T A Y L O R
2
Os trovões ecoando pelo céu, por consequência da tempestade que inundava a cidade, me acordou pela manhã. Olhei através da persiana e não consegui enxergar nada pelo vidro embaçado, então, esfreguei meus dedos pela janela e forcei as vistas para enxergar o lado de fora. As ruas estavam alagadas e o vento soprava tão forte, que tive a impressão de que aquela tempestade levaria minha casa junto com a enxurrada.
— Taylor querida, já está acordada? — As leves batidas na porta e o som da voz da minha mãe, me tirava dos meus devaneios. Ainda um pouco sonolenta, tentando me recompor da rave que havia ido na noite passada, esfreguei os olhos e tentei ao máximo esconder as roupas de festa por baixo das cobertas. Meu hálito cheirava a álcool.
— Já mãe, pode entrar. — Minha voz estava rouca, e além de tudo o corpo dolorido pelos roxos e arranhões que estavam cravados em meus braços. No entanto tentava disfarçar tudo com um imenso sorriso. Mamãe se aproximou na cama e se sentou aos meus pés.
— Tenho uma noticia boa e uma r**m. Qual você quer ouvir primeiro? —Seu ar era de preocupação, aquilo me deixava ansiosa e me fazia temer o pior.
— A boa. — engoli a seco já imaginando o impacto que a notícia r**m iria me causar. Talvez a notícia boa, poderia amenizar o impacto da notícia r**m.
— Você não vai para a escola hoje. As ruas estão alagadas e não terá como dirigir pela cidade. — Antes que eu pudesse abrir um sorriso empolgado, mamãe suspirou, aquela expressão já me era familiar. No entanto eu cruzei os braços fingindo que a noticia r**m, me deixaria surpresa, nem que fosse um pouquinho. — E a r**m é que seu pai não poderá vim te buscar hoje. Ele disse que está muito ocupado no serviço e não teve tempo para vir.
— Ele nunca tem tempo. Já estou acostumada com a ausência dele, que já nem sinto mais falta. — O desdém era nítido em meu tom de voz, mas eu tentava esconder a decepção que eu estava sentindo por dentro. Minha mãe olhou para mim e suspirou triste, antes de se levantar e depositar um beijo suave no topo da minha cabeça.
— Vou fazer um chocolate quente para você tomar querida. Hoje vamos aproveitar para passarmos o dia juntas. — Seu sorriso era gentil e dócil, mamãe sempre tinha uma forma de melhorar o dia. Eu tinha tanta sorte.
— Obrigada mãe. — Minhas palavras saiam trêmulas, John sempre foi assim, irresponsável. Para que ter pai se ele nunca tem tempo para você? A existência dele para mim era totalmente inútil. Quando era mais nova, a ausência dele me machucava, o fato dele nunca me procurar, nem sequer ir as minhas apresentações da escola, fazia com que eu me sentisse completamente abandonada. Mas depois que completei os meus dezessete anos, passei a pouco me f***r com o que John fazia de sua vida. Fazia cinco anos que meu pai não morava mais comigo e com minha mãe. Ele sempre foi muito ocupado com seu trabalho e não tinha mais tempo para dar carinho a sua própria esposa. Minha mãe não aguentando mais ter que dormir sozinha todas as noites, resolveu se divorciar de John e me levou junto para morar com ela. Eles brigaram bastante pela minha guarda, eu temia que meu pai ganhasse a disputa, simplesmente por ele ter muito dinheiro para subornar os juízes. John quase ganhou, a minha sorte foi que de última hora ele decidiu que a guarda deveria ser da minha mãe, ele era ocupado demais para dar os cuidados e atenções que eu precisava. Minha mãe nunca gostou da fama, de sair na rua e ser entrevistada pelos feitos de John. Se fosse para ter fama, ela queria que fosse uma que ela mesma tivesse conquistado, eu também não aguentava toda aquela pressão na escola e nas ruas. As meninas sempre perguntando: “Como é ser filha de John Walker?” “Nossa, porque ele é tão gato?”. Aquilo era um pé no saco. A escola era uma das minhas maiores preocupações, não ir, mesmo que fosse por único dia, já podia alegrar todo o m*l estar que estava sentindo. Precisava de pelo menos um dia de folga de todo aquele pessoal. Sabe aquelas escolas cheias de grupinhos que eu costumo os caracterizar como "pessoas nojentas"? Então, minha escola era uma dessas. Eu não me encaixava em nenhum desses grupos, eu era só uma estudante normal querendo completar com rapidez o ensino médio. Não tinha tempo para xeretar na vida de outras pessoas e criar o meu próprio grupo. Mas as pessoas pareciam ter tempo de sobra para isso. Algumas horas antes da rave, eu tive mais um dia comum no colégio, as mesmas pessoas, os mesmos grupos, e Zoe e eu sentadas a mesa do refeitório almoçando. Até que algo inusitado aconteceu. Madison a menina mais insuportável da nossa escola, caminhou em direção a nossa mesa do refeitório, ela parecia furiosa.
