Episódio 10

1172 Words
— “A reprovação” está olhando para você. A professora me informou com preocupação. — Talvez você precise de mais protetores de ouvido? A mulher virou-se para mim de forma cáustica. Seria bom. Respondi mentalmente, mas agora não estou em minha posição de fazer inimigos. Ainda mais com os professores. Então, colocando uma expressão de culpa no rosto, endireitei os ombros, enterrando o nariz nas notas imaculadas. — Eu não gosto dessas suas danças noturnas... Artur disse de repente no tom de um marido ofendido. Virando a minha cabeça, encontrei o seu olhar carrancudo. Quando ele começou a achar que poderia estar ou não satisfeito com alguma coisa. — Ajudei a minha ex-chefe. Ela fez muito por mim: no final das contas me ajudou a encontrar um emprego. Sussurrei na palma da mão. — Eu só queria falar sobre isso... Ele faz uma pausa eloquente. — Esse trabalho... Você ainda está planejando ir lá, balançar a bun*da? Artur finalmente resumiu, ajustando o cromado de seus óculos. Eu não pude deixar de revirar os olhos. — Você sabe por que tipo de casting eu tive que passar para ter a oportunidade de “balançar a bun*da lá? São produções profissionais, música ao vivo, figurinos de designers renomados. Mas o mais importante é que, ao me apresentar lá apenas algumas noites por semana, poderei pagar os meus estudos. Suspirando, fiquei em silêncio, sentindo novamente o olhar do Artur sobre mim. Ele também não se atreveu mais a desafiar o destino e, acabar com essa coisa de casal que nem começou, apenas trocamos olhares sombrios. Perto do final do dia escolar o tempo piorou. Apesar do abafamento, uma chuva leve começou a cair. Porém, ela não me incomodou em nada: resolvi dar uma pequena caminhada antes de descer para o metrô. — Sarah, espere! Artur me alcançou perto da saída do pátio da universidade: Não terminamos! — Nós realmente chegamos a começar a conversar? Achei que você me atacou com acusações ridículas! Sem parar de andar, escondi as palmas das mãos nos bolsos da minha jaqueta preta justa. — Sarah, você pode me ouvir? Se aproximando, ele agarrou o meu pulso, ainda me obrigando a parar e me virar. Apertei os olhos com desgosto para a sua figura esbelta em uma camisa azul de manga curta e jeans largos. Artur ergueu a mão, ajeitando a sua gravata estúp*ida como se fosse um herói de um manga popular. — Vou fazer um empréstimo e pagaremos os seus estudos! Você não precisa trabalhar! Aproveitando o meu choque, ele me agarrou nos braços, me abraçando com força. — Artur, que tipo de empréstimo... — Sim, isso mesmo, Sarah! Esta é realmente uma saída! Iremos morar juntos. Vou arrumar um emprego... Eu ri nervosamente. — Talvez possamos fazer outra hipoteca por vinte anos? Abraçando-o pelos ombros, enterrei a ponta do nariz no pescoço do meu namorado, tentando superar o impulso inapropriado de cair no choro. Artur estava até pronto para se endividar por mim... Então imaginei como Artur e eu, sem nada, daqui a vinte anos, estaríamos tentando sair do buraco da dívida de algum “banco fraudulento”. E dado o meu superpoder para me meter em todos os tipos de problemas, o meu instinto interior me disse que seria assim. — Sarah, apenas confie em mim... Ele esfregou a bochecha na minha. — Eu não vou te decepcionar... Estremeci quando ouvi os primeiros trovões acima de mim. O tempo finalmente piorou. Começou a chover. — Vamos correr para o metrô? Ou direto para o Banco da Servidão? Rindo, agarrei a mão do meu namorado, e corremos o mais rápido que pudemos pela calçada, claro, ficando encharcados em questão de segundos. Parando num semáforo, Artur, sem motivo aparente, me fez girar na chuva. De surpresa, comecei a rir, tentando ver pelo menos alguma coisa por causa dos cílios grudados como pernas de aranha. Tínhamos quase atravessado a estrada quando de repente um SUV preto voou do nada e passou numa enorme poça, nos deixando completamente encharcados. — Gado! Gritei atrás dele, esticando os dedos médios. Porém, o bandido desapareceu tão rapidamente que não tivemos tempo de ver a placa do carro... Artur me convenceu a esperar a chuva passar em uma cafeteria próxima. Depois de pedirmos doces e chá, enrolados em cobertores, conversamos como nos velhos tempos. Interrompi habilmente todas as tentativas de troca de bactérias e Artur não insistiu particularmente. Inesperadamente, a mesma leveza que me parecia irremediavelmente perdida depois de “declarar-nos um casal” voltou à nossa comunicação. — Metade da galeria estava dormindo e Kryuchkova só me notou”, reclamou ela, massageando as têmporas, que pulsavam devido à falta de sono. “Isso cheira a hostilidade pessoal”, Stas encolheu os ombros, incerta, “Ela estava ciente de sua situação, e o único de todos os professores, apesar disso, enviou você para uma repetição.” Erguendo as sobrancelhas, lembrei-me de como, no início do verão, em vez de tentar restaurar minha saúde mental, passei várias semanas tentando fazer um teste de literatura inglesa. — Não preste atenção, Sarah, parece que alguém não tratou seus ferimentos de infância e agora está coçando as dores dos outros. Eu pensativamente voltei o meu olhar para a janela ligeiramente embaçada. Um casal que acabava de sair da cafeteria beijava-se em êxtase, perdidos nos braços um do outro. — Vai vir à minha casa? Ele sugeriu com voz rouca. Olhei para o meu namorado novamente. As bochechas de Artur ficaram vermelhas. — Artur... Sussurrei, com dificuldade em resistir ao olhar excessivamente determinado dos olhos verdes: Por favor, não me pressione... Dê-me um pouco mais de tempo. Não temos pressa, não é? — Como você quiser. Ele não respondeu imediatamente com a voz baixa, empurrando um prato de bolos em minha direção. Para de alguma forma amenizar o constrangimento, dei uma mordida no bolo de chantilly, fechando os olhos alegremente. — Mas eu ainda insisto em você vir comigo para a minha casa! Sem conotações eróticas... Ele suspirou docemente. — Vamos assistir a um drama. Vamos pedir pizza. Enquanto Artur cavava o seu bolo com uma colher, eu o observei. Ele era muito legal. Com cabelos desgrenhados depois da chuva e sardas encantadoras. E óculos com elegantes armações cromadas combinavam incrivelmente bem com ele. Então por que eu não conseguia tirar a imagem de outro homem da minha cabeça? Escuro. Inacessível. Da cabeça aos pés, vestido com uma armadura. Não importa o que eu pensasse, o forte perfume masculino de Arte penetrou-me nos pensamentos e voltei a imaginar-me a derreter-me como uma barra de chocolate na sua palma quente e áspera. — Hoje não vai dar certo, vou encontrar uma amiga. Aline e eu já havíamos combinado. A propósito, é hora de eu ir... — Talvez você possa passar por aqui depois? Sarah, se você quiser ficar, vou dormir no chão... Encolhi os ombros e, sob o seu olhar, terminei o chá gelado. — Ligo para você, mais tarde. Acenei amplamente com a mão em despedida.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD