“Mia… acorde…”
O sussurro cortou a escuridão como uma agulha atravessando a pele. Mia abriu os olhos de repente, o peito arfando como se tivesse sido puxada para fora de um pesadelo profundo. O quarto girou. O ar sumiu. Algo dentro dela se agitou como uma fera presa tentando escapar.
“ Mia chegou a hora … ”
A dor veio como uma lâmina quente.
Primeiro nas pontas dos dedos.
Depois nos braços.
Depois no peito.
Ela tentou respirar, mas não conseguiu — a garganta travou. Até que o grito explodiu sozinho, rasgando sua boca, rasgando as paredes, rasgando a noite.
Um grito que não era humano, era um rugido.
Ela despencou da cama direto no chão, os joelhos chocando contra a madeira. As unhas cresceram sem aviso, duras e negras, arranhando o piso com um som que fez a casa inteira estremecer. Cada estalo de osso parecia uma sentença.
— MIA?! — Chloe entrou correndo, o rosto branco, as mãos tremendo.
— Chloe, fica atrás de mim, ela está se transformando! — Theo rosnou, os olhos dourados de puro instinto, puxando a irmã para longe.
Mia tentou falar, mas sua voz saiu partida, gutural, como duas vozes sobrepostas:
— Mãe… pai… ajuda…
Ela olhou para as próprias mãos e engasgou. Os dedos estavam se torcendo, a pele se rasgando em cortes prateados que brilhavam como lua líquida misturada com sangue escuro.
Os gritos dela ecoaram pelos corredores.
Elizabeth apareceu na porta em pânico, o rosto devastado.
— Mia, meu Deus…! — tentou correr, mas foi repelida por uma luz prateada que explodiu do corpo da filha.
— ALARIC! — Elizabeth chorou. — ELA TÁ MUDANDO! MEU DEUS, ELA TÁ MUDANDO!
Os móveis tremeram. Espelhos se despedaçaram. As janelas vibraram como se fossem explodir.
E então…
A porta foi arremessada para trás.
Natanael Blackwolf entrou como uma tempestade viva, os olhos azuis afiados, a voz cortando o caos:
— ALARIC, BRYAN TAMBÉM ESTÁ EM TRANSFORMAÇÃO!
Elizabeth ofegou.
— Bryan?!
Alaric empalideceu.
— Então é agora… — ele murmurou, a voz quebrada. — Eles… estão despertando juntos.
Natanael não hesitou:
— DELTAS! GUARDAS! LEVEM MIA PARA O QG! AGORA!
Theo segurou Chloe antes que ela corresse atrás de Mia.
Zoey e Zack choravam abraçados a Léo na porta.
Elizabeth ia atrás da filha, soluçando, sem conseguir tocar.
— MIA! FILHA! MIA, OLHA PRA MIM!
Mas Mia só conseguia gritar:
— ISSO DÓI… MÃE, ISSO DÓI TANTO…
As paredes pareciam implodir a cada onda de dor.
No quartel da alcateia , Quando colocaram Mia no centro do grande salão, Bryan já estava lá.
Ou metade de Bryan.
Ele estava no chão, arqueado, o corpo tremendo como se estivesse em combustão. A marca no abdômen brilhava como lava. O pescoço estalava, a coluna se arqueava, as garras cresciam do nada, rasgando a pele.
Ele ouviu a movimentação e tentou levantar o rosto.
— Mia…? — sua voz saiu partida, rouca, animal.
Os olhos dele brilhavam com lágrimas.
— Amor… — ele arfou — fica… comigo…
Mia tentou se arrastar para ele, mas uma onda de dor a fez gritar.
— AAAAAAH! BRYAN! — o choro dela era pura agonia. — ISSO DÓI… NÃO PARA… NÃO PARA…
Elizabeth caiu de joelhos – Selene … porque agora ? - ela exclama, os olhos arregalados.
Babi desabou ao lado dela, segurando o próprio coração, sem conseguir assistir.
— Meu menino… — Babi chorou. — Bryan, meu amor, respira!
Mas Bryan tremia como se estivesse em chamas.
— MIA! — ele gritou, tentando alcançá-la. — FICA COMIGO! EU TÔ… AQUI…
O chão vibrava com a energia deles.
A luz pulsava em ondas.
Os deltas recuaram com medo real.
E então veio o momento mais c***l:
Os olhos de Mia encontraram os dele.
Torturados.
Quebrados.
Apaixonados.
— Bryan… — ela chorou, a voz fina. — …isso dói…
Ele tentou se arrastar na direção dela, ignorando o próprio corpo se partindo.
