Carol O cheiro de terra molhada dominava a manhã. A Rocinha tinha essa mania de parecer viva demais. Mesmo quando as coisas estavam em silêncio, o morro respirava por entre as vielas, as motos e as vozes abafadas dos rádios. Eu não via quase nada disso. Mas sentia. O tempo todo. A última noite com Gabriel tinha deixado marcas novas. Não físicas — mas emocionais. Ele estava estranho. Mais contido. Como se algo estivesse fervendo por dentro. Uma mistura de dúvida e medo que ele não sabia onde guardar. E, como sempre, quem pagava o preço disso… era eu. Mesmo assim, naquela manhã, ele permitiu que eu ficasse no quintal por uma hora. Uma pequena concessão. Uma ilusão de liberdade. Mas, pra mim, qualquer centímetro fora das paredes já era um respiro. Foi ali, entre as plantas que Luciana co

