capítulo 01
Erika narrando
capítulo 01
A chuva caía fina, mas gelada o suficiente pra me fazer tremer da cabeça aos pés. Os saltos altos, antes símbolo da minha "vida perfeita", afundavam na calçada irregular a cada passo. Não fazia ideia de onde eu estava, só sabia que precisava continuar andando. Qualquer lugar seria melhor do que aquele onde tudo desmoronou.
As luzes da cidade me cercavam, mas eu me sentia invisível. Um vulto vagando entre carros, buzinas e olhares apressados que m*l percebiam minha existência. A maquiagem borrada, o vestido caro colado no corpo molhado, a bolsa de grife apertada contra o peito como se pudesse proteger o pouco que restou de mim.
"Erika, você tem que pensar na família."
"Erika, esse casamento é o melhor pra todos."
"Erika, você vai nos envergonhar se desistir agora."
As vozes ecoavam na minha cabeça como um coro c***l de julgamento. Meus pais, meus tios, até os empregados da mansão tinham uma opinião sobre o que eu deveria ser, o que eu deveria querer. Mas ninguém, ninguém perguntou como eu me sentia. E quando finalmente tomei a primeira decisão da minha vida... eles me jogaram fora como se eu fosse descartável.
Minha melhor amiga. Meu noivo , os dois que mais diziam que me amavam . Os que eu achei que era de verdade na minha vida .
Estavam me apunhalando pelas costas . Agora tudo faz sentido as vezes que nenhum dos dois atendia minhas ligações, claro isso não é recente , eles estavam me fazendo de i****a esse tempo todo e eu nunca encherguei , Talita se fazia de amiga , mas isso ela nunca foi .So me arrependo de não ter dado uns bons tapas na cara de cínica que ela me olhou quando eu entrei no quarto dela e vi aquela cena nojenta dos dois . No fundo sinto um alivio por não ter cedido as investidas para me entregar aquele canalha , Enzo aquele maldito , desgraçado . Como eu fui burra ? cega , não encherguei um palma a frente do meu nariz da sujeira desses dois imundos .
Engoli seco, o gosto amargo da traição queimando na garganta. O pior não foi vê-los juntos, foi perceber que aquilo não era novo. Eu fui a última a saber. A noiva i****a, feita de enfeite. Um troféu para selar um acordo entre famílias podres de ricas e vazias de amor.
E agora? Agora eu estava sozinha. O celular descarregado , o cartão cancelado pelo meu pai, como se eu fosse uma funcionária demitida. Nenhum táxi parava. Nenhum amigo atendeu. Quando o luxo some, você descobre rápido quem realmente se importa. E no meu caso… a resposta era ninguém.
Virei em uma rua escura, as casas apertadas me observando como olhos atentos. Ali não havia vitrines, nem mansões cercadas de seguranças. Havia vida. Havia cheiro de comida, vozes que se cruzavam em janelas abertas, crianças correndo na chuva como se aquilo fosse liberdade. E pela primeira vez… eu senti inveja.
Caminhei mais um pouco, até minhas pernas pedirem socorro. Me encostei em uma mureta e respirei fundo, deixando as lágrimas se misturarem com a chuva. A única coisa que eu tinha naquele momento era o que carregava dentro de mim mágoa, dor e uma pequena, teimosa chama de orgulho.
As gotas da chuva pareciam agulhas fincando na minha pele. Meus joelhos tremiam, o estômago embrulhado num vazio que gritava. Acho que a última coisa que comi foi um café da manhã fingido, uma fatia de mamão e um suco detox, enquanto meu pai explicava, mais uma vez, a importância do sobrenome que eu carregava como uma coleira de ouro.
A vista embaçou. Primeiro pensei que era só a chuva, mas logo percebi que o mundo estava fugindo dos meus olhos. As luzes se esticavam como riscos e os sons se embaralhando num zumbido distante. Levei a mão na cabeça, cambaleando.
Foi quando vi um grupo de pessoas mais à frente. A fumaça de algo no ar. O cheiro de churrasco se misturava à música de fundo . Gente viva. Gente real.
- A-ajuda… minha voz saiu fraca, um sussurro quase engolido pela chuva.
Dei alguns passos em direção a eles, o coração acelerado não de medo, mas de desespero. Queria gritar, mas não consegui. Meu corpo já não respondia, cada músculo parecia feito de chumbo. E eu percebi que ia cair.
