CAPÍTULO 4 — O DESPERTAR

1292 Words
“Mia… acorde…” O sussurro cortou a escuridão como uma agulha atravessando a pele. Mia abriu os olhos de repente, o peito arfando como se tivesse sido puxada para fora de um pesadelo profundo. O quarto girou. O ar sumiu. Algo dentro dela se agitou como uma fera presa tentando escapar. “ Mia chegou a hora … ” A dor veio como uma lâmina quente. Primeiro nas pontas dos dedos. Depois nos braços. Depois no peito. Ela tentou respirar, mas não conseguiu — a garganta travou. Até que o grito explodiu sozinho, rasgando sua boca, rasgando as paredes, rasgando a noite. Um grito que não era humano, era um rugido. Ela despencou da cama direto no chão, os joelhos chocando contra a madeira. As unhas cresceram sem aviso, duras e negras, arranhando o piso com um som que fez a casa inteira estremecer. Cada estalo de osso parecia uma sentença. — MIA?! — Chloe entrou correndo, o rosto branco, as mãos tremendo. — Chloe, fica atrás de mim, ela está se transformando! — Theo rosnou, os olhos dourados de puro instinto, puxando a irmã para longe. Mia tentou falar, mas sua voz saiu partida, gutural, como duas vozes sobrepostas: — Mãe… pai… ajuda… Ela olhou para as próprias mãos e engasgou. Os dedos estavam se torcendo, a pele se rasgando em cortes prateados que brilhavam como lua líquida misturada com sangue escuro. Os gritos dela ecoaram pelos corredores. Elizabeth apareceu na porta em pânico, o rosto devastado. — Mia, meu Deus…! — tentou correr, mas foi repelida por uma luz prateada que explodiu do corpo da filha. — ALARIC! — Elizabeth chorou. — ELA TÁ MUDANDO! MEU DEUS, ELA TÁ MUDANDO! Os móveis tremeram. Espelhos se despedaçaram. As janelas vibraram como se fossem explodir. E então… A porta foi arremessada para trás. Natanael Blackwolf entrou como uma tempestade viva, os olhos azuis afiados, a voz cortando o caos: — ALARIC, BRYAN TAMBÉM ESTÁ EM TRANSFORMAÇÃO! Elizabeth ofegou. — Bryan?! Alaric empalideceu. — Então é agora… — ele murmurou, a voz quebrada. — Eles… estão despertando juntos. Natanael não hesitou: — DELTAS! GUARDAS! LEVEM MIA PARA O QG! AGORA! Theo segurou Chloe antes que ela corresse atrás de Mia. Zoey e Zack choravam abraçados a Léo na porta. Elizabeth ia atrás da filha, soluçando, sem conseguir tocar. — MIA! FILHA! MIA, OLHA PRA MIM! Mas Mia só conseguia gritar: — ISSO DÓI… MÃE, ISSO DÓI TANTO… As paredes pareciam implodir a cada onda de dor. No quartel da alcateia , Quando colocaram Mia no centro do grande salão, Bryan já estava lá. Ou metade de Bryan. Ele estava no chão, arqueado, o corpo tremendo como se estivesse em combustão. A marca no abdômen brilhava como lava. O pescoço estalava, a coluna se arqueava, as garras cresciam do nada, rasgando a pele. Ele ouviu a movimentação e tentou levantar o rosto. — Mia…? — sua voz saiu partida, rouca, animal. Os olhos dele brilhavam com lágrimas. — Amor… — ele arfou — fica… comigo… Mia tentou se arrastar para ele, mas uma onda de dor a fez gritar. — AAAAAAH! BRYAN! — o choro dela era pura agonia. — ISSO DÓI… NÃO PARA… NÃO PARA… Elizabeth caiu de joelhos – Selene … porque agora ? - ela exclama, os olhos arregalados. Babi desabou ao lado dela, segurando o próprio coração, sem conseguir assistir. — Meu menino… — Babi chorou. — Bryan, meu amor, respira! Mas Bryan tremia como se estivesse em chamas. — MIA! — ele gritou, tentando alcançá-la. — FICA COMIGO! EU TÔ… AQUI… O chão vibrava com a energia deles. A luz pulsava em ondas. Os deltas recuaram com medo real. E então veio o momento mais c***l: Os olhos de Mia encontraram os dele. Torturados. Quebrados. Apaixonados. — Bryan… — ela chorou, a voz fina. — …isso dói… Ele tentou se arrastar na direção dela, ignorando o próprio corpo se partindo. — Eu sei, baby… eu sei… eu tô aqui… — ele