos que pareceram uma eternidade. O sorriso finalmente esmaeceu, substituído por uma expressão séria e ponderada. Ele não estava irritado; parecia, instead, recalcular sua estratégia. Ele sabia que não ganharia nada com uma confrontação física direta ali, na praia da família Blackwolf. A derrota, naquele momento, era tática, não uma admissão de inferioridade.
Com um suspiro quase imperceptível, Daemon finalmente cedeu. Ele deu um passo para trás, rompendo o feitiço de tensão que os mantinha travados.
— Como desejar, então — ele disse, sua voz novamente suave, mas agora sem a centelha de provocação.
Ele então lançou um último olhar para a água, onde Mia, agora consciente da tensão em terra, observava paralisada. Foi um olhar longo, carregado de uma promessa silenciosa, de um "até breve" que fez o sangue de Bryan ferver. Então, sem outra palavra, Daemon Hemlock se virou e se fundiu novamente com as sombras, seu desaparecendo tão silencioso quanto sua chegada.
Bryan permaneceu de pé, a toalha apertada em seu punho, seus sentidos ainda alertas, monitorando o recuo de Daemon até ter certeza de que ele havia realmente se afastado. A ameaça imediata havia passado, mas a guerra, ele sabia, estava apenas declarada.
Mia, sentindo que o perigo havia diminuído, nadou até a margem, sua nudez agora sentida como uma vulnerabilidade. Ela saiu da água, gotas escorrendo de seu corpo como lágrimas prateadas, e se aproximou de Bryan. Seus olhos estavam arregalados, uma mistura de confusão e medo.
— Bryan? O que... o que foi isso? — sua voz era um sussurro ofegante.
Ele a encarou, e pela primeira vez naquela noite, seu olhar foi apenas para ela, despojado da frieza habitual. Havia uma fagulha de algo selvagem e possessivo, um reflexo do lobo que havia defendido sua companheira.
— Nada — ele mentiu, sua voz mais suave do que o esperado. Ele desdobrou a toalha e a envolveu around ela, um gesto de proteção e posse. O tecido áspero contra sua pele molhada a fez estremecer. — Vamos para dentro.
Ela assentiu, envolta no calor da toalha e no resquício da intensidade que ele emanava. Mas no fundo de seu ser, Mia sabia. Aquele não era um fim. Era um prelúdio. A tensão entre Bryan e Daemon, agora exposta e não resolvida, era um vulcão adormecido. E ela, a Loba Sigma, o elo perdido com um passado milenar, era o terreno sobre o qual eles travariam sua batalha silenciosa. A noite terminava, mas o eco do desafio na linha da areia reverberaria por muito, muito tempo.