Ato I

1066 Words
A escuridão habitava dentro dele. Não se lembrava de como era não ser temido ou não odiado. Pessoas desviavam do seu caminho todos os dias, a única que sempre corria em sua direção era Mel, doce, pura e um convite para todos os seus demônios se libertarem, mas Russo se tornou um soldado justamente para aprisionar os seus demônios, só os deixava sair em serviço ou durante uma caçada. Caçava feras ainda piores que ele. Tinha voltado ao condomínio da “família” naquela noite, como o bom soldado que era, tinha cumprido cada coisa pedida pelo chefe. A blusa que vestia foi para o lixo, pois a blusa branca se tornou vermelho sangue. Calça e botas ganharam o mesmo destino. A sua entrada foi pelo portão de serviço, o soldado que o viu, fingiu que não, esse era o código, nada se via ou ouvia. Ninguém sabia quando ele saía ou voltava, só os chefes: Pedro, Xavier e Estefano. A sua vida era uma incógnita para a maior parte das pessoas. Russo precisava estar no seu quarto na casa do chefe, era o soldado de confiança de Hernandez Xavier, um dos chefes da máfia americana. No entanto, pediu na semana anterior uma mudança de posto, desejava ficar na guarida, era campo aberto e a filha do chefe não poderia lhe fazer juras de amor na frente dos outros soldados. Fugia do amor de Melinda Xavier, era a coisa mais sensata e mais difícil que fez nos últimos anos. Se afastar de Mel era o melhor a se fazer, não podia mais continuar com as brincadeiras. Primeiro, porque Xavier o condenaria por traição, e segundo, se a condenação não acontecesse, seria obrigado a subir ao altar, e definitivamente não se casaria. Não se casaria nem mesmo com Mel, só de se imaginar um marido novamente, a lucidez ameaçava o deixar, tinha tentado suportar a ideia de um relacionamento, só que não era possível, não mais. Depois do banho: A porta do seu apartamento estava aberta, necessitava de ar, se sentia aprisionado algumas vezes, o passado era o guardião de sua vida o impedindo de dizer sim aos desejos da ratinha que o amava, a chamava de ratinha, porque ela roubava as suas blusas usadas para dormir com elas, ele estava sempre sentindo falta de uma peça. Mas isso acaba naquele dia, ia instalar uma fechadura digital em seu apartamento e a afastaria. Russo fugia, mas alguns desejos não eram realizados, fugir talvez não seria uma opção. Russo bebeu uma cerveja, sua vontade era de algo mais forte, mas o trabalho o esperava. Saiu do seu apartamento no condomínio da família. Ele entrou pela área de serviço e subiu ao quarto que ocupava em noites de trabalho na casa do chefe. A verdade era que amava a filha do chefe, mas se recusava veementemente a um casamento, não era um homem para isso, não depois da primeira experiência conjugal que viveu e decidiu permanecer solteiro por toda a sua vida. Felizmente, a única que o desejava como marido era Mel, e não era difícil se livrar do campo de direção dela. Mel se casaria e ele estaria livre, o peitto queimava pelo que sentia, mas o seu peitto já havia queimado várias vezes e estava vivo, infelizmente estava vivo. Tinha dado boas vindas à morte, mas pelo jeito nem o inferno o queria. Seria um concorrente à altura para o di@bo. Talvez ganhasse de primeira. Avisou ao chefe que estava em seu posto, Xavier estava fora, mas estaria em casa pela madrugada. Fez a ronda pela casa, viu Mel no corredor com a mãe, ganhou um olhar suplicante por um contato, mas já havia decidido se afastar. Mel sofreria alguns dias e logo se encantaria com o noivo e com a proteç@o que receberia. A vida não era o conto de fadas moderno que ela acreditava, e não revelaria para ela que a fera existia de verdade, muito mais perigosa e muito mais cru£l do que a fera dos contos de fadas. Não era o homem certo para acolher uma criatura doce como Melinda, nem sabia nada sobre gerenciar um casamento adequadamente,ou de amor conjugal, não amou a primeira mulher e tudo acabou tragicamente. Agora, tudo aquilo havia ficado para trás, e não traria de volta. Tinha direito a escolher que caminho seguir, e escolhia ficar sozinho, a solidão para um homem como ele, era o melhor caminho. Entretanto, Mel se recusava a deixar Russo ir, tinha nojo do noivo fino e culto que o pai arrumou. E Lua , a irmã gêmea de Mel, estava decidida a não permitir que a irmã se casasse por obrigação. Se a irmã queria Russo, era Russo que a irmã teria. Russo ativou os alarmes da casa, ninguém sairia mais, e nenhuma pessoa poderia entrar. A casa nesse momento, era como um forte cofre, e ele era o guardião. Depois de se certificar que tudo estava adequadamente fechado e ativado, se refugiou no seu quarto, trancou a porta, notou Mel tentar abrir por fora ,mas fingiu que não, era o melhor e a sua decisão já estava tomada. E ela precisava entender. Em alguns momentos acreditava que aquilo era mais um capricho do que amor,a menina acostumada a ter tudo, não podia ter o soldado. E Russo chegava a pensar que se já tivesse lhe oferecido pelo menos parte do que Mel queria, o encanto teria acabado, quando a menina recebesse um pouco da brutalidade que habitava nele, seria o fim do encanto, mas não trairia Xavier, e nem a palavra que empenhou para Pedro, o seu e chefe. Pela madrugada, escutou batidas, ficou tentado a não abrir, mas podia ser algum problema. Mel ia entrar para o seu quarto, mas ele impediu: _ Não pode entrar dessa vez _ Russo.. _ Chega Mel, se continuar vou pedir guarida para Pedro O el chefe o receberia como escolta, além de Pedro fazer parte direta do comando, era um amigo de Russo. Ela tinha uma garrafa de suco na mão, ofereceu a ele. _ Não pode nem mesmo aceitar um suco, Russo? Ele pegou a garrafa de 600 ml. _ Obrigado! Para o seu quarto, e não volte aqui, essa é a última vez. Foi ríspido, ela precisava se afastar. Ele se sentou na cama, bebeu o suco, assim que sentiu o gosto , soube que havia algo dentro do líquido.
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