A Morte

1373 Words
Já fazia uma semana. Navios me deixavam enjoada. Imaginar que não tinha o controle sobre algo, que éramos um leve casco de madeira flutuando num monte de água, mas a qualquer momento podendo afundar e ficar à deriva para sempre no mar. Eu roía a unha enquanto analisava, mar, mais mar e então mar novamente. Cafeus amava isso, ele é destemido, eu medrosa. Esse capitão pirata considerava o mar uma amante impetuosa e indomável. Já eu, eu, bem... Para mim o mar é algo traiçoeiro que pode te consumir ou te fazer perder toda a sua arrogância em achar ter o controle de tudo. Contudo a ansiedade pela nova jornada era maior do que minha vontade de vomitar e a sensação estranha na boca do meu estômago. Estava atravessando as Lágrimas de Geena, outra vez, talvez rumo a minha morte. Essa ânsia suicida me assustava em alguns momentos. Eu queria tanto só encerrar tudo. Só dá um fim a tudo. Agora Fedrer reinava. E se o espelho existisse mesmo depois de olhar os rostos do que amei uma última vez eu ... Eu irritaria a Morte. Sim, essa é a minha esperança. A de conseguir vencer a imortalidade. Que ela fique tão irritada comigo que queira me punir. Ela é a Morte afinal uma entidade que só Cristo e a Fênix venceram, os deuses da carnificina ludibriaram e irritaram tendo como punição que se alimentar com o sangue de outros e eu parecia ter sido punida por ela por tocar a adaga do Firmamento. O vento fazia meu cabelo curto voar. Meus braços apoiados no cais. Eu só queria que os dias se passassem com rapidez tamanha que os seis meses no mar não parecessem uma eternidade. Zarparíamos direto para Gardênia. Sem ancorarmos em Nescrer ou Portália. Era assim que eu queria. Não era um favor. Foi pago com todas as minhas joias. Menos com as que estavam na caixinha que pertenceu a mãe de Iker. Essas eu nunca abdicaria nem se eu passasse fome. Meus primeiros presentes de aniversário. ... Se passaram seis meses e nunca me acostumei ao cheiro de maresia, peixe e apesar de ficar na cabine do próprio capitão e jantar com ele como sua convidada, e revivermos o duelo de espadas e a forma que ele me ensinou a ser como o mar na luta coisa que nem Kai e Iker conseguiram, o alívio em chegar em terra firme era indefinido. Cafeus me deu sua mão num cumprimento de aliados e nós fechamos nossa mão uma na outra conduzindo-as ao antebraço como um acordo e como uma despedida. Peguei minha trouxa de roupas onde dentro estava escondida a caixinha com a qual Iker me presenteou e parti deixando-os aproveitarem seu momento em terra firme apesar de saber que amavam sua amante impetuosa e traiçoeira e logo voltariam a ela. Desci no cais. Caminhei pela terra firme grata que não me sentisse mais enjoada e tonta. E passando pelo comercio de peixes, tapeçarias, armas e objetos mágicos caminhei rumo a fortaleza que era Gardênia. Magos treinando com fogo, ar, terra e água sempre. Eu nunca teria esses poderes. Muitos me analisavam como se conhecessem ou me sentissem, coloquei o capuz sobre a cabeça e continuei caminhando. Eu não conhecia nenhum deles. Nem os mais velhos o que dirá o mais novos. Negociei um cavalo com um bracelete que foi presente de Fedrer. O cavalo não era como os da guarda real, mas dava para o gasto. E montada nele, ignorando o desconforto que era ao qual me habituei. Só parti em direção ao local de Serper. Ao lago que levava ao inferno. Três dias e três noites até o lago. E na aurora eu cheguei. Eu parei para descansar apenas por causa do meu animal porque se dependesse de mim somente eu teria chegado antes. Abri minhas trouxa de roupas desesperada e peguei a caixinha de madeira do meu amado fechando-a em minha mão. Ah, merda. Essas lágrimas, de novo. Me recuso. Analisei ao bonito espelho de água. Sim, era assim que eu podia definir. Não parecia nada