Episódio 14

1128 Words
— Bem, já que temos compatibilidade perfeita, Sarah, terei que me casar com você. Arte olhou para mim sério, e o meu coração jovem e frágil subiu ao céu: você vai crescer. E eu esperarei por você. Tudo dentro de mim ficou dormente quando ele de repente apertou a minha mão. Mantive reverentemente o olhar do homem que me surpreendeu completamente, guardando no meu subconsciente a imagem de como em poucos anos ele me levaria ao altar. E aqui estava eu, nas ruínas do meu sonho de menina, inflada em proporções cósmicas, percebendo com amargura que ele simplesmente riu de mim. Todos esses anos imaginei só ele ao meu lado... Um grito masculino de partir o coração me tirou do mundo dos sonhos. Por um momento parecia que eu estava imaginando isso. E se algo aconteceu com Arte? Inclinando-me sobre a grade, tentei pelo menos ver alguma coisa, mas a aventura não teve sucesso. Talvez Elena saiba? E se Apostolov precisar de ajuda? Eu não poderia ficar no quarto sem descobrir o que estava acontecendo. Saí correndo do quarto e desci correndo até a cozinha, mas não havia ninguém lá. Abrindo a porta da frente, congelei na varanda, ouvindo: os ecos da fala de um homem em tons elevados chegaram aos meus ouvidos. A minha intuição me disse que era melhor voltar para a sala. Mas, como dizem, a intuição feminina não tem utilidade para a lógica, então eu, olhando em volta, segui esses sons estranhos, abrindo caminho entre os tijolos densos e cobertos de vegetação. Um pequeno espaço entre os arbustos oferecia uma vista da área da churrasqueira. Mas ninguém estava usando. Mais provavelmente, eles apenas começaram a ... Infelizmente, como um “bife”, um menino estava deitado no gramado, amordaçado e seminu, ensanguentado. E acima dele, sem parar, batendo na pele mutilada com os punhos, pendia um touro robusto. Mais dois homens atarracados, de calças cáqui, estavam à distância. Eram como animais. Estremeci de nojo. Mas outra coisa me chocou... Virando a cabeça, entorpecido de horror, notei Arte, um pouco afastado, observando o que acontecia com um olhar impassível. Ele colocou as mãos nos bolsos da calça de moletom branca como a neve e olhou para o pobre sujeito com o seu olhar pesado. O corpo do dono da casa estava tenso, os músculos elásticos enrolados sob o tecido fino da camiseta e a superioridade era evidente no seu olhar. Ficou imediatamente claro quem mandava aqui e, sem nem sujar as mãos, todo de branco, ele patrocinava esse show de sobrevivência. Naquele momento, o Escuro se aproximou dos seus cães acorrentados, dando-lhes uma ordem curta, e a tortura cessou. Os touros assentiram obedientemente, apontando para algum lugar mais fundo no jardim. Um homem saiu com uma arma. Senti uma gota de suor percorrer a minha espinha. Olhando para o menino se movendo convulsivamente no gramado, senti como se estivesse acorrentada por um horror pegajoso que penetrava na minha corrente sanguínea. E uma cena de um passado distante passou diante dos meus olhos... Eu tenho oito anos. Estava terrivelmente abafado lá fora. Acordando com sede no meio da noite, desci até o primeiro andar, notando uma faixa de luz vinda do porão. Ainda não sei o que vi então... Só me lembro do sangue. Muito sangue, começando na parte inferior da escada. E gemidos. Gemidos surdos e enfraquecidos... A minha mãe me encontrou e me levou para o quarto dela. Porém, naquela noite eu não dormi nada... Por muito tempo essa m*aldita escada apareceu nos meus pesadelos. Antes que alguém me notasse, corri de volta para casa. Infelizmente, com todo o meu grande desejo, eu não seria capaz de ajudá-lo. Talvez isso apenas provocasse uma nova rodada de intimidação ainda mais sofisticada nesses bastardos. Embora, algo me dissesse, que eles estejam apenas começando... Eu precisava me acalmar e me recompor. Não vi nem ouvi nada... Assim que cumprir a minha parte no acordo, desaparecerei de todos os radares. Eu vou desaparecer. Eu irei até o fundo. Eu já decidi tudo. Não consigo ver uma vida normal com esse pedigree. E se, em seis meses, o próximo inimigo do meu pai vier atrás de mim? E então? Correndo incessantemente pelos poderes que estão em busca de proteção? Esta noite, deitado na casa de outra pessoa sem dormir, me dei conta de que a única chance de salvação era mudar o nome e o sobrenome nos documentos, e também ir embora... Na medida do possível. Onde ninguém pode chegar até mim. Ele vai deixar você ir? A desagradável voz interior coçou. Há alguns momentos, percebi que não conhecia Arte Apostolov, pois há muito tempo romantizava a sua imagem sombria nos meus pensamentos. E se ele não for melhor que Smoke? E se ele for pior? Ele aceitará o “pagamento” e ainda assim me entregará a um bordel? Ou ele irá me jogar como restos da mesa de um mestre para um dos seus não-humanos? E se ele não resolveu nada e simplesmente me enganou? Eu já havia me aproximado da varanda, estremecendo quando o silêncio da noite foi quebrado por um gemido de partir o coração, transformando-se num grito de socorro... Congelei, lutando contra a onda de pânico que me dominava. No que você se meteu de novo, Sarah? De repente, uma porta chamou a minha atenção... A mesma porta discreta pela qual me deixaram entrar ontem à noite. Estava ligeiramente aberta. A compassiva Elena realmente não fechou de propósito? Talvez essa fosse minha única chance... Afinal, algum dia eu deveria começar a ter sorte? As engrenagens estavam literalmente girando na minha cabeça e os meus pensamentos galopavam. De repente, fui dominado pela compreensão do que precisava fazer para me salvar... Porém, a bolsa com todos os documentos, telefone e mapa ainda estava lá em cima. No meu quarto. Tentando não chamar a atenção para mim, voltei para casa, subindo rapidamente as escadas. Peguei a minha bolsa e corri de volta. Felizmente, nunca encontrei ninguém no caminho, deixando o território da mansão do Escuro sem impedimentos. Escondido na esquina, enviei uma mensagem para Alice pedindo-lhe que me enviasse o endereço do seu apartamento alugado, e então corri o mais rápido que pude para a floresta localizada perto da mansão, na esperança de sair por ela e pegar a rodovia para pegar um carro. Eu não queria envolver Alice nisso, mas sem a ajuda dele, com o meu telefone praticamente desligando, infelizmente, não conseguiria realizar o meu plano. Eu só precisava que ele funcionasse por alguns minutos... E então, estaria livre para a minha nova vida feliz. ‍ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌​​​‌‌​​‌‌​‌​‌​ ​​
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