soluçou. As luzes do QG piscaram. A energia ao redor deles subiu como um furacão invisível. E então… O ESTOURO. Um rugido explodiu do corpo de Mia. Outro de Bryan. As luzes estouraram. O chão tremeu. Uma onda de energia arremessou todos ao redor para trás. Elizabeth caiu. Babi caiu. Natanael e Alaric se protegeram dos estilhaços. E no centro do QG… Dois gigantes surgiram. Quem veio primeiro — A Loba Prateada — MIKA Mika surgiu primeiro. Uma loba branco-prateado, pelos brilhando como neve ao luar. Olhos azuis arroxeados como estrelas. Grande, imponente, impossível de olhar sem tremer. Ela não parecia só um lobo. Parecia uma deusa. A primeira Sigma. A loba ancestral. A lenda viva. E depois — O lobo colossal — BONES E então o chão rachou atrás dela. Um rugido tão profundo que fez o teto oscilar irrompeu. Bones. O maior lobo já visto. Cinza-escuro, quase prateado. Musculoso. Perfeito. Olhos vermelhos ferozes como relâmpagos. Ele reconheceu Mika. Mika reconheceu ele. Os dois se aproximaram em silêncio. A alcateia inteira prendeu a respiração. Natanael caiu de joelhos, em respeito involuntário. Outros lobos fizeram o mesmo. Babi e Elizabeth choravam sem saber se de medo, orgulho ou os dois. Quando Mika e Bones encostaram focinhos… Uma explosão silenciosa percorreu a Terra. Lobos em outras cidades levantaram a cabeça ao mesmo tempo. O mar recuou. A floresta estremeceu. O vento parou. O mundo ouviu. O mundo reconheceu. A nova era tinha começado. Quando Mika recuou e Mia surgiu novamente, caída, tremendo, ofegante… Bryan também voltou à forma humana ao lado dela. Meio nus, cobertos de sangue, suor e lágrimas. Eles se arrastaram um para o outro. As mãos se tocaram no meio do chão rachado. — Mia… — Bryan murmurou, quebrado. — Eu tô aqui… — Bryan… — ela chorou — …não me deixa… A energia ao redor deles atingiu um ponto impossível — quase viva, quase consciente. Mika e Bones se encararam num silêncio que parecia atravessar eras. E então, num último pulso de força… a aura deles explodiu para fora como uma supernova. O chão rachou. O teto gemeu. O ar foi arrancado das paredes. E o mundo… O mundo inteiro sentiu. Nas montanhas distantes, lobos selvagens ergueram a cabeça para o céu. Em florestas ancestrais, o vento parou por um segundo. O mar recuou e depois avançou com violência, como se respirasse junto. Até os pássaros silenciaram, sentidos aguçados tremendo com a energia nova. A Terra reconheceu. A Lua respondeu. O destino se curvou. No centro do QG, a luz que envolvia os dois se tornou insuportavelmente brilhante — branca, prateada, feroz. E então… veio o colapso. Como se os corpos deles não aguentassem a própria força, Mia e Bryan perderam o controle ao mesmo tempo. A energia os consumiu, arrancou a forma lupina deles em flashes prateados e cinzentos… …e os dois desabaram no chão. Caíram lado a lado. Metade nus, cobertos de suor e sangue. Pálidos. Tremendo. Inconscientes. Mika desapareceu dentro de Mia como névoa prateada. Bones recuou para dentro de Bryan como uma sombra gigante recolhida à força. O silêncio que se instalou foi tão profundo que ninguém ousou respirar. Elizabeth correu primeiro, o peito em prantos: — Mia! Minha filha! Babi caiu de joelhos, tocando o rosto do filho com mãos trêmulas: — Bryan… meu menino… respira, por favor… Natanael encarou o chão rachado. Alaric não conseguiu mover um músculo, paralisado pelo choque. Theo tremia. Chloe chorava. Zoey e Zack soluçavam entre os braços de uma delta. A alcateia inteira estava ajoelhada. Ninguém ali sabia se aquilo era um milagre… …ou um presságio. Mas todos sabiam que o mundo havia mudado naquela noite. E que o amor doce e inocente daqueles dois adolescentes… …acabava de morrer junto com a infância deles.
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