Capítulo 01
Barbara narrando
- Barbara, corre pra casa, o coringa tá lá, maior gritaria com a tua mãe, brota mona, porque o babado tá sinistro, tá cheio de bandido na tua casa — eu recebo uma ligação da minha colega no meio da aula das crianças e saio correndo subindo o morro de moto a milhão
De primeiro momento eu pensei que fosse algo com o meu irmão que é deficiente, mas quando cheguei em casa dei de cara com o escroto do coringa no meio da sala com o fuzil na cara da minha mãe. O meu irmão gritava chorando desesperado na cadeira de rodas, implorando pro coringa parar, e eu não entendi nada
— que p***a tá acontecendo aqui ? Tá com o fuzil na cara da minha mãe por que ? — eu nem medi o tom de voz
Me enfiei na frente dela, dando um tapa no bico do fuzil e encarando o coringa de frente, sentindo ele apertar o fuzil no meu peito, mas eu não desviei o olhar dos seus olhos
— tá achando que e quem pra falar comigo desse jeito ? Ficou maluca, p***a, esqueceu com quem tu tá falando ? — ele fala vindo mais para perto do meu rosto e apertando mais o fuzil no meu peito
— eu quero saber que zona é essa, por que tu tava com o fuzil na cara dela ? — eu respondo sem medo encarando ele bolada
Por dentro eu estava tremendo, não sei se de ódio ou medo por essa situação confusa, mas eu não deixo ninguém tocar na minha família, nunca! Isso eu não admito.
Eu faço de tudo pela minha família, e desde que meu irmão foi atingido por uma bala perdida quando era criança, quando ele ficou tetraplégico, e minha mãe largou tudo pra cuidar dele, porque ele depende de uma pessoa 24h. Eu comecei a trabalhar pra sustentar a casa, porque só o benefício dele não dava. Eu sempre fui a rocha desse lar. Sempre fomos nos três. Minha mãe, como muitas, é mãe solo, o pai do meu irmão - que nao era meu pai - ele foi morto dentro da cadeia. Quis bancar de fodao para os cara lá dentro e apagaram ele. Mas também, ele não fazia diferença nenhuma pra minha mãe, e ela ainda tinha que visitar ele lá. O meu pai, bom… meu pai é outra história…
Essa casa que moramos é alugada, mas tem tudo direitinho, com muito custo, mesmo que muito simples, nós temos de tudo, graças a Deus não nos falta nada. E eu dou muito duro todos os dias para que nunca falte dinheiro, comida, e o nosso aluguel.
O benefício dele é usado apenas para os remédios e exames dele, nada além disso. O restante todo é comigo, porque minha mãe ainda não conseguiu nem se aposentar, para pelo menos ter mais um salário em casa. E mesmo com muito sufoco, e sendo muito nova. Do meu jeito, eu sempre dou conta. Por isso não entendi quando entrei em casa e vi o babaca do coringa aqui dentro desse jeito com a minha mãe. Fiquei cega mesmo. Ninguém me bota medo, muito menos ele. Pra mim ele é só um fudido, um aspirador de pó que tenta me comer desde sempre, e eu nunca dei pra ele. Não sou santa não, já peguei muita gente, vivo a minha vida como qualquer outra pessoa, mas pra ele eu nunca dei a******a. Porque só dele ter um fuzil nas mãos, ter o título de frente do morro, ele acha que pode tudo, e comigo ele não pode nada, nós conhecemos desde sempre, e ele sempre achou que ia me dar o título de fiel, mas esse título eu quero que ele rasgue ou exploda junto, porque eu mesma não faço questão, nunca fiz, e nem nunca quis.
— fala p***a, qual foi do bagulho, que esculacho é esse ? — eu pergunto e ele me joga no sofá com tudo e já vem apertando o meu maxilar e eu travo o corpo bolada sem perder o contato visual com ele
— bagulho é que tem três meses de aluguel atrasado, eu tenho cara de que dá abrigo de graça ? Eu tenho cara de OTARIO NESSA p***a ? — ele se altera gritando na minha cara e meu sangue ferve na hora não acreditando no que eu estava ouvindo
— coringa, por favor, eu vou te pagar, os remédios do meu filho mudaram, eu fiquei apertada, mas eu já te disse que eu vou pagar — a minha mãe tenta puxar ele chorando e ele voa ela longe e eu grudo no pescoço dele na hora quase imobilizando ele, na real é que na hora eu não medi consequência alguma, eu só ataquei pra defender a minha família.
