A Decisão - Parte 2

1196 Words
Decido assinar essa droga de contrato. Conforme minha mão vai desenhando a assinatura nas inúmeras laudas desse contrato absurdo, vou lembrando da Poly, lembrando de todas as vezes que a minha vida teve sentido apenas por ela estar ali. Lembro de todas as vezes que ela me ajudou a construir o meu próprio sentido e me ensinou a amar o que construí. Meu pulso dói quando escrevo a última assinatura, mas nesse momento a dor é bem vida e o peso do que cada registro do meu nome completo naqueles folhas significa, pareceu levemente menor. Se eu pensar bem é um preço pequeno a pagar pela vida da minha melhor amiga. ~~~~ Cheguei à mansão Max Field, por volta do meio dia. Já imaginava a bronca, mas no momento, esse era o menor dos meus problemas. Bastou apenas entrar na sala, para que o furacão Lorena me atingisse. — Garota você está pedindo a demissão! O que você acha que eu sou? Sua tia, e que você mora aqui de favor? — Olha aqui Lorena eu não estou com cabeça... — Droga percebi tarde demais que a chamei pelo primeiro nome. A mulher ficou vermelha na hora, e inflou mais rápido que um peixe-bolha. Eu até ficaria com medo, se não estivesse nem aí nem ligando para ela. — Você me chamou pelo primeiro nome? Foi isso mesmo que eu ouvi? — Ela grita. Exatamente grita! Ou seja, todos os funcionários da casa vem ver a ceninha que ela vai começar a fazer. — Você tem exatamente dez segundos para me explicar o porquê de ter passado a manhã inteira fora de casa, quando deveria estar trabalhando. — Minha amiga está com câncer. Precisava vê-la — Respondo. — E o que eu tenho a ver com isso? Você trabalha para mim, não sua amiga. Não estou disposta a tolerar um comportamento como o que está sendo. Costumava ser uma profissional r**m, Lara, mas ultimamente está péssima! Eu quero que vá para o seu quarto e arrume as suas coisas, você está demitida! Respiro fundo e não saio do lugar. — Tenho direito a aviso prévio. — Lembro-a. — Está me cobrando seus direitos? Pois estou te demitindo por justa causa! — Só se for no seu mundinho, eu me ausentei do trabalho por no máximo seis a sete horas, para ser justa causa, teria que ser por no mínimo trinta dias. Você está com um conhecimento muito vago das leis trabalhistas Lorena. Novamente ela inflou. Dava para ver que ela estava morrendo de raiva de mim, seus olhos faiscando são uma boa prova disso. — Como você se atreve?! — Eu conheço os meus direitos e cansei de ser humilhada. Agora vou cuidar dos meus afazeres, quando quiser cuidar da minha demissão eu estou na cozinha. — Passei por ela indo em direção a cozinha. Passei por Pietro que me olhava admirado, e balbuciei um "quero falar com você", e ele assentiu com a cabeça. Quando passei, todos empregados da casa estavam me olhando espantados, um até que está rindo. Não me importo, vou para a cozinha e começo a lavar a louça do almoço, aos poucos eu vejo cada um voltar a suas atividades, imagino que Dona Lorena deve ter os mandado dispersar-se. Depois de alguns minutos, Pietro aparece na cozinha. — Nossa o que foi aquilo? Por um momento eu achei que Dona Lorena iria ter um colapso. — Ele comenta rindo. — Eu precisava olhar na cara da Poly, saber exatamente o que se passa com ela, saber os riscos e as chances de cura, para poder tomar coragem para tomar uma decisão dessas. — Você decidiu ser a namorada do Rafael? — Ele me olha surpreso. — Tenho outra alternativa? Eu posso fazer minha amiga viver, como vou ter coragem de deixá-la morrer? — Mas você está entendendo as conseqüências? Não é como um namoro normal em que os dois se adequariam ao novo relacionamento. Você está entendendo que você terá de se adequar a rotina dele? — Estou entendendo tudo, eu praticamente não vou ter vida própria pelos próximos três anos, mas se você me perguntar se isso vale a vida da Poly, a minha resposta é sim. Ele me abraça, pela primeira vez faz isso dentro dessa casa, e eu não me faço de rogada, retribuo, molhando seu cardigã com minhas lagrimas, que rolam descompassadas expressando toda a dor que eu não consigo descrever com palavras. — Você é uma pessoa incrível, Lara. Uma amiga excepcional. Na teoria parece fácil fazer o que você vai fazer, mas eu já vou garantindo que fácil não descreve sua vida de agora em diante. Nem de longe. — Pode avisar o seu chefe, que ele já tem uma namorada. — Você tem certeza Larinha? — Eu já estou sem emprego mesmo, tenho que arranjar outro. — Dou uma piscadela para ele e sorri. — Quer saber cansei de lavar louça, vou tomar um banho e ler um livro que eu comprei na sss e nunca tive tempo pra ler. — Lavei minhas mãos e deixei a louça lá. — Dona Lorena vai enlouquecer. — Então pode ligar para o sanatório por que a humilhação para mim acabou. Ele gargalhou junto comigo. E eu saí. Não demorou muito mais de uma hora desde que eu estava em meu quarto para Dona Lorena bater na minha porta aos berros. Abri-a com a maior cara lavada, enquanto ela me olhava estupefata. — Posso saber o que você está fazendo no seu quarto essa hora? — Tirei o dia de folga. — Respondo. — Você está pedindo a demissão não é? — Que eu saiba eu já fui demitida. — Estou esperando você em meu escritório agora mesmo para acertar suas contas. — Só vou tomar banho, estou lá em meia hora. Assim que fechei a porta, Pietro bateu a minha procura. — Nossa meu quarto está visitado hoje.... — Encontrei com minha mãe no corredor. Estava furiosa. — Ele faz uma cara de medo, que me faz rir. — Por mim ela fica ainda mais, ultimamente não estou conseguindo nem mesmo me irritar com ela. — Bom, vim te dizer que eu falei com meu chefe, e o empresário dele, vai ir um café daqui a pouco, para que você assine. — Eu estava indo acertar minha demissão... Mas quer saber? Que ela me espere. — Ela ainda te mata. — Deixa ela tentar. Agora sai do meu quarto que eu vou tomar banho. — Vou me arrumar, em vinte minutos eu te encontro. Assinto com a cabeça e ele sai do quarto. Sento na minha cama, e respiro fundo, minha vida vai mudar a partir de agora. E eu não sei muito bem o que dizer quanto a isso. Mas de repente meu coração se apertou, como se eu tivesse prestes a tomar a pior ou melhor decisão da minha vida. Infelizmente receio que seja a primeira opção. ___________________________________________________________ ??? Decida... O que você vai fazer, da sua vida Antes que ela decida... Por você. Insista, em ser dono de si mesmo Antes que a vida passe a ser... – Meios da vida (Rafael Nero)
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