infernal. Eu me pergunto se terei que me afogar para conseguir ir ao inferno. Se todo o meu corpo vai também ou se só minha alma alcançará o lugar e o meu corpo vai ficar preso aqui. Soltei o cavalo, o alimentei como duas cenouras e uma maçã. Ele bebeu da água que o dei. E então eu estapeei sua lombar e ele correu livremente para um novo dono que eu desconhecia. Analisei minhas roupas no chão. Vestidos inúteis. Não, eu iria com o que estava vestindo. Analisei a espada e o escudo que Bewolf me fez. Soava e******o tê-los trazido agora. Deveria ter dado a Fedrer. Mas ele grande demais para uma espada tão pequena e para um escudo também que era feito para mim. Não, essas eram minhas memórias. Soltei um suspiro. Analisei o céu com seus tons rubros pelo nascer do sol e então ao lago que capturava toda essa imagem linda como um espelho. E dei um longo e profundo suspiro sentando-me numa pedra que estava fria pela madrugada antes do nascer do sol. Tirei as botas de couro. Segurei a caixinha com força e caminhei até o lago. Meus pés se molharam primeiro, era quente a água de um jeito traiçoeiramente deleitoso. Então meus joelhos, logo minha cintura, um pouco acima dos meus s***s, meu queixo e então eu mergulhei. Foi um suicídio? Não sei bem. A partir do momento que eu entrei inteira na água e dei meu último suspiro querendo voltar já que a vida que escapava de mim lutava para se manter, algo agarrou o meu pé e me puxou e então quando perdi a consciência ao mesmo tempo eu acordei pela primeira vez. A garotinha me encarava com um sorriso desdenhoso e c***l. Ela usava um vestido vitoriano gótico e preto e segurava uma foice. Seus olhos eram tudo menos inocentes apesar de sua aparência angelical com o longo cabelo escuro e os olhos escuros da mesma cor, com a pele de porcelana a igualando a uma boneca de louça. Estávamos numa ponte de madeira hesitante. Embaixo dela pessoas e demônios, demônios escravizavam almas. Atrás um portal em espiral de água. — Certo. Cá estamos nós. Ludibriou-me várias vezes Demetria. Mas eu venho para todos até para os que se escondem de mim. — Seu ar era impetuoso e c***l. Parecia furiosa e frustrada comigo. — O Espelho das Memórias vivas existe? — A questionei sem ar sabendo de quem se tratava. Os olhos dela se arregalaram. — Não me teme? — Questionou-me horrorizada. — Você escapou de mim tantas vezes e agora que estou perante você... pronta para ceifá-la me pergunta do Espelho? — Por favor, me deixe ver o espelho. — Implorei para ela. — Só uma vez. —As lágrimas desceram sem que eu as quisesse. — E eu parto com você. Eu juro que eu só quero vê-los uma última vez e te aceito como uma velha amiga e você pode... pode me levar. Eu só quero vê-los uma última vez. Eu vim até você de livre espontânea vontade. A menina me encarou parada com sua foice que trouxe a minha garganta e a foice ficou azul. — Uma alma pronta para colheita. Num corpo que te prende. Tanta dor. Não mente quando diz que me quer. Você anseia por mim. — Ela constatou caminhou e voou tocando meu rosto e enxugando as minhas lágrimas. — Você me quer desesperadamente criança. Você me aceitou há muito tempo, mas não te deram para mim. — Ela percebeu e tocou minha testa e visões da minha vida reinando e toda a minha infelicidade vieram à tona. Depois de muito pensar, escutei sua voz infantil: — O Espelho existe. Na morada de Serper. Seu pedido é desesperado e sua entrega a mim angustiada, quero te conceder esse último desejo. Ela beijou a minha testa e acrescentou tomando uma forma maternal e adulta: — Vamos. Te levarei até lá. Considere esse um ato da Morte realizando seu último desejo. Como fazem no seu mundo com os prisioneiros no meu corredor. Esperando por mim. Ao contrário de para eles, eu sou sua libertação.
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