Carol O cheiro de pólvora ainda impregnava os corredores da casa. Tinha entrado pelas janelas, se misturado à poeira, aos lençóis, às minhas roupas. Estava na minha pele, nos meus cabelos. Era como se a guerra tivesse se agarrado em mim, feito marca. E talvez tivesse mesmo. Porque não era só o tiroteio da noite passada que tinha deixado feridas — era o que veio antes disso, e o que eu carregava no peito há semanas. Gabriel estava sentado na varanda dos fundos, com um copo de uísque na mão, camisa aberta, ferimento costurado no ombro. Eu observei por segundos, sem ser notada. Ele olhava para o horizonte da Rocinha como se carregasse todo o peso daquele lugar nas costas. Mas o que ele ainda não percebia — ou fingia não ver — era que estava colocando esse mesmo peso em mim. E eu estava fart

