Alguns anos depois.....
" Buscar o que não se conhece não é ilusão e sim uma tentativa de expandir conhecimento ."
Por: Cesarini.
Eu estou tendo a maior e espetaculare experiência visual que um ser humano pode provar. A emoção de observar galáxias distantes, aglomerados de estrelas brilhantes, nebulosas únicas, os planetas do sistema solar e as características lunares é quase indescritível.
Somado ao combo de ter perto de mim a minha pequena Maria Joana, estamos na fazenda que adquiri assim que a minha filha completou dois anos de idade. Cíntia tagarelou nos meus ouvidos por meses que a nossa menininha precisaria de um lugar cheio de riquezas naturais para poder crescer saudável, e que o apartamento faria a nossa pequena crescer enclausurada dentro do quarto, viciada em joguinhos da internet.
Por isso, adquiri uma fazenda na Serra do Matoso, localizada no município de Itaguaí, no Rio de Janeiro.
Foi um investimento alto, mas muito bem feito, o local é lindo. Possui um casarão datado da primeira metade do século XVIII, segundo o agente imobiliário que foi responsável pela negociação. Na época da expulsão dos Jesuítas em 1759, o imóvel já existia.
A fazenda Estrela de Sírius foi pioneira na plantação de cana-de-açúcar, café e vinha sendo utilizada como imóvel destinado a veraneio nos últimos cinquenta anos. É o mesmo destino que eu, como novo dono, pretendo dar a ela.
A propriedade é cercada por muito verde, e um gramado forma um tapete em torno da construção centenária. Ao longe, vemos um monte.
Cíntia ficou tão empolgada que tratou de fazer um lindo jardim na lateral da casa, plantando diversas flores coloridas.
"_E aí, consegue ver alguma nave alienígena, papai?" - meu pedacinho de céu pergunta ansiosa.
Não é a minha razão de viver. Mas estou vendo muitas constelações. Quer dar uma olhadinha? - pergunto, prevendo o bico que irá se formar no rosto da minha boneca.
_ Estou cansada de ficar procurando por eles. Tio Alessandro, falou que eles ficam brincando de pique-esconde conosco, e se eu procurar bem direitinho, irei encontrar algum deles. - diz chateada.
Quero dar um soco em meu primo por enfiar esse bando de lorota na cabecinha da minha garotinha. Onde já se viu, enganar minha filha, dizendo que existe vida alienígena fora do planeta Terra, dentro do planeta Terra.
Eu deveria ter colocado fogo naquele "abençoado" livro sobre vidas extraterrestres que o cretino deu de presente para o meu bebê, quando ela completou seis aninhos. Desde aquele dia em diante, Maria Joana tornou-se obsecada pela "coisa" toda e, como resultado disso, tive de me envolver, comprei telescópios para observar o céu. Nesses anos de procura pelo impossível e inexistente, nunca vi nada de anormal.
Minha esposa estava ficando "p" da vida com a mania da nossa pequena de insistir no assunto. As conversas de Maria Joana, são só sobre esses seres, discos, abduções e tudo que envolve ufologia.
A pequena, no aniversário de sete anos, nos pediu para reformarmos o seu quarto na nossa cobertura do Leblon, o tema que a princesinha escolheu foi o espaço. Cíntia quase caiu durinha, na imaginação da minha mulher, nosso pedacinho de céu pediria algo como princesas da Disney, Moranguinho e suas amigas, Minnie ou grupos musicais infantis, mas nunca a área física do universo não ocupada por corpos celestes.
Ainda teve exigências de ter abajures e luminárias com formato de discos voadores e bonequinhos esquisitos de raças diferentes e dos dois maiores aliens que "conhecemos" através das telinhas do cinema, Thor e Super-Men.
Muito a contragosto, fizemos a reforma. Papel de parede com todas as constelações e seus nomes substituíram a pintura rosa chá.
A situação está indo tão longe que, semana passada, Cíntia foi chamada na escola. Maria Joana levou uma ocorrência por dar um banho no coleguinha de turma. O menino disse que minha garotinha é pirada por acreditar que existem planetas habitados no vasto universo. Foi o estopim para todos da classe rirem da minha bebê e ela revidar cobrindo o moleque de suco de cenoura com beterraba.
Minha mulher ralhou tanto com a menina que Maria Joana colocou a boca no mundo. Depois foi a vez da minha esposa, no calor de nossa cama e longe dos olhos de nossa filha, debulhar-se em lágrimas e repetir várias vezes que é uma péssima mãe.
Não é verdade, Cíntia é uma mãe muito dedicada e amorosa. No entanto, essa insistência descabida da nossa menina tem desestabilizado minha esposa.
A voz fininha faz com que eu volte minha atenção para a sua dona.
_ Papai, será que eles não gostam de mim? Eu sou feia, papai? - pergunta em sua doce inocência.
Procuro uma forma de explicar e fazer minha filha entender que certas coisas são fruto da imaginação humana e não têm fundamento algum.
Me abaixo, ficando na altura da menina de olhos escuros e cabelos ondulados.
_ Princesa, papai vai te explicar uma coisa e quero que você escute com atenção. Tudo bem?
Maria Joana balança a cabecinha em concordância.
_ Você sabe o que são seres mitológicos?
_ Não.
_ Então, Joaninha, seres mitológicos são criaturas não humanas que faziam parte do imaginário da Grécia Antiga, participando de vários mitos. Possuíam poderes sobrenaturais e, de acordo com a mitologia grega, podiam interagir com seres humanos, deuses e outras criaturas mitológicas. Assim como eles não são reais, alienígenas também não são, minha pequena.
_ São sim, papai, mas não entendo a razão para eles ficarem se escondendo de mim. Eu não quero fazer m*l a eles, quero brincar, só isso.
_ Meu amor, conheces as lendas folclóricas que temos em nosso país? Saci, Cuca, Caipora, Boi Tatá e muitos outros?
_ Sim, papai, eu sei. Mamãe contou-me muitas historinhas sobre eles na hora de dormir. - fala com entusiasmo.
_ Então, eles também são fruto da imaginação dos adultos. Sabes que cada país tem suas lendas e mitos, que são as culturas locais de cada nação. Por isso, vamos encerrar esse assunto de ficar procurando por naves, seres e qualquer outra coisa. Tudo bem?
Minha filha fica cabisbaixa, suspira e concorda sem entusiasmo algum.
Tanto minha mulher como eu, temos medo de que essa fixação por coisas que não são reais, acabe abalando o psicológico da nossa menina.
_ Vamos entrar, joaninha. Mamãe deve estar nos esperando para jantar.
Minha princesinha nem me esperou e começou a andar em direção ao casarão. Seus ombros estão caídos.
"Ela esta aborrecida, mas é melhor cortarmos o m*l pela raiz antes que minha bebê acabe fazendo tratamento psicológico.- penso."
Juntei a tralha que trouxemos para buscar pelas tais naves e segui para dentro.