Heloísa narrando
Quando eu cheguei na favela, os moleques me levaram direto pra uma salinha. Eu sabia que eu ia pro desenrolado e eu vim direto pra cá pra esperar, ali, sozinha, ouvindo tudo. Do outro lado da parede, o desenrolado já estava acontecendo, vozes se exaltando, gritos abafados, tensão pairando no ar como fumaça densa de cigarro velho. E eu, sentada naquela cadeira dura, só escutava. Cada palavra da Mara, cada insulto que ela lançava contra a minha filha, cada vez que ela chamava a Mariana de bastarda, cada vez que ela tentava diminuir a existência dela como se fosse descartável, como se não valesse nada… Aquilo ia acendendo em mim uma chama antiga. Uma raiva que eu guardei por anos. Um ódio que eu enterrei no peito pra proteger a minha família.
Cada grito dela era como um so
