" Os presentes da vida vem de onde menos esperamos. Só precisamos ter atenção no caminho para não perdê-los."
Por: Cesarini.
Maria Joana, recebeu o antídoto para anular o veneno que circulava por sua corrente sanguínea , no entanto, devemos aguardar a reação do seu organismo.
Sinto um medo ferrenho de perder minha filha, sinto minha alma se esvaziando, conforme lembrava dos sorrisos radiantes da minha princesa.
_ Ela vai ficar bem, não vai? - Cíntia me pergunta com o semblante abatido.
Eu queria muito poder afirmar que sim, que tudo ficará bem, no entanto, não posso.
Apenas aperto a mão da minha esposa entre as minhas, não sei qual dos dois está mais gelado, ela ou eu.
"Vou acabar com Alessandro por alimentar essas idéias que ele enfiou na cabeça da minha filha" - penso.
_ Eu sabia que essa história de alienígenas não ia terminar bem. Olha onde minha filha veio parar. - Cíntia diz levantando-se do seu assento e levando às mãos a cabeça - Agora a minha menina está lutando pela vida num leito e eu estou aqui, impossibilitada de fazer alguma coisa para ajudá-la.
_ Calma, amor! Ficar nervosa não vai ajudar em nada.
_ Eu não quero perdê-la, Cesarini! Não posso! - diz chorosa - Estou com medo, com muito medo. - completa.
Ergo-me e abraço à minha esposa.
Estamos os dois apavorados com a menor possibilidade de nossa joaninha partir.
Quando Cíntia me acordou de madrugada, dizendo que não estava se sentindo bem e que pressentia algo r**m, achei que fosse bobeira ou um sonho desagradável que teria perturbado o seu sono. Todavia, a situação se mostrou ser efetivamente o sexto sentido da minha esposa, que à alertava para a desgraça que ocorreria minutos depois.
Ao nos levantarmos e irmos juntos ao quarto da Maria Joana, levamos um baita susto ao constatar que a menina não se encontrava deitada em sua cama, como nós dois tinhamos deixado nossa filha.
Cíntia saiu desesperada pela casa chamando pela garota, e eu fiz o mesmo. Então, percebi a porta da cozinha apenas encostada. Meu coração começou a bater violentamente dentro do peito.
"Teria alguém invadido minha casa e levado a minha filha?"
A pergunta me assombrava.
Peguei um facão debaixo da mesa da cozinha e parti em busca da minha menina.
Então, um grito ecoou de dentro da pequena mata que temos nos fundos da propriedade.
Reconheci a voz da Maria Joana. Logo Cíntia já estava ao meu lado. Minha mulher disparou a correr na direção de onde vinham os gritos de pavor.
Fiz o mesmo, parei minha mulher e me embrenhei nos matos, sendo guiado puramente pelo instinto paterno de salvar minha menina do que quer que seja.
Meus olhos quase saltaram das órbitas quando Maria Joana, relatou ter sido picada por uma cobra.
Peguei meu bebê no colo e parti desesperado.
Agora, dou-me conta de que a tragédia poderia ter sido muito pior. Eu "mergulhei" dentro dos matos vestindo apenas a cara e a coragem. Poderia ser nós dois lutando pela vida.
O que não fazemos diante do desespero?
O que não fazemos para proteger um filho?
Quando um homem se torna pai, o mundo dele muda, a forma de ver a vida muda, seus pensamentos mudam.
Um homem, quando se torna pai, cria uma nova casca e renova suas camadas. Ele não vive mais por si, e sim pelos filhos, tornando-se excessivamente precavido em relação a tudo, porque sabe que em casa tem um pedacinho de gente que o aguarda cheio de saudades.
Não há como descrever a emoção de retornar para o lar depois de um dia estressante de trabalho, abrir a porta e dar de cara com uma pessoinha que, ao te ver, abre o mais terno sorriso e seus olhinhos brilham de contentamento. Isso é impagável.
Eu não quero perder isso, não quero perder todos os abraços que irei ganhar, todos os beijos que irei receber, todo carinho que a minha Maria Joana, minha filha, tem reservado para me dar.
Escondo meu rosto entre as mãos e desabo em um choro contido. Não queria demonstrar o quanto estou frágil; minha esposa precisa de apoio, mas a dor que domina o meu coração é insuportável.
_ Amor, Cesari, não fica assim. Nossa joaninha é forte, ela vai sair dessa.- minha esposa tenta me consolar.
No momento em que aquele pequeno bebê entrou em nossas vidas, eu fiz um juramento de ser o melhor pai para ela. Meus dias depois da sua chegada foram tumultuados e coloridos. Sendo cru em tudo que dizia respeito à veia paternal, sofri. Queria ser presente, ajudar em tudo que fosse possível e assim fiz. Aprendi errando bastante. Quantas vezes a Cíntia teve que recolocar a fralda que eu tinha colocado errado, quantas vezes coloquei meu pedacinho de céu para dormir em cima da minha barriga por causa das cólicas que ela tinha.
Maria Joana complementou a felicidade que eu vivo em meu casamento. A menina de olhos da cor de jabuticaba é o nosso sol e orbitamos ao redor dela, atentos. Nossa filha não é especial por possuir uma tipagem sanguínea raríssima, e sim por distribuir amor por onde passa.
Seu jeitinho meigo e doce faz com que todos se aproximem dela; ela é luz em meio à escuridão.
Lembro-me como se fosse hoje, quando Cíntia disse que daria o nome de Maria Joana para nossa linda menininha. Quando a indaguei sobre a razão para tal escolha, minha esposa disse que é por ser um nome doce e forte, assim como a bebê que embalava em seus braços.
Apenas concordei, afinal, minha esposa sempre tem razão quando diz que nossa filha é um pote cheio de ternura, docilidade e coragem.
Rogo a Deus e a sua infinita misericórdia para que restaure a saúde da minha filha, dando-lhe uma nova chance.
Não sou um homem apegado a religião ou coisa do tipo, mas acredito que existe um Criador, que fez todas as coisas e tem os seus olhos voltados para nós. Acredito que nada passe despercebido por Ele e que as multidões de suas misericórdias são para com todos. Diferente de nós, seres humanos, Deus enxerga nós todos como iguais.