Iara narrando capítulo 12 Tem dor que a gente não fala. Engole. Esconde. Costura por dentro até virar cicatriz. Foi assim comigo. Desde cedo aprendi a sobreviver no grito, no tranco, na marra. Cresci num lar onde mulher era só mais uma peça na engrenagem de homem r**m. Onde choro era castigo e silêncio era proteção. Me fechei cedo. Criei armadura, cara dura, e um olhar que manda recado antes mesmo da boca abrir. Mas tem uma dor que nunca costurou por completo. Que sangra até hoje. A dor que veio no dia em que roubaram de mim o que eu nem sabia que podia ser tirado: o direito de escolher. Soraia veio disso. De um ato brutal. Um estupro. Eu tinha só dezessete anos. E ninguém acreditou. Nem minha própria mãe. Carreguei a barriga com vergonha, com medo, com raiva do mundo. Quis sumir tan

