CAPÍTULO 3 – A NOITE QUE TUDO RECOMEÇOU

1137 Words
Bryan acordou com o coração batendo como um punho fechando contra as costelas. Por um segundo, achou que estava sonhando. Mas o quarto estava ali — a penumbra, o vento entrando pelas janelas, o cheiro de sal vindo pela janela semiaberta. Tudo normal. Exceto ele. Ele mesmo não estava normal. Ele soltou um gemido rouco e sentou na cama de uma vez, apoiando os cotovelos nos joelhos. — Droga… — murmurou, apertando a região com a mão firme. A respiração saía curta. Os músculos doíam como se tivesse corrido quilômetros. E a marca no abdômen… Aquela marca n***a e prateada, símbolo dos Blackwolf, queimava como brasa viva, de novo como antes… Ele grunhiu baixo, apertando a região com força. — De novo não… — murmurou, a voz rouca. A dor não era literal. Era como se algo estivesse pressionando de dentro para fora, querendo romper, escapar, acontecer — mesmo que ele não tivesse nome para isso. O ar no quarto estava quente demais. Denso demais. Pesado como antes de uma tempestade elétrica. Bryan se levantou devagar, sentindo as pernas tremerem num aviso silencioso. Caminhou até o banheiro e acendeu a luz. O reflexo no espelho o encarou de volta. Ele próprio… mas também não. Seus olhos azuis estavam mais claros, quase luminosos. As pupilas dilatadas. O suor escorrendo pelo peito, marcando o abdômen definido. E, bem ali, sobre a costela: A marca brilhava. A tatuagem da herança respirava. — Merda… — Bryan sussurrou, encostando as duas mãos na pia. Foi quando a lembrança veio. Não um pensamento. Mas um puxão. Um clarão. Um eco do passado invadindo o presente. ⸻ FLASHBACK – QUATRO ANOS DE IDADE ⸻ A sala parecia enorme para um garotinho loiro, magrinho, de olhos arregalados pelo choro. A tempestade lá fora rugia com força — trovões quebrando o céu ao meio, a chuva açoitando as janelas. E Bryan corria, segurando o abdômen onde a marca queimava feito fogo. — Mãe! MÃE! — ele soluçava, tropeçando nos próprios pés. — Dói! Tá queimando, mamãe, tá queimando! Babi o pegou no colo num reflexo imediato, o coração disparado. — Bryan! Calma, meu amor, calma… — sussurrou, ajeitando o cabelo dele com mãos trêmulas. — Respira com a mamãe. Respira… Mas o menino tremia demais. Nathanael surgiu na porta da sala, pálido, o maxilar travado. Ele conseguia sentir a energia que saía do próprio filho — um calor estranho, uma pulsação que não pertencia a lobos normais. E então… A porta abriu com força. O Beta Alaric entrou ensopado de chuva. E atrás dele… Elizabeth. Os olhos dela estavam inchados. A expressão — devastada. Mas quando viu Bryan, algo brilhou dentro da dor. — Ele sentiu… — ela murmurou, levando a mão à boca. Babi franziu o cenho. — Sentiu o quê? Elizabeth respirou fundo, a voz saindo fraca, quebrada, mas cheia de certeza: — Que a companheira destinada dele nasceu. Silêncio. Um silêncio tão pesado que o próprio vento pareceu parar. — E a…? — Babi tentou perguntar, mas a voz falhava. — Katherine se foi. — Elizabeth respondeu, lágrimas caindo. — Mas Mia… Mia vive. E ela nasceu marcada. Com a marca de Bryan. O trovão explodiu. A luz piscou. E o pequeno Bryan sussurrou contra o pescoço da mãe: — Eu senti… Ela chegou. — Fim do flashback — A lembrança se dissolveu com a mesma violência com que tinha vindo. Bryan se apoiou na pia, ofegante. — Não… não pode estar acontecendo de novo. Mia… ele pensou nela, será que ela estava sentindo ? Mas estava. Ele sentia. A tempestade no ar. O calor na marca. A pulsação no peito. Tudo gritava a mesma coisa: Algo estava despertando. De novo. No mesmo momento na MANSÃO ASHWORTH A noite havia despencado sobre a casa como um manto pesado. As árvores balançavam com o vento selvagem. Relâmpagos riscavam o céu. Elizabeth andava de um lado para o outro na sala, segurando o celular contra o peito como se fosse um talismã. Ela havia examinado Mia — a menina dormia, mas quente demais, o corpo vibrando, a respiração acelerada. Não febre. Não doença. Era o mesmo de anos atrás. O mesmo da noite em que sua irmã morreu. O mesmo da noite em que Mia nasceu. Alaric observava da porta, braços cruzados, maxilar tenso. — Ela está muito quente, Liz. — Eu sei — Elizabeth murmurou, sem parar de andar. — E eu sinto no ar… algo está vindo. O celular vibrou. “Babi chamando”. Elizabeth atendeu antes do segundo toque. — Liz?! — a voz de Babi veio trêmula. — Você sentiu isso? — Desde a tarde. O ar… o vento… Mia está estranha. E Bryan? Ele também? — Acordou suando. Disse que a marca estava pulsando. Nathanael está em alerta. — Babi respirou fundo. — Liz… isso não é normal. Elizabeth fechou os olhos. — A última noite em que o mundo ficou assim… — Foi quando Katherine morreu — Babi completou, a voz desaparecendo por um segundo. Elizabeth segurou o choro. — E quando Mia nasceu. — ela sussurrou. — Babi… Mia nasceu com a marca Blackwolf. Com a marca do seu filho. — Eu lembro. — Babi respondeu, voz tremendo. — Destino. Sempre foi destino. O vento soprou tão forte que a casa gemeu. Elizabeth prendeu o fôlego. — Se algo está despertando… — ela começou. — Eles ainda são muito novos … não estão preparados — Babi murmurou angustiada do outro lado da ligação. E então— Um raio cortou o céu com violência. A luz branca iluminou a casa inteira. O barulho veio um segundo depois — um estrondo feroz que fez o teto vibrar. O celular quase caiu da mão de Elizabeth. — Liz?! Liz, o que foi isso?! Mas Elizabeth nem ouviu. Porque, logo acima delas… …um som rasgou o silêncio. Um som que não deveria existir. Um grito. Não humano. Não normal. Um grito que parecia vir da alma sendo quebrada. — MIA?! — Elizabeth gritou, o horror paralisando as pernas por um segundo. E, ao mesmo tempo, pelo telefone: — BRYAN?! — Babi gritou. Era o mesmo som. Os dois gritos. A mesma dor. A mesma hora. Elizabeth e Babi ouviram uma à outra gritando — as duas mães apavoradas. — LIZ, BRYAN ESTÁ SE TRANFORMANDO! — Babi gritava ao fundo, com o som de portas batendo, Nathanael correu junto. — NÃO DEIXA MIA SOZINHA! — EU VOU SUBIR! — Elizabeth disparou, largando o celular no sofá. Ela correu pelas escadas como se a vida dela dependesse disso. O vento batia as janelas. As luzes piscavam. O barulho do trovão engolia tudo. Mas nada era mais aterrorizante do que o silêncio que veio… …depois do grito. Silêncio que não era paz. Era prenúncio. Era o mundo segurando a respiração… …antes de Mia acordar.
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