Carol A Rocinha nunca dorme. Mesmo quando o tiroteio para, mesmo quando o rádio silencia, o morro continua respirando tensão pelas vielas. Como se a qualquer momento... tudo pudesse explodir de novo. E naquela semana, os olhares se cruzavam como lâminas. As alianças que pareciam sólidas começaram a se partir em silêncio. Inclusive a entre Gabriel e Sombra. Vi com meus próprios olhos. O jeito como Gabriel desviava o olhar quando Sombra entrava na sala. A forma como o tom de voz mudava, seco, como se cada palavra fosse um risco. E Sombra, por outro lado, parecia menos submisso, mais calculista, como se estudasse cada movimento do homem que um dia jurou proteger. Luciana foi a primeira a perceber. — Tem coisa errada — ela sussurrou na cozinha, enquanto eu ajudava a cortar os curativ

