EPISODIO 1
ESMERALDA
EM ALGUM LUGAR SECRETO DA COSTA DO PACÍFICO NO MÉXICO
Eu olho para o meu quarto e luto contra a vontade de gritar.
É linda por onde se olhe. Os melhores móveis. A arte mais cara. Mas a vejo como o que realmente é:
Uma maldita gaiola dourada.
Os meus olhos param no painel de imagens que coloquei quando tinha quinze anos. Ainda me lembro do primeiro que colei lá: um brilhante postal de Florença, Itália.
Passaram sete anos desde que eu coloquei lá. O cartão postal não é brilhante. Está, velho e desbotado, um lembrete constante das
invisíveis barras de aço que rodeiam a minha vida.
O painel mostra todos os lugares que sempre quis ir. O Coliseu de Roma, a Grande Muralha da China, as pirâmides do Egito.
Mas tudo isso são apenas fantasias. Só tenho saído da casa do meu pai muito raramente.
A foto da nossa última viagem também está lá.
Na fotografia, meu irmão mais velho, César, está de pé ao meu lado, com o seu braço de maneira protetora sobre os meus ombros. A Torre Eiffel, atravessa nuvens baixas atrás de nós.
Ambos estamos sorrindo.
Alheios ao futuro.
Alheios ao pouco tempo que nos restava juntos.
Passaram anos desde a morte de César, e ainda me dói pensar nele.
Você deveria estar aqui comigo! Eu penso.
Talvez, então, as coisas seriam diferentes.
Os meus dedos acariciam o rosto e para por um momento. Mas quando as lágrimas começam a brotar nos cantos dos meus olhos, eu tiro a foto do painel e coloca em cima da mesa, virada para baixo, para não ter que olhar para ela e lembrar de tudo que eu perdi.
Uma batida na minha porta interrompe os meus pensamentos.
Eu giro para olhar para a porta. — Sim?
— Senhorita Esmeralda, o seu pai pede a sua presença lá em baixo, no salão formal.
A voz sufocada pertence a Sofia, uma das moças que trabalha aqui na cada do meu pai. Fecho os olhos por um momento e respiro
profundamente.
A única razão para o Papa, "solicite" a minha presença na sala de estar formal é para que eu possa ser o seu pônei de exposição.
O meu pai gosta de fazer alarde das suas posses.
E, infelizmente para ele, eu sou sua jóia da coroa.
Abro a porta e olho para ela. É pequena, mexicana, tímida, linda.
— Será que eu deveria enviar como resposta, que ele fosse a mer*da? Digo para ela em voz baixa.
Sofia estremece como se eu tivesse dado um tapa na cara dela.
É só uma brincadeira, é claro. Mas ela viu do que o meu pai é capaz.
Ambas sabemos que dizer isso me faria ganhar um mês no porão.
Eu suspiro. — Não importa. Obrigado, Sofia. Por favor, diga a Papa que eu desço imediatamente.
Espero que ela balance a cabeça com a sua habitual maneira respeitosa e se afaste, mas ela continua lá de pé, com o seu uniforme de empregada doméstica branco e preto, contorcendo as mãos com nervosismo.
Não é um bom sinal.
— Existe algo mais, Sophia? Pergunto.
— Senhorita.... Ela diz, num tom de desculpas.
Frunzo o cenho. — O que mais Sophia?
Sophia levanta os seus olhos castanhos para se encontrar com os meus. Está um pouco mais pálida do que o normal, o que é bastante comum quando o meu pai está em casa. Todos andamos com pé de chumbo, cautelosos, quando ele está por perto.
— Também disse que gostaria que você usasse um vestido. Ela diz, baixando os olhos novamente. — Ele disse, algo que impressione um homem, senhorita.
Ele quer impressionar um convidado ou determinados convidados masculinos? Isso não é um bom sinal, com certeza. Eu pendo e dou a Sophia um sorriso forçado. — Se o papa deseja, ele receberá. Obrigado, Sophia.