Mas não caí. Braços fortes me seguraram pela cintura no último segundo. Senti o calor do toque, o perfume amadeirado misturado a fumaça. O mundo girando mas havia firmeza . A sensação pela primeira vez em muito tempo de estar segura.
- Calma, gata… respira. A voz era grave, rouca. Quente como um cobertor num dia de tempestade. Depois disso, o escuro me engoliu....
Acordei com o som distante de um rádio tocando um rap melódico e o cheiro de café invadindo o ar. Pisquei algumas vezes antes de perceber que não estava mais na rua. Um teto baixo. Paredes brancas , E eu… deitada numa cama com lençóis limpos, e macio, num quarto aconchegante.
O moletom largo cobria meu corpo quase inteiro, e ao me mexer, percebi estava vestindo uma cueca masculina. Minhas roupas, molhadas e sujas, tinham sumido.
Meu coração disparou.
Levantei o tronco devagar, o corpo ainda fraco. As mãos agarraram o moletom, como se aquilo pudesse me proteger de alguma coisa que eu nem sabia se havia acontecido. Mas não havia dor. Nem marcas. Nada.Antes que eu pudesse pensar em fugir, a porta abriu devagar.
E um homem só de samba canção entrou.
Alto, pele morena dourada, barba por fazer e os olhos mais intensos que eu já tinha visto. Um homem com presença. Perigosa. Impossível de ignorar.
- Bom dia. disse, com uma expressão entre curioso e contido. - Dormiu bem, patricinha?
Meu estômago revirou, mas não era mais fome. Era o impacto de perceber que eu estava na casa de um homem estranho. Um completo desconhecido. Usando as roupas dele. Deitada na cama dele.
E ele...Ele me olhava como se já soubesse todos os meus segredos. Meus olhos correram pelo quarto, procurando alguma explicação, alguma saída. As paredes simples, a televisão enorme pendurada na parede, um tênis jogado no canto, o cheiro amadeirado que eu lembrava do momento em que desmaiei. Tudo dizia que eu estava bem longe do meu mundo. E pior, completamente vulnerável.
Segurei o moletom com força, puxando até cobrir as coxas. Minha pele queimava, mas não era febre , era vergonha, medo, confusão.
- Eu... minha voz falhou. - O que aconteceu? Como eu vim parar aqui?
Ele se encostou na porta, cruzando os braços, o canto da boca erguido num meio sorriso. Cínico. Bonito demais. Perigoso em cada linha do rosto.
-Tu desmaiou na entrada . Sorte tua que caiu bem nos meus braços. respondeu com aquele sotaque arrastado, cheio de malícia. -Tava tremendo mais que vara verde. Te peguei no colo e trouxe pra cá.
Colo. A palavra martelou na minha cabeça com imagens que eu nem queria ter.
- Minhas roupas… sussurrei, sem conseguir encarar ele nos olhos. - Quem... quem tirou?
Ele sorriu. Um sorriso que derruba resistência, que deixava claro que sabe exatamente o efeito que causa. E então se aproximou. Devagar, como um predador que não precisa correr atrás da presa. Ajoelhou ao lado da cama, ficando perigosamente perto, o cheiro dele invadindo tudo, o olhar cravado no meu como se pudesse me ler por dentro.
-Relaxa, patricinha... não fui eu que tirei tua roupa. disse com a voz baixa, rouca.
-Tenho uma tia aqui no morro que trampa aqui em casa . Chamei ela pra te dar um jeito. Eu só emprestei minhas paradas.
O alívio bateu forte, mas veio acompanhado de algo mais. Algo que eu não queria sentir. Aquela mistura de atração e raiva, de medo e curiosidade. Como alguém podia ser tão… desarmante? Ele passou a língua nos lábios devagar, como se saboreasse o efeito que causa.
- Mas se tu quiser que eu tire da próxima vez… sussurrou com um sorriso torto. - É só pedir com jeitinho.
O sangue subiu direto pro meu rosto.
Fiquei sem palavras. sem reação....
Eitaaaaa chegou mais um casal pra fogo e gasolina pra vocês meus amores .... Conto com ajuda de vocês pra irem adicionando na biblioteca pra ajudar a autora aqui . As atualizações diárias começam dia 30/05 VAMBORAAAAA