— Taylor Walker. — Madison chamou meu nome com raiva seus lábios e sua testa franziam, marcando suas linhas de expressão. Madison nunca gostou de mim, desde quando estávamos na primeira série do ensino fundamental. Ela tinha muita inveja porque eu sempre fui muito boa e descolada em tudo que eu fazia.
— O que foi? Quebrou uma unha? — Eu nem sequer olhava para a cara dela, meu lanche parecia bem mais apetitoso, eu conseguia ouvir Zoe engasgar ao meu lado. O fato de eu ignorar Madison parecia a irritar ainda mais. Ela bateu nervosa as suas mãos na mesa para chamar a minha atenção.
— Quero saber porque você está dando em cima do meu namorado?! — A loira bufava, aquilo era tão ridículo que eu levantei meu olhar para encarar os seus olhos. Aquela cena me fazia rir.
— Sério isso? Qual deles. — A minha perguntava a deixava vermelha, Zoe já não conseguia mais segurar a risada.
— Claro que é o Gabriel Simons, sua i****a. Você sempre teve inveja de mim, né? Você não aguenta que eu sou a melhor. — ela cuspiu as palavras com um aquele seu ar superior e arrogante de sempre. Ao ouvir o nome do rapaz, eu não deixei de fazer uma expressão de nojo.
— Em primeiro lugar, que nojo. E em segundo, querida, hello?! Eu sou sapatão.— A minha expressão parecia chocar Madison, a escola inteira já sabia a respeito da minha sexualidade, não que eu devesse algo a alguém, no entanto ela era inacreditavelmente burra.
— O que ? — O choque repentino em suas palavras me fazia suspirar, eu somente dei de ombros.
— Foi o que você ouviu, agora some porque você está estragando o meu almoço. — Somente fiz um sinal a mandando pastar, foi de relance que eu vi o sorriso i****a em seus lábios, antes dela dar as costas para a nossa mesa.
— Vamos meninas, ela deve estar dizendo a verdade. Afinal, ela sempre andou com a Zoe Pé de macho, não era de se esperar. — O Satã dizia chamando suas escravas. Eu normalmente não ligava para os comentários de uma v***a como a Madison, mas o olhar triste e vazio da Zoe fez o meu sangue ferver e os meus punhos latejar. É aquele velho ditado, mexe comigo, mas não mexe com a minha garota. Levantei da mesa e caminhei em direção a Madison, que já se encontrava afastada alguns metros do lugar onde eu estava.
— Do que você chamou a Zoe ? — Meu tom de voz era alto o suficiente para fazer Madison pular, meu sangue fervia de uma tal forma, que parecia que eu estava prestes a explodir. Madison se virou brutalmente e olhou no fundo dos meus olhos.
— Foi isso mesmo que você ouviu sapatona. — Seu tom de voz era alto e sua risada ainda mais, enquanto ela se virava paras suas "amigas." Muitos alunos curiosos já faziam uma rodinha a nossa volta para assistir a briga de camarote. Zoe se aproximou e colocou uma de suas mãos frágeis em meu ombro.
— Tay, deixa quieto. — Olhei para zoe que me olhava triste e me afastei alguns centímetros da Madison para assim deixar ela ir embora. Eu sempre me rendia as vontades de Zoe. No entanto a v***a estava louca para apanhar, ela olhou para mim com cara de m*l comida e começou a rir ironicamente. Virei de costas para ela tentando conter o ódio que fazia o meu peito inflar, mas o meu instinto me fez apertar o meu punho com força e virar para Madison, já lançando um soco no meio da sua cara lisa sem nenhuma espinha.
— O termo correto pra você, é lésbica. Sua imunda. — O impacto foi tão forte que Madison caiu no chão, ela gritava colocando as mãos no rosto tentando amenizar a dor do soco. As amigas dela me olhavam furiosas e partiram para cima de mim, segurando os meus braços com aquelas enormes unhas de tatu. Eu ia acabar com a raça das filhas do d***o, se não fosse o diretor Simons entrar no meio da rodinha e impedir a briga.
— Parem com isso. — o diretor da escola caminhou nervoso em minha direção seus dedos agarraram o meu braço com força. — Vocês quatro para a diretoria agora.
Depois de ouvir um sermão de uma hora do diretor da escola, ele resolveu chamar os responsáveis para uma reunião para discutir sobre "as atitudes erradas de seus filhos", mas como eu não queria causar mais problemas para minha mãe, menti para o diretor, dizendo que mamãe estava viajando e que eu estava sobre os cuidados da minha tia Marta. Ela sempre me acobertou em todos os rolos que fiz na minha vida, ela dizia que a vida era uma só para não ser vivida. Tia Marta foi me buscar na escola e passamos em um restaurante fast food para comer alguma coisa antes de ir embora. No entanto passei o dia todo tentando esconder os vestígios da briga da minha mãe e me preparando para ir a rave com Zoe durante a madrugada. Mas o que me deixava mais ansiosa, e isso eu não poderia negar, era para ir a praia com meu pai pela manhã e matar a saudades dele, mas ao acordar no dia seguinte e receber a notícia r**m de que ele não iria aparecer, estragou a minha felicidade. Sim, eu fiquei triste, mesmo negando. Porém como se quisesse consertar as coisas, senti meu celular vibrar, quando olhei para o visor, John estava me ligando pelo facetime. Passei o dedo na tela suspirando, eu não sabia realmente o que dizer a ele, então forcei um sorriso ao encarar sua cara de playboy bem vestido.
— Oi John. — Murmurei revirando os olhos, ele era tão cara de p*u que nem sequer percebia a rispidez em minhas palavras.
— Fala gata, tudo bem? — John arrumava seu perfeito topete diante da câmera, ele parecia gostar de me ligar pelo facetime, só para ficar admirando o próprio rosto. Aquilo me deixava enojada.
— Melhor impossível cara.— Forcei um sorriso, no entanto John percebeu, ele imediatamente voltou sua atenção para mim.
— Olha querida eu sei que você está triste por eu não poder ir te buscar. — ele suspirou encolhendo os ombros. — Mas eu prometo que semana que vem, você estará comigo aqui e iremos nos divertir bastante.
— Você é um baita cafajeste John, não acredito em você. — John parecia ofendido ao ouvir as minhas palavras, mas logo suas feições davam lugar a sua habitual cara de playboy novamente.
— Dessa vez é sério minha princesa do rock in roll.— John fez um ridículo sinal do rock diante da câmera, antes de voltar a ficar sério.— Acha que não estou com saudades de você ? Claro que eu estou, mas é que estou terminando de trabalhar em um filme com Evan Peters.— Tudo bem, aquilo era super incrível, porém eu não queria demonstrar empolgação em minhas palavras.
— Eu estou pouco me fodendo, você podia estar fazendo um filme com o Batman, que isso não mudaria o fato de você ser um cuzão. — A cara descontraída de John, me deixava ainda mais perplexa, meu pai era impossível, nem mesmo era afetado pelas minhas palavras de ódio. Ele levava tudo na esportiva, parecia um adolescente, só que com trinta e oito anos.
— Qual é princesa?! Não fala assim com seu pai. — O sorriso largo revelava seus dentes perfeitamente brancos, John parecia um modelo, aquilo era inegável. — Olha eu prometo que vou te buscar, dessa vez é sem falta. Se eu não for, corto meus próprios pulsos.
— Ok, só vou aceitar, só para ter o prazer de te ver cortando seus próprios pulsos. Eu sei que você vai me decepcionar — Somente concordei para desligar a ligação logo, eu não aguentava continuar com aquilo.
— Não vou gata, eu prometo. — John ergueu os dedos, ele podia notar em meus olhos que eu queria desligar, mas antes que eu fizesse isso, ele fez um sinal com as mãos para me impedir. — Não, não, princesa. Quero falar sobre uma coisa com você.Não, não, na verdade sobre uma pessoa. — As palavras atropeladas que saiam da boca de John me fazia recuar, ele realmente parecia muito nervoso.
— Vai me falar que está trabalhando com Jhonny Deep agora? — A vontade de revirar os olhos era imensa, John não perdia a oportunidade de se gabar.
— Não, meu bem. Quero falar sobre minha noiva. Tcharam. — John abriu um sorriso que ia de orelha a orelha, e ergueu sua mão mostrando uma grossa aliança em seu dedo anelar. Meus olhos se arregalaram e meu corpo todo petrificou. Meu cérebro não conseguia processar as palavras que John havia acabado de dizer. A primeira reação que tive foi levar o meu dedo ao botão vermelho de desligar, e fazer sumir o rosto alegre e sorridente de John, da tela do meu celular. Estava tão chocada que deitei na cama sem reação nenhuma e encarei o teto ainda com os olhos arregalados. Eu não podia acreditar no que estava acontecendo. Naquele momento eu odiava John Walker, mais do que qualquer outra pessoa no mundo.