— Eu sei, baby… eu sei… eu tô aqui… — ele soluçou.
As luzes do QG piscaram.
A energia ao redor deles subiu como um furacão invisível.
E então…
O ESTOURO.
Um rugido explodiu do corpo de Mia.
Outro de Bryan.
As luzes estouraram.
O chão tremeu.
Uma onda de energia arremessou todos ao redor para trás.
Elizabeth caiu.
Babi caiu.
Natanael e Alaric se protegeram dos estilhaços.
E no centro do QG…
Dois gigantes surgiram.
Quem veio primeiro — A Loba Prateada — MIKA
Mika surgiu primeiro.
Uma loba branco-prateado, pelos brilhando como neve ao luar.
Olhos azuis arroxeados como estrelas.
Grande, imponente, impossível de olhar sem tremer.
Ela não parecia só um lobo.
Parecia uma deusa.
A primeira Sigma.
A loba ancestral.
A lenda viva.
E depois — O lobo colossal — BONES
E então o chão rachou atrás dela.
Um rugido tão profundo que fez o teto oscilar irrompeu.
Bones.
O maior lobo já visto.
Cinza-escuro, quase prateado.
Musculoso.
Perfeito.
Olhos vermelhos ferozes como relâmpagos.
Ele reconheceu Mika.
Mika reconheceu ele.
Os dois se aproximaram em silêncio.
A alcateia inteira prendeu a respiração.
Natanael caiu de joelhos, em respeito involuntário.
Outros lobos fizeram o mesmo.
Babi e Elizabeth choravam sem saber se de medo, orgulho ou os dois.
Quando Mika e Bones encostaram focinhos…
Uma explosão silenciosa percorreu a Terra.
Lobos em outras cidades levantaram a cabeça ao mesmo tempo.
O mar recuou.
A floresta estremeceu.
O vento parou.
O mundo ouviu.
O mundo reconheceu.
A nova era tinha começado.
Quando Mika recuou e Mia surgiu novamente, caída, tremendo, ofegante…
Bryan também voltou à forma humana ao lado dela.
Meio nus, cobertos de sangue, suor e lágrimas.
Eles se arrastaram um para o outro.
As mãos se tocaram no meio do chão rachado.
— Mia… — Bryan murmurou, quebrado. — Eu tô aqui…
— Bryan… — ela chorou — …não me deixa…
A energia ao redor deles atingiu um ponto impossível — quase viva, quase consciente.
Mika e Bones se encararam num silêncio que parecia atravessar eras.
E então, num último pulso de força…
a aura deles explodiu para fora como uma supernova.
O chão rachou.
O teto gemeu.
O ar foi arrancado das paredes.
E o mundo…
O mundo inteiro sentiu.
Nas montanhas distantes, lobos selvagens ergueram a cabeça para o céu.
Em florestas ancestrais, o vento parou por um segundo.
O mar recuou e depois avançou com violência, como se respirasse junto.
Até os pássaros silenciaram, sentidos aguçados tremendo com a energia nova.
A Terra reconheceu.
A Lua respondeu.
O destino se curvou.
No centro do QG, a luz que envolvia os dois se tornou insuportavelmente brilhante — branca, prateada, feroz.
E então…
veio o colapso.
Como se os corpos deles não aguentassem a própria força, Mia e Bryan perderam o controle ao mesmo tempo. A energia os consumiu, arrancou a forma lupina deles em flashes prateados e cinzentos…
…e os dois desabaram no chão.
Caíram lado a lado.
Metade nus, cobertos de suor e sangue.
Pálidos.
Tremendo.
Inconscientes.
Mika desapareceu dentro de Mia como névoa prateada.
Bones recuou para dentro de Bryan como uma sombra gigante recolhida à força.
O silêncio que se instalou foi tão profundo que ninguém ousou respirar.
Elizabeth correu primeiro, o peito em prantos:
— Mia! Minha filha!
Babi caiu de joelhos, tocando o rosto do filho com mãos trêmulas:
— Bryan… meu menino… respira, por favor…
Natanael encarou o chão rachado.
Alaric não conseguiu mover um músculo, paralisado pelo choque.
Theo tremia. Chloe chorava. Zoey e Zack soluçavam entre os braços de uma delta.
A alcateia inteira estava ajoelhada.
Ninguém ali sabia se aquilo era um milagre…
…ou um presságio.
Mas todos sabiam que o mundo havia mudado naquela noite.
E que o amor doce e inocente daqueles dois adolescentes…
…acabava de morrer junto com a infância deles.