Lara narrando
capítulo 17 cont...
Ele cruzou os braços . O olhar sério de um jeito diferente, não era raiva, nem irritação… era atenção, ou só curiosidade. É impossível decifrar esse homem.
-O que aconteceu? ele perguntou baixo, sem chegar mais perto.- Precisa de alguma coisa ?
- Eu só tenho que ir, tá? respondi rápido, evitando olhar direto pra ele porque eu sabia que se fizesse isso ia desmontar de vez. - Preciso voltar pro baile pra encontrar a Tatinha .
Eu achei que ele fosse falar alguma coisa … mas não falou. Só fez um sinal com a cabeça e virou, caminhando em direção à porta. Eu fui atrás, minhas pernas ainda tremendo, o gosto do beijo dele grudado na minha boca e isso só aumentou a p***a da minha culpa. O caminho inteiro até o baile eu fui calada so se ouvia o barulho do motor . Ele também ficou em silêncio, enquanto minha mente me atormentava cheia de culpa de saber que eu estava aqui enquanto meu filho tá lá doente .
Quando ouvi a música do baile eu sabia que tava perto , e então ele estacionou eu já fui logo descendo e ele também, segurou minha mão e o caminho foi se abrindo , as luzes invadiram a minha visão e a energia quente das pessoas me pegou de volta, minha cabeça estava em outro lugar , no Cauê, na minha mãe, no desespero da ligação. Eu não podia ficar aqui nem mais um minuto. Na escada do camarote eu senti ele soltar minha mão e eu continuei até o último degrau , meus olhos varia o lugar procurando a Tatinha e quando eu encontrei ela , nossos olhos se encontraram , acelerei o passo e fui ao encontro dela , e ela veio no meu.
- Tatinha! minha voz saiu alto ela chegou mas perto por causa da música alta .
- Amiga desculpa, você ta bem ? ela falou me avaliando. - Ele fez alguma coisa contigo? Fala logo, que cara é essa tá branca! Eu mato aquele desgraçado…
-. Não, não… não foi isso . interrompi rápido, segurando o braço dela porque minhas mãos tremiam. -Depois eu te explico, eu juro. Mas eu tenho que ir. Agora. O Cauê tá com febre alta, minha mãe me ligou… eu preciso ir embora. Falei só pra ela .O rosto dela mudou na hora. A expressão endureceu, mas não de raiva de preocupação.
- Então bora. Ela pegou minha mão sem pensar duas vezes. - Bora agora, anda. Sai do baile sem olhar pra trás, não tinha tempo pra isso, tudo que me importava agora era saber do meu filho . E a gente saiu do baile de mãos dadas, passo rápido atravessando a multidão que agora nem se importava de dar espaço pra gente passar .
Pegamos um mototáxi até em casa , não demorou mais que dez minutos , eu subi as escadas do prédio correndo , o corpo suado , o coração acelerado e quando eu coloquei a mão na maçaneta a minha tia já tava abrindo a porta .
- Olá saiu pra curti e deixa o filho doente. Irresponsável, se eu fosse sua mãe eu não aceitava isso não. A crítica dela bateu fundo .
- Eu só acho que a senhora deveria medir suas palavras , a menina já tá assustada. Tatinha me defendeu
- Oque você tá falando aí zinha ? eu já disse que você não tem nada a ver com isso, o neto é meu, eu que concordei com ficar com ele , agora deu viu ... Nem sei oque tá se entrometendo ...
- Desculpa mãe por isso. Falei já sentindo as lágrimas escorrer . - Cadê ele ? passei logo pro quarto ainda ouvindo a minha tinha resmungando, mas ignorei , só queria ver meu filho .
- Ele acabou de tomar banho , mas ainda tá com febre .
- Mamãe.... A voizinha dele saiu baixa dengoso.
- Oi amor ... mamãe tá aqui ! oque ce tem meu príncipe.
- Eu sonhei com papai , ele tava bravo .O quarto tava com a luz fraca, Tatinha parada na porta quieta, com a expressão preocupada , e minha mãe ao lado da cama. Eu continuei balançando ele devagar, fazendo carinho na nuca, tentando controlar o tremor da minha própria mão.
- Filho… olha aqui pra mamãe . pedi baixinho, inclinando o rosto. - Você tá com dor ? tá sentindo alguma coisa ? ele negou com a cabeça. - E a barriga tá doendo ? negou outra vez. - Seu pai não vai brigar com você não, tá? Foi só um sonho. Sonho não machuca ninguém… mamãe tá aqui, meu príncipe. Tô aqui. Ele piscou devagar, os cílios longos colando um no outro, e respirou fundo, quase um suspiro cansado.
Eu vi que ele tava cedendo pro sono, o corpo quente , e o medo ainda escondidinho no olhar.
- Mamãe? ele chamou fraquinho, como se tivesse medo de eu desaparecer.
- Tô aqui… apertei ele um pouco mais no meu peito, beijando o topo da cabeça dele. -Não vou a lugar nenhum, tá bom? Quando senti o corpinho dele relaxar um pouco, virei o rosto discretamente pra minha mãe e cochichei, sem deixar ele ouvir:
- Isso já aconteceu antes… minha voz quase falhou, mas eu forcei firmeza. -Quando ele fica nervoso. Da outra vez também teve febre…Minha mãe enrijeceu o rosto, mas não falou nada. Só assentiu com um suspiro pesado, como se carregasse a mesma preocupação que eu tentava esconder.
Eu continuei ninando ele, passando a mão nas costas dele, e senti quando o respiro ficou mais lento… mais profundo… mas ainda quente não tanto quando eu cheguei .
E eu tentando ser forte pra ele ,quando por dentro eu tava despedaçando. De medo, culpa. E desse nó na garganta que só quem é mãe entende quando vê o filho com alguma coisa e pede pra Deus que passe pra ela.
- Não acha melhor levar ele na upa ?
- Se amanhecer é ele não melhorar eu levo. Mas eu tenho quase certeza que é o emocional dele , meu menino sente muita a falta daquele traste. Falei baixinho .- E ao mesmo tempo tem muitos traumas , eu preciso de uma especialista pra passar ele. Falei passando a mão entre os cabelos dele, sentindo ele começar a suar , sinal que a febre estava baixando graças a Deus.
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