Muralha narrando Com certeza ela não fazia ideia do peso que aquele fininho de ouro carregava pra mim. Quando eu passei a mão nele, ali no meu pescoço, não vi só o presente dela. Vi memória. Vi história. Vi meu pai, na última semana de vida, me entregando o último presente que ganhei, um cordão com o mapa do Rio de Janeiro e a palavra “Rei” gravada. Rei era o vulgo dele, e aquele presente foi a última coisa que ele me deu antes de partir. Uma peça pesada, feita sob medida, ouro de verdade, que eu nunca tirei do pescoço desde então. É como se fosse parte de mim, parte da minha armadura. E agora, junto com ele, eu carregava o fininho que a Dona Encrenca me deu. Eu tinha falado que talvez nem fosse dormir em casa, porque ia passar a noite na boca porque tinha carga pra chegar droga, muniç