— eu pago, me dá uma semana, eu pago essa p***a, mas não encosta na minha família — eu falo afastando ele de novo da minha mãe
— uma semana ? — ele volta na minha direção dando uma risada amarga — você tem 24h ou eu vou receber o meu pagamento de outra forma e ainda boto vocês pra fora daqui, mas no prejuízo eu não fico, se ligou ?— ele fala dando dois tapinha na minha cara — se ligou ? — ele repete me olhando com maldade — Tu sabe do que eu tô falando…— ele fala sugestivo e eu me controlo pra não apagar ele ali mesmo
Filho da p**a, escroto, aí que ranço desse bosta.
— certo. 24h o dinheiro vai estar na tua mão — eu falo sem saber da onde vou tirar essa grana, mas eu não deixo ele perceber o meu apavoro.
Ele me mira de cima abaixo com aquele sorriso nojento e faz sinal para os seguranças dele circular, mas antes dele sair ele me puxa pelo cabelo colando a minha cara na dele com brutalidade, estávamos tão próximos que eu sentia o bafo de maconha podre, que dava ainda mais nojo dele
— 24h. Nem um minuto a mais — ele fala e eu me afasto dele com força e ele sai dando risada jogando o fuzil para as costas
Assim que a porta bate eu encaro a minha mãe que estava ao lado do meu irmão chorando muito, desesperada, ela me olhava perdida e eu estava tentando controlar as minhas emoções pra não perder a cabeça com ela
— só me explica que p***a foi essa ? Cadê a p***a do dinheiro do aluguel que eu te dou todo mês ? — eu falo com a voz vibrando de raiva encarnado ela
— minha filha, me escuta — ela pede com a voz tremendo e eu estava até ofegante de tanto ódio acumulado no meu peito.
Eu nunca fui humilhada dessa forma. Principalmente porque eu sou correria pra c*****o, ninguém nunca encostou no meu rosto desse jeito. Nem ela, minha própria mãe, nunca me bateu. E aí vem ele ? Um merda desse, porque pra mim ele é um merda. Dar tapa na minha cara ? Insinuar outra forma de pagamento, meter o fuzil nos meus p****s ? Pois eu ia fazer ele engolir cada centavo.
— fala mãe, como assim estamos devendo três meses de aluguel ? Como ? — eu já estava me alterando
— os remédios do seu irmão, dobraram de preço, o último exame apontou que ele está com diabetes também, e aí tivemos um aumento nos gastos — ela fala chorando e eu me senti no sofá
— irmã, por favor, me desculpa — o meu irmão fala e eu n**o fechando os olhos
— eu não quis te falar, e todo dia eu tenho saído pra fazer faxina, quando você sai pra trabalhar, porque os gastos aumentaram muito, e eu não quero deixar tudo nas suas costas, filha, você já não tem tempo pra viver, e eu só queria ajudar… — ela fala e eu sinto o meu sangue esquentar cada vez mais, os meus olhos enchem d’água na hora e uma aflição atinge o meu peito. — eu tenho uma parte do dinheiro, mas o coringa só aceita se for a vista, caso contrário ele não quer nem ver a cor do dinheiro, e eu não queria te falar pra não te sobrecarregar, por favor, minha filha, eu não queria te expor a essa humilhação, eu tô tentando chegar junto nas contas de casa com você… — ela fala chorando e eu n**o
— sobrecarregar, mãe ? — eu explodo — eu dou a vida por vocês, se eu soubesse eu já teria vendido a p***a da minha moto, e não teria que ver um fuzil apontado na tua cara, não teria tomado tapa na cara desse merda, não estaríamos nessa situação — eu acabo me descontrolando e gritando com ela
— minha filha, eu não queria te dar mais despesas, eu estava tentando dar um jeito de suprir o que é minha responsabilidade— ela fala e eu n**o
— não tem desculpa mãe, agora como eu vendo essa moto em 24h pra arrumar o dinheiro ? Me fala ? — eu falo aflita andando de um lado para o outro
— irmã…— o meu irmão me chama mas eu n**o
— Caíque, escuta uma coisa — eu falo indo até ele segurando o seu rosto — você não tem culpa, você é uma criança ainda, você é minha responsabilidade, e eu nunca deixei faltar nada pra vocês, eu sempre dei um jeito, e eu não faria diferente agora — eu falo com ele que chorava muito
Eu dou um beijo na sua testa e me levanto me afastando deles
— filha, o que você vai fazer ? — minha mãe me pergunta se levantando rapidamente — esse é o dinheiro que eu tenho — ela fala e me entrega metade de um aluguel, ainda faltavam 2 e meio
— fica com isso, eu vou dar um jeito — eu falo e vou até a porta
— filha, o que você vai fazer ? Espera, por favor, Bárbara…— ela me grita da porta e eu subo na moto e saio acelerando atrás de uma solução…