Capítulo 1
-Steven não me puxa assim, você tá machucando meu braço!-Eu faço o que eu quiser, por que não cala a p***a da boca e age como a namorada boazinha que você deveria ser em?!Steven me puxa com força pelo meu pulso já machucado, o corredor da Escape Room que estamos parece se comprimir a minha volta, e eu dou graças pela claustrofobia já ter me deixado em paz desde os meus 10 anos, se não a essa altura eu já estaria maluca aqui dentro. Hoje era para ser um dia especial. Faz seis meses que eu e meu namorado Steven começamos a sair.
Seis meses desde que sinto que tomei uma das piores decisões da minha vida, e desde então só vou empurrando com a barriga para algum lugar que não tenho ideia onde ficar ou o que tem lá.
É sempre aquela história, de no começo ele ser um doce comigo e depois começar a mostrar a verdadeira cara. Faz pouco tempo desde que ele começou a mudar comigo, mas percebo os sinais. Percebo sua insegurança, seus ciúmes excessivos e sua tendência a ser violento quando algo não sai como ele quer.
Pensei tanto que podia ser coisa da minha cabeça, se o homem maravilhoso e atencioso que eu tinha conhecido, que me tratava da forma que eu merecia ser tratada, não estava só em um momento r**m ou coisa parecida. Já tive conversas e mais conversas com ele, já toquei no assunto de mais de uma vez, mas ele sempre dava um jeito de me fazer esquecer essa ideia, ao ponto de se jogar aos meus pés se fosse preciso, me pedindo pra dar mais uma chance, que ele ia mudar e ser melhor pra mim, dizendo que não aguentaria ficar sozinho e toda aquela história...eu tive tanta pena, e já paguei o preço por isso algumas vezes.
Tem poucas semanas que eu sinto as coisas diferentes entre nós e escalando de forma bem pior, sinto que talvez ele esteja beirando um limite que não sei se aguento, ou quero arriscar ver o que vai acontecer quando ele cruzar a linha. Eu reconheço os sinais de uma relação r**m como a nossa, mas é mais difícil falar do que fazer. Me sinto por muitas vezes como um hamster em um labirinto, só correndo e correndo pra voltar pro mesmo lugar.
Agora ele caminha à minha frente quase me arrastando pelo braço, com raiva de alguma coisa que eu fiz, sem eu ter ideia do que seja. Eu me pergunto se a nossa relação vai conseguir aguentar até o final do dia.
-Steven, por que você está assim? Será que não podemos só conversar como duas pessoas normais?
Ele para na minha frente e vira pra mim. Tenho certeza que as sombras sob o seu rosto nesse momento são só um dos efeitos desse lugar. Aqui tudo era mais escuro de propósito, tudo é mais sombrio e medonho de propósito, para nos fazer realmente acreditar que a qualquer momento um monstro assassino vai saltar de uma das paredes e arrancar nossas tripas fora.
Mas a verdade era que Steven não precisava de nenhuma ambientação pra me colocar medo. Ele já fazia isso sozinho, e eu sentia minha espinha gelada agora e uma sensação horrível bem no começo da garganta.
-O que foi aquilo lá fora em Cass? Que nível de i********e aquele homem tem pra te chamar daquele jeito?! E você indo lá toda alegrinha abraçar aquele escroto na minha frente, sem mais nem menos. Nem parece que você me respeita quando age desse jeito!!
-A não Steven! Não me diga que toda essa idiotice é só por causa de eu ter encontrado um amigo e ter COMPRIMENTADO ELE, como QUALQUER PESSOA com o mínimo de educação faria??
-Eu reconheço um abraço de amigo quando eu vejo! NÃO ME FAÇA DE i****a - Ele da um soco na parede ao lado, e o som de metal velho ressoa por todo o corredor. Eu me encolho ainda mais.
Ele puxa meu braço com força, me puxando para perto dele, segura meu queixo com a segunda mão livre e me força a olhar pra ele. Seu toque é seco, bruto e me gela ainda mais. Sinto ardendo onde a ponta da sua unha deve estar fazendo um buraquinho no meu queixo. - Você não está por aí enfiando outros paus nessa sua boquinha não é? Faça mil favor...Primeiro são os abraços, depois trocam beijos...e o terceiro passo eu não gosto nem de imaginar agora.
-Por favor...ele era só meu amigo...
Ele me solta e dá mais um soco na parte metálica da parede.
-AMIGO O c*****o!!
Dessa vez me mantenho firme, tentando não pular de susto quando sua voz raivosa ecoou por todo o espaço, ocupando todos os lados. Eu estava começando a me sentir como se fosse sufocar aqui dentro.
Penso em todos os funcionários que devem trabalhar nessa atração, e torço pra eles não terem conseguido ouvir nada disso, aonde quer que estejam escondidos, a pesar de eu achar muito difícil. O parque todo deve ter sido capaz de escutar seu chilique a essa altura.
-Olha, não estamos em local pra discutir agora, podemos fazer isso quando sairmos daqui, e enfim ter uma boa conversa. Acho que precisamos mesmo conversar.
Tento muito não desviar meu olhar quando falo isso, me mantendo firme, mas me sentindo no fundo como um gatinho assustado, que só quer correr e se esconder debaixo do móvel mais próximo, mas sei que se eu recuar agora vou dar ainda mais chance dele fazer o que quiser comigo.
Não era pra ser assim, não era para nada disso terminar assim. Steven já estava exalando m*l humor o dia todo, e tinha passado a semana toda reclamando sobre chefes insuportáveis e xingando o homem que bateu no seu carro da ultima vez que saiu, que agora está num mecânico que estava lhe cobrando o olho da cara por uma coisa simples, de acordo com ele. É incrível a forma que as coisas vão escalando, e uma hora r**m logo logo passa a ser um dia r**m, uma semana r**m e um mês terrível logo em seguida.
Eu não estava interessada em vir nessa Escape room, estaria muito mais tranquila tendo essa conversa em um banquinho rodeado de pessoas ou até mesmo em algum brinquedo que não tivesse uma luz vermelha e teias de aranha falsas no teto e nas paredes, mas Steven simplesmente agarrou meu pulso com força e me puxou para cá bufando depois de eu ter esbarrado com um amigo da época do colégio e cumprimentar como qualquer pessoa normal faria.
Eu dou um puxão para soltar meu pulso. Estava bastante dolorido a essa altura, mas ele o solta e eu começo a andar na frente, torcendo pra que ele ainda tenha um pouco de racionalidade e esqueça esse assunto. Eu só quero encontrar a saída desse lugar o mais rápido possível
Eu consigo dar uns três passos antes de me sentir ser puxada de novo.
Steven com a mão livre afasta para o lado uma cortina de panos pretos rasgados da parede, revelando uma pequena cabine que lembra um almoxarifado, vazia. Imagino que seja de lugares como esse que os atores deveriam se esconder e saltar quando suas vítimas desavisadas estiverem passando, dar um clássico booh fantasmagórico e pronto. Estava vazio agora, para minha infelicidade e desespero. Onde estavam todos? Tudo bem que esse parque é uma porcaria, indo a falência e caindo aos pedaços, m*l tem atrações e as que têm não são muito visitadas ou coisa parecida, mas eu esperava pelo menos uma mulher vestida de Samara a essa altura.
Ele me puxa junto com ele e praticamente me joga na parede do pequeno cubículo, deixando os panos caírem atrás dele e nos deixando no escuro. A única luz ali é o suave filete de luz vermelha nos nossos pés.
Eu percebo o quanto eu estou lascada.