Uma vez concluída a sua tarefa, o alívio toma conta do seu rosto. Então, ela se apressa pelo longo corredor.
Fecho a porta com outro suspiro, e caminho até o meu closet.
É bem grande, e facilmente poderia ser um quarto.
Uma grande ilha central contém os meus artigos básicos, jóias e roupa íntimas.
Em Frente à ilha, há um espelho e os meus itens de higiene pessoal.
As prateleiras ocultos por trás dos painéis de mogno estão cheios de toneladas de roupas de grife. Provavelmente meio milhão de dólares da melhor moda que o mundo tem para oferecer.
Usei muito pouco de tudo isso.
Por que me preocupar? Nunca saio nunca desta casa.
Mas, esta noite, é diferente. Algo está acontecendo.
Eu escolho um vestido clássico Prada, sem mangas com um decote alto e eu calço um
par de Jimmy Choos com um salto de 7 centímetros.
Antes de descer, eu paro em frente ao espelho de corpo inteiro para ter certeza de que eu estou vestida para o papel. Papa ficaria furioso se eu estiver um pouco menos que deslumbrante.
O tom jade do vestido destaca as pequenas manchas verdes nos meus olhos cor de avelã. O meu cabelo castanho escuro cai em cascata em ondas desordenadas por minhas costas e as minhas bochechas ainda conservam um pouco de cor da minha corrida hoje pela manhã. Eu adiciono um par de brincos de diamantes e coloco um pouco de brilho natural nos meus lábios.
E então a transformação é completa.
Abracadabra, rápida mudança: Me transformo na filha do Don.
O seu belo pássaro enjaulado.
Isso me faz sentir nojo.
Quando terminou, eu saio do meu quarto e ando o caminho para o salão formal.
A casa do Moreno, é mais como uma fortaleza, na realidade, é um labirinto em expansão. Então, demorei quase cinco minutos para chegar até lá.
Passo pelas quadras de tênis, piscinas, vários jardins e as duas cozinhas. Todo cheio das melhores coisas que o dinheiro pode comprar. Dinheiro da droga, para ser específica.
Eu ouço as vozes dos homens que riem quando chegou à porta de bronze do salão. Apoio a mão na maçaneta da porta, mas antes de
abrir, eu para por um momento e respiro fundo.
O rosto de César naquela fotografia em Paris continua flutuando na minha cabeça. Rindo, despreocupado.
Eu trago a minha amargura a tona.
Coloque a sua máscara de "boa filha" me lembro, ou você vai ter que pagar mais tarde.
É assim que me, sinto. Colocando a minha máscara.
Sorriso perfeito, filha perfeita, esse é o lema que me mantém com vida.
Papa não aceita menos.
Eu me lembro de quem eu sou, ou pelo menos, quem se espera que eu seja: Esmeralda Moreno, princesa do cartel Moreno, a solteira mais cobiçada de todo o mundo do tráfico de drogas mexicano.
Abro então a pesada porta e deslizo para dentro.
Imediatamente, a conversa fica mais suave. Os olhos se voltam para mim.
A voz do Papa atravessa a sala. Estrondante.
— Ah, Esme! Você está aí. É assim que meu pai me chama. Eu odeio que ela faça isso.
Ele se levanta da sua poltrona de couro e caminha até mim, colocando a sua mão na parte baixa das minhas costas e me conduz para seus convidados como se estivesse oferecendo carne para os tubarões.
Ele diz para os homens bem vestidos, que estão sentados: — Senhores, apresento para vocês, a minha filha, meu orgulho e felicidade, Esmeralda Moreno.
Orgulho e felicidade? Isso é uma mentira. Tão mentiroso que me dá vontade da nojo.
Não posso nem explicar, o quanto é r**m a nossa relação. Tudo que eu mais desejo no mundo é matar o meu pai.
Esse largo sorriso, essa mão paternal nas minhas costas... é tão falsa, que me dão vontade de vomitar.
Se estes homens soubessem o que é realmente ser a filha de José Moreno.
Se apenas uma pessoa soubesse como é realmente.