Tempo Final

três

– Tudo bem,sinto que isso não será divertido,mas tem algo em você que praticamente me obriga a estar ao seu lado para tentar protegê-la. Não me pergunte o que é, porque nem mesmo eu faço ideia do que possa ser.

Diferente do que deveria realmente ter dado como sua resposta, Claire não só aceitou ajudar a nova parceira de trabalho,mas também achou que era seu dever deixar em aberto uma explicação que para Brenda, pareceu não conter nenhum sentido apesar de algo na jovem a sua frente lhe parecer muito familiar. A sensação que sentia,era de quem conhecia aquela jovem de QI absurdo não há algumas horas, mas sim há semanas, talvez meses. Era estranho, não poderia negar esse fato. Mas a sensação estava ali, e a cada frase formada que saía por entre os lábios da novata ao seu lado, fazia tudo ficar ainda mais evidente dentro de si.

Conhecia aquela jovem mulher, só precisava ter certeza de onde. Na verdade, precisava mesmo era descobrir não só de onde, mas também como foi se esquecer de alguém tão notável. Afinal,ela possuía uma memória fotográfica de dar inveja a muitos, então algo teria de estar muito errado naquela história toda, e iria descobrir o que era.

– Eu com certeza não iria te perguntar nada que fosse inoportuno para o momento, pois tem algo acontecendo por aqui, e eu tenho a estranha sensação de que o nosso é muito curto. Então vamos logo, não podemos perder o que ainda resta dele.

Usando as poucas horas que ainda tinham antes do horário de almoço, Brenda fez questão de apresentar à jovem estagiária todos os arquivos atuais do projeto, e também os fatos que comprovavam suas teorias contra Gabriela.

Ela não mentiu quando disse que a mulher poderia ser perigosa, porém, com uma pesquisa um pouco mais aprofundada ao invadir o sistema do computador particular da chefe,viu que não imaginou sequer metade do que Gabriela era realmente capaz de fazer. E por um breve momento se arrependeu de ter arrastado uma novata em seu primeiro dia, para algo tão grande e extremamente perigoso ao mesmo tempo.

Se antes ela ainda tinha dúvidas sobre plantar falhas no programa principal, daquele momento em diante ela estava certa de que apenas isso não seria o suficiente para impedir os planos de sua nova chefe. Poderia atrasá–los consideravelmente, mas para conseguir o que tanto almejava,teria de dar um jeito de destruir o projeto por completo, até às primeiras plantas e ideias criadas. Nada poderia ficar para trás.

– Claire,vem comigo por favor? – Clamou já deixando o refeitório do setor 17 ao ver, através do vidro, Gabriela se aproximar acompanhada de dois subordinados e Damon.

Não era necessário ser um gênio para saber o que a mesma estava fazendo ali, principalmente depois de ter hackeado todas as senhas da ala 5 no setor 12, local onde se encontrava o principal servidor de todo o Instituto. Era por ele que o plano para reduzir o projeto Runaways a nada, realmente aconteceria. No entanto, não esperavam que fossem perceber alguém xeretando onde não foi chamado tão cedo, o que deixava ainda mais evidente a ideia de que estavam sendo monitoradas, e nem mesmo se deram conta disso.

Sendo assim, não adiantava fugir. Haviam se tornado um alvo iminente, e não simplesmente duas suspeitas. Ao menos Brenda era.

Gabriela possuía suas dúvidas, por esse motivo pediu para que alguém monitorasse de perto os passos da jovem cientista. E com certeza não ficou surpresa ao receber o alarme de que alguém estava tentando hackear o servidor principal.

Com todas as desconfianças já plantadas, ela não pensou duas vezes antes de chamar dois de seus melhores subordinados e arrastar Damon ao seu lado, já passando todas as informações que julgou serem necessárias para dar um jeito na atual situação. Aquele feito não passaria despercebido.

A atual diretora de todo o Instituto era uma mulher decidida, capaz de praticamente tudo para conseguir o que mais desejava no mundo. E sabendo dos sentimentos que o cientista nutria por si, ela nunca se deu ao trabalho de pensar duas vezes antes de usar isso ao seu favor.

Não encontrando quem procurava no refeitório do setor 17,tratou logo de lançar um olhar mortal na direção de todos os funcionários que estavam presentes ali. E como num passe de mágica, alguém rapidamente lhe apontou uma direção,a qual a mesma seguiu já sabendo onde encontrar sua funcionária intrometida.

Para encurtar o caminho e chegar antes do seu alvo, tomou um percurso diferente pronta para mostrar que com ela não se brinca, muito menos tentam lhe sabotar sem lidar com as devidas consequências.

Alcançando seu destino, se manteve de pé com sua postura firme em frente a entrada do setor 12. Não poderia estar mais chateada por ter que perder uma cientista tão brilhante, com um potencial magnífico, e que seria muito útil ao longo de todo o projeto.

– Confesso ter me decepcionado imensamente quando chegaram até mim com boatos nada agradáveis sobre sua performance profissional, Dra Ernandez – Sem ter muito o que fazer,a primeira tentativa que a jovem cientista exerceu,foi se virar para sair logo dali. Porém, teve a passagem bloqueada e não viu outra alternativa a não ser bater de frente com a, agora, chefe – Achou