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1612 Words
Aurora Não era a primeira vez que recebia de castigo ter que fazer o meu serviço e os das minhas primas, sinceramente? Achei que seria pior. A parte r**m desse castigo é ter apenas 2hrs para conseguir lavar todas as maquinas e carrinhos de pipocas, limpar o salão principal e varrer ao redor. Eu transpirava tanto, que sentia cada gota de álcool saindo do meu corpo. Acho que agora eu entendo o ditado que diz “um sol pra cada cabeça” Cleo se ofereceu pra me ajudar, mas eu prefiro fazer sozinha para não sobrar para ela depois, porque o tio Vagner é a mesma coisa do Valter. E ele de minuto e minuto passava por aqui, verificando as maquinas, me fazendo limpar algumas novamente por pura implicância. Ergui minhas costas e fiz uma pausa para beber água, que estava um pouco quente. Minha cabeça girou ao redor e quase não acreditei quando vi o Kauê, Aline, Mathias, Paloma e Guilherme. — Pior do que quem bebe na segunda, é quem bebe na terça-feira. — coloco minhas duas mãos na cintura caminhando até eles. — E quem disse que viemos te carregar pra tu encher a cara? Se situa. — Kauê é o primeiro a falar e eu faço uma careta. — A gente veio ajudar tu. Ficamos sabendo que teu tio te colocou de castigo por nossa causa— Paloma continua. — Agradeço pela a boa intenção, mas não precisa. Isso aqui é meu trabalho e eu dou conta. Como vocês ficaram sabendo disso? — Guilherme tem olho e ouvidos em cada canto desse morro. — Aline toma a frente. — além disso, vai ser divertido te ajudar, deixa de ser boba! — Bora logo pô! Marquei de comer uma mapoa, que eu conheci aqui. — Mathias sai puxando Kauê. — vai Aurora, tem o que pra fazer aqui? — Gente é muita coisa, eu dou conta sozinha. — resmungo um pouco nervosa e emotiva mesmo com as palavras depravada do Mathias. Segurava firme minhas mãos, achando aquilo tão… confortável. — Se tu sozinha da conta, seis pessoas é mais rápido ainda. Anda gata, estamos perdendo tempo! — Paloma fala segurando a cintura. — Eu tenho que limpar essas maquinas e carrinhos, limpar a tenda principal e varrer boa parte desse campo. — c*****o, seu tio é um cuzão de mandar tu fazer isso tudo sozinha. — Tá tranquilo, Guilherme. Pelo menos ele não me proibiu de sair “ainda” — falo vendo os outros quatro indo colocando a mão na massa. — acho que ninguém nunca se importou tanto comigo assim. Guilherme se aproximou mais me puxando pra ele, seus braços me rodearam e eu relaxei meu corpo deitando minha cabeça sobre o seu peitoral. Meu coração acelerou com aquele pequeno gesto e sentir o dele da mesma maneira, o que me fez sorrir. — Bobo é quem perde a oportunidade de ficar cada segundo do teu lado, e não aproveita tuas qualidades. — Tudo bem! Nem todos tem a mesma sensibilidade de enxergar a exuberância em cada um. — um sussurro escapa de mim. — eu seria a pessoa mais sortuda do universo se pudesse ficar assim pra sempre com você. Ouço um sorriso vindo dele, e eu levanto o rosto pra encarar. Seus olhos agora, encarando os meus faziam a vontade só intensificar. — Ai Aurora, tem mais sabão? — Mathias gritou, chamando nossa atenção. Antes que eu pudesse responder, ele jogou um balde de água na Paloma. Agua com sabão! — Meu cabelo, seu filho da p**a desgraçado! Mathias sua peste, eu vou matar você! — ela grita, e tenta tacar um balde nele. O que me arrancou uma gargalhada. — Desculpa Pá, foi sem querer pô. Chefin segura tua irmã aqui, ó! — pede enquanto Paloma dava vários tapas estralados nas costas dele. — Acho melhor eu ir lá, antes que eles se matem! — Guilherme diz, puxando a gente em direção aos dois briguentos. Paloma só parou de bater nele, quando Mathias jurou que pagaria um mês de salão pra ela. As costas dele estava com cada vergão, que foi inevitável não sentir dó. — Que isso aqui, Aurora? — Meu tio se aproximou com a Helena, e a esposa dele. — fiquei sabendo que aqui estava uma bagunça. — Não tem bagunça nenhuma, tio. São só os meus amigos que.. — Tamo ajudando ela, já que foi nos mermo que carregou ela ontem. — Kauê falou, colocando os braços em frente o peito. — Sim. Tem problema ajudar ou tu vai castigar ela por isso também, ein? — dessa vez foi o Mathias e a medida que meu tio ficava vermelho, eu tremia mais. Fechei os olhos e apertei o punho, torcendo para que isso acabasse logo. — Tá de boa, coroa. Tem nada de errado aqui! — Guilherme completou, e em seguida um silêncio reinou. Silêncio típico de uma bomba prestes a explodir. Quando abrir meus olhos novamente, eles já tinham se afastado o suficiente para eu soltar o ar que havia prendido esse tempo todo. […] Mal acreditei quando terminamos tudo que eu tinha que fazer. Foi sim mais rápido, porém ainda sim foi cansativo, ainda mais pra mim e as meninas que estávamos de ressaca. Quando eles foram embora, e eu fui correndo me arrumar para o meu espetáculo da noite, que seria sozinho também. A Helena ficou o tempo inteiro no meu pé, dizendo que havia se interessado no meu “amigo” e queria que eu apresentasse os dois. Meu amigo Guilherme… Eu queria dizer pra ela: “sinto muito, mas ele não está disponível” ou algo assim. Mas eu sei me colocar no meu lugar. A gente ficou só uma vez, não temos nada e ele tem todo o direito de ficar com quem ele quiser, pois os meus dias nesse lugar estava contados. — Já está na hora, garota. Vai! — minha tia grita, e eu seguro firme a ansiedade e entro no palco. Isso é o que eu sei fazer de melhor. Aqui é onde eu me desligo do mundo e imagino uma realidade diferente. Realidade aquela em que minha mãe está comigo, mas hoje foi diferente porquê o Guilherme estava na primeira fila, me admirando com os mesmo olhos que minha mãe me admiraria se estivesse viva. Eu sorrir para ele, ele sorriu para mim. E seus olhos me acompanharam até o ultimo minuto da apresentação, onde eu agradeci o pessoal e sair do palco sentindo um frio na barriga. Entrei no pequeno camarim, e antes que eu pudesse tirar a roupa, tio Valter entrou furioso. — Olha aqui, Aurora! Você não caça jeito de sair daqui hoje não ein? Eu estou falando sério. — Que eu me lembre, não tem nenhuma regra que me impeça de sair. E mesmo se tivesse, eu já sou maior de idade, o que significa que eu tenho total controle sobre minha vida. Se isso te incomoda, peço que crie uma regras para todos. Quem sabe assim eu não siga também? — A pior coisa que sua mãe poderia ter feito, foi morrer e deixar você. Preferia que fosse você no lugar dela, tenho certeza que eu teria um pouco de paz. — Eu também gostaria que tivesse sido eu. Pois pra mim ela era, e sempre será minha única família. Sua filha é um doce igual a mim. A única diferença entre eu e ela, é que eu sou um livro aberto, já ela? Nem tanto. E eu aposto que você não sabia que ela estava querendo que eu apresentasse um amigo “traficante” para ela. Ou talvez até saiba, mas isso pra Helena não é o fim do mundo não é? — Vá pro seu trailer e não some de lá garota, ou então vai se arrepender. — diz entre os dentes. — Eu vou ir, mas já deixando ciente que não vou dormir lá de novo. — pego minhas coisas e junto tudo na minha mala sem prestar o serviço de trocar de roupa. — Aurora, não me testa! — eu dou os ombros, e saio sem um pingo de peso na consciência, somente pisando fundo, as lágrimas começaram a escorrem no meu rosto, mas carregadas de ódio. Minha mãe sofreu tanto na mão dos meus tios, a verdade é que eles sempre arrumariam alguém “inferior” para pisar e como Dalva morreu, eles agora pisam na Aurora. Meu Deus! Eu queria tanto que ela tivesse aqui comigo, sei que nos duas conseguiríamos juntas, ela teria me protegido de tudo e de todos, eu sei que sim! Agora as lágrimas são de dor. Era verdade o que eu tinha dito: Ela era minha única família, doía mais que tudo a partida dela. Isso nunca curaria e ninguém iria arrancar essa dor de mim. Abraço meu corpo numa tentativa falha de me consolar. Eu grito até que minha garganta arranhe e meu peito implore por ar. Não quero parar de gritar e eu não paro. Grito mais alto sabendo que ninguém me ouviria daqui. Ironia do destino é alguém como eu. trabalhar em um lugar que faz os outros felizes e ser tão triste. — Eu tava procurando tu, o que aconteceu? — ouço mas não tenho forças de erguer os joelhos e nem encarar ninguém. Porém sinto braços me erguendo e rodeando nas minhas costas. Aquele cheiro único e confortável me invadiu e meu corpo automaticamente reconheceu. Eu não precisava me acalmar agora nem muito menos me explicar. Não tinha forças para isso e ele entendeu pois não me perguntou nada, somente segurou o meu corpo firme, enquanto meu mundo desmoronava.
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