Sinto um arrepio ao ouvir isso, e meu coração começa a bater mais forte do que já estava. Passei pelas pessoas de cabeça baixa, mas não passou despercebido aos meus olhos o olhar que Rafa lançou ao Samuel. Do tipo "ainda não terminamos". Assim que entramos no quarto ele tranca a porta e vai até a janela. Observo-o apreensiva sentada na cama. Após olhar através do vidro da janela ele fecha a vira para mim, passando as mãos pelo cabelo.
- Me desculpa. Eu sei que vivo te falando isso e que não faz nem uma hora que eu te pedi isso, eu prometo que vou tentar não precisar pedir isso mais vezes, mas é de verdade. Me desculpa.
Eu não queria que ele me pedisse desculpas, eu não queria ter algo para desculpar e realmente não tinha. Eu queria apenas que terminássemos o que começamos na cachoeira, ou que recomeçamos lá embaixo agora pouco. Mas respirei fundo e tentei o melhor que pude para mascarar minha decepção.
- Não tem problemas.
- Eu deveria ter te avisado do Samuel, deveria ter te dito que ele é um babaca que me chama de gay de uma forma totalmente preconceituosa desde criança e que sempre me ataca dessa forma quando me vê. Mas ele nunca tinha tratado m*l nenhuma namorada que tinha trazido para casa. É de se irar que a primeira tenha sido você.
- Fica calmo. Eu não me importo...
- Eu me importo. - Ele interrompe. - Eu me importo porque é verdade. Não a parte que te toca. Mas o fato de que eu estou te incluído nessa loucura. Isso não é certo e nunca gostei, mas relevava com aquelas garotas, como dizia a Ray, fúteis e vazias, mas com você... Eu não suporto isso. Não suporto o fato do que você tem que passar por minha causa.
- Pelo amor de Deus Rafael, olha para mim. Vê esse cabelo, vê essas roupas, tudo bem agora estão sujas, mas o que eu ganhava em um mês não dava para pagar nem mesmo essa calça. Olha para minhas unhas, está vendo o tamanho? Nunca ficaram assim antes, porque sempre ficavam frangeis quando eu lavava prato. Quer ver os meus trabalho da faculdade hoje e compará-los com os de antes? A diferença é enorme!
- E você não se importa com nada disso. - Ele sentencia e eu me calo. Realmente, eu não me importo com nada disso.
- A Poly vai viver Rafael, tudo bem vai ser duro, vai ser difícil mas ela vai viver, você tem ideia do quanto eu te sou grata por isso?
Ele se cala por dois segundos, absorvendo o que eu disse. Então n**a com a cabeça.
- Não graças a mim, graças a você que está fazendo todos esses sacrifícios...
- Mas não teria como me sacrificar se você não tivesse me dado essa oportunidade. E eu não apenas sou grata a você por isso, eu sou grata por você fazer com que esse "sacrifício" - Faço aspas com os dois dedos maiores. - Seja muito mais fácil. Tem razão, eu não ligo para o luxo do apartamento, paras roupas nem para as unhas. Eu ligo mesmo para o fato de você me tratar bem sempre que nos vemos, de você ser... Você.
Novamente eu o calo. E eu gosto da forma que ele olha para mim depois disso, mesmo que não saiba bem explicar como. Mas me sinto especial diante do seu olhar.
- Eu não pedi por isso Lara, e se não fosse por pressão do meu empresário, e arriscar perder tudo que eu lutei tanto pra construir, eu nunca faria nada disso, você sabe não sabe?
Balanço a cabeça afirmamente. É claro que eu sei. Ele vem até mim e me abraça, e não é um abraço normal, é um abraço longo, daqueles que você sente vontade de permanecer para sempre.
- Eu fico feliz de ter sido você. Fico muito feliz de que você seja minha namorada Lara. E se eu fosse diferente, eu faria tudo o que estivesse ao meu alcance para te conquistar.
Recebo um beijo na testa e ele vai em direção ao banheiro. Fico parada, olhando para o nado e sentindo as lágrimas descerem por minha face. Eu fico me perguntando, tentando me lembrar. Quando? Quando eu me apaixonei por ele? Quando eu baixei a guarda e fui tão i****a ao ponto? Tento lembrar se foi quando ele beijou no dia em que nos conhecemos, se foi jeito menino sedutor na manhã seguinte, ou o jeito que ele cuidou de mim, horas depois. Não sei se foi a forma como ele conversou comigo nos dias seguintes, ou o jeito que ele vem me tratando desde que entramos no helicóptero. Todos esses episódios passam por minha mente, como o beijo na cachoeira mesmo sem ninguém por perto, como o jeito que ele me defendeu do Samuel, a forma como ele me beijou lá embaixo, como se tudo no mundo houvesse desaparecido e nada mais tivesse importância. Eu sei que em minhas lembranças e em meus pensamentos eu acabo romantizando tudo. E não nutro qualquer esperança de que um dia ele achará uma "cura gay". Eu sei que preciso esquecê-lo e que deve ser mais fácil agora que está no inicio. Mas...
Oh Deus. Como eu vou conseguir se ele continuar me aparecendo assim, em um quarto trancado, todo molhado e cobrindo-se apenas por uma toalha enrolada na cintura? Há libido que aguente a isso? Porque se há alguma, a minha precisa urgentemente de algumas aulinhas de alto controle.
- Já liberei o banheiro, se você se quiser se banhar, fica a vontade.
Ele sorriu. Exatamente o maldito sorriu e de uma forma que aliado a forma como está vestido - ou melhor dizendo, não está vestido - ficou malditamente sexy e eu apenas sorri timidamente e corri para o banheiro tentar respirar e manter com minha racionalidade intacta.
Ajustei o chuveiro no mais frio que consegui e entrei de cabeça, esperando que a água gelada retirasse de mim toda a fervura que corria em meu sangue. Aos poucos eu fui me acalmando e percebendo o quão ferrada eu estou.
Vários minutos depois, eu saí do banheiro, assim como ele, enrolada em uma toalha. Ele já estava parcialmente vestido, com uma bermuda caqui, mas seu peito continuava nu. Ele estava sentado na cama com um violão no colo, seus olhos estavam em mim desde que havia saído do banheiro, não dava para ler expressão alguma e sinceramente, eu preferi nem tentar. Talvez e muito provavelmente o que eu veria ali não seria nem um pouco do meu agrado. Fui até minha bolsa, e retirei de lá, a lingerie branca que trouxe um macacão curto que nem me lembrava de ter trazido.
- Quer que eu saia?
- Você que sabe, não é como se eu precisasse me preocupar em trocar de roupa na sua frente, é meio como trocar de roupa na frente da Poly.
Não, não é. Deveria ser, afinal ele é gay e não sente a menor atração por mim e meu corpo nu não causaria nenhum efeito no corpo dele, mas ainda assim... Ainda assim eu sinto vontade que ele me veja, sinto vontade que ele me deseje da mesma forma que eu o desejo. É por isso que eu não quero que ele me veja, porque eu não suportaria olhar em seus olhos, com meu corpo totalmente a mostra, e ver indiferença.
- Acho melhor te dar um pouco de privacidade.