Eu estava deitada na cama do hospital, ouvindo o som das máquinas monitorando meu corpo e o farfalhar das folhas do lado de fora. O sol começava a se pôr, tingindo o quarto com tons dourados. Quando o senador entrou, trazia consigo uma expressão carregada de algo que eu não conseguia identificar: culpa, talvez, ou um tipo de dor que ele nunca deixava transparecer.
Ele puxou uma cadeira ao lado da minha cama e sentou-se em silêncio por um momento. A gravata estava frouxa, e ele parecia mais humano do que nunca, com menos poder, e mais de um homem tentando resolver os próprios erros.
— Isabel — ele começou, a voz baixa e hesitante.
Meus olhos o encararam, e uma parte de mim se preparou para ouvir mais meias-verdades ou justificativas. Ele hesitou, esfregando as mãos contra o tecido da calça.
— Sei que você deve me odiar por tudo. Por ter escondido tanto de você. E, talvez, tenha razão em se sentir assim. Mas o que você precisa saber, Isabel, é que... eu nunca quis te machucar. Tudo que fiz, desde o começo, foi para tentar proteger você.
Eu não disse nada. Apenas ouvi. Christian estava do lado de fora, mas eu podia sentir sua presença, como se ele fosse uma constante no meu mundo agora.
O senador respirou fundo, como se tentasse encontrar forças para continuar.
— Eu cometi muitos erros. Não só com você, mas com tantas pessoas que amei. — Ele fez uma pausa, os dedos entrelaçados com força sobre o colo. — Mas com você… Eu só queria que as coisas fossem diferentes.
Seus olhos encontraram os meus, e, pela primeira vez, vi algo além da autoridade e do controle que ele costumava exibir. Vi vulnerabilidade.
— Eu não sei o que você pensa de mim, Isabel. E, honestamente, não espero que me veja de forma diferente. Mas quero que saiba que estou tentando. Mesmo que não pareça, mesmo que eu falhe em demonstrar isso, estou tentando. Por você.
Essas palavras mexeram comigo, mas não da forma como ele talvez esperasse. Em vez de aliviar a tensão, elas a tornaram ainda mais palpável, porque, no fundo, eu sabia que ainda havia muito que ele estava escondendo.
— Proteger do quê? — perguntei finalmente, minha voz mais fria do que eu esperava.
Ele desviou o olhar, sua expressão tornando-se distante, quase perdida. Era como se estivesse ponderando o que dizer, ou talvez se perguntando se poderia dizer algo que não destruísse o frágil fio de confiança entre nós.
— Algumas verdades são difíceis de enfrentar. Não quero apressar isso para você. — Ele se levantou, ajeitando o paletó com um gesto automático. — Mas eu prometo que, quando você estiver pronta, estarei aqui para responder todas as suas perguntas.
Antes que eu pudesse insistir ou questioná-lo mais, ele tocou minha mão brevemente, quase como um pedido de desculpas silencioso, e saiu do quarto.
Quando ele saiu, Christian entrou no quarto, fechando a porta atrás de si com cuidado. Seus olhos pousaram em mim, analisando minha expressão, como se estivesse tentando decifrar o que o senador havia dito.
— Você está bem? — ele perguntou, aproximando-se da cama.
Eu sorri fracamente.
— Não sei.
— O que ele disse? — perguntou, puxando a mesma cadeira em que o senador havia estado.
— Nada que já não soubesse — respondi, balançando a cabeça. — Promessas vagas. Palavras bonitas. Nada que resolva o que realmente importa.
Ele franziu a testa, mas não insistiu. Em vez disso, pegou minha mão, os dedos dele entrelaçando-se aos meus. Era um gesto simples, mas carregava tanto peso que quase me fez chorar.
— Isabel, você tem todo o direito de estar confusa e irritada. Mas você precisa cuidar de si mesma agora. n******e se perder nesse caos todo. — Sua voz era firme, mas havia um tom suave que fazia meu coração vacilar.
— Você sempre sabe o que dizer, não é? — murmurei, com um sorriso pequeno. Ele sorriu também, e as covinhas que eu adorava apareceram.
— Só com você — ele respondeu, o tom brincalhão quebrando um pouco a tensão.
Eu me sentei mais ereta, e ele me ajudou a ajeitar os travesseiros. A proximidade dele era reconfortante, mas também me deixava inquieta, como se algo em mim quisesse mais do que apenas essa amizade segura que tínhamos construído.
— Chris, você acha que algum dia eu vou descobrir a verdade? Sobre tudo? — perguntei, olhando para ele.
— Acho que você vai. Porque você é a Isabel. E se tem uma coisa que eu sei sobre você, é que você não desiste até encontrar o que procura.
Houve um momento de silêncio, e então, antes que pudesse me conter, eu disse:
— E se o que eu descobrir for pior do que eu imagino?
Ele segurou meu rosto com delicadeza, forçando-me a olhar para ele.
— Então eu estarei aqui. Não importa o que aconteça.
Christian sorriu, aquele sorriso que sempre parecia iluminar qualquer lugar, e sentou-se na cadeira onde o senador estivera minutos antes.
— Você é mais forte do que pensa, Isabel. Mesmo que não consiga ver isso agora.
— E você é melhor do que pensa. — Minha voz saiu em um tom mais suave do que eu pretendia, e ele levantou uma sobrancelha, divertido.
— Melhor em quê, exatamente? — ele brincou, mas havia algo no seu olhar, uma intensidade que me fez desviar os olhos.
— Em… — comecei, hesitando, mas decidi ser honesta. — Em estar aqui por mim. Em me fazer sentir que não estou sozinha.
Ele não disse nada por um momento, apenas apertou minha mão com mais firmeza. O silêncio entre nós era confortável, carregado de significados não ditos. Então, finalmente, ele falou:
— Você nunca mais vai estar sozinha, Isabel. Eu prometo.
Aquelas palavras eram como um farol no meio do oceano escuro em que eu tinha vivido por tanto tempo. Meus olhos encontraram os dele, e, naquele momento, algo mudou. Havia uma clareza, uma certeza de que, não importava o que o futuro trouxesse, nós enfrentaríamos juntos.
— Chris… — comecei, mas ele se inclinou, e antes que eu pudesse continuar, senti seus lábios tocarem os meus.
O beijo foi suave, quase hesitante no início, mas logo se transformou em algo mais profundo, carregado de todas as emoções que tínhamos reprimido por tanto tempo. Quando ele se afastou, seus olhos procuraram os meus, como se buscasse aprovação, ou talvez um indício de arrependimento.
Mas não havia arrependimento. Não naquele momento. Apenas a certeza de que eu finalmente tinha encontrado algo real, algo pelo qual valia a pena lutar.
— Eu também prometo — sussurrei, e ele sorriu novamente, aquele sorriso que fazia meu coração bater mais forte.
Naquela noite, enquanto Christian permaneceu ao meu lado, e o luar iluminava o quarto, senti pela primeira vez em muito tempo que, apesar de todas as dores e segredos, eu tinha encontrado uma fagulha de esperança. O oceano em que eu costumava me afogar agora parecia mais raso, menos ameaçador. E, com ele ao meu lado, eu sabia que poderia, finalmente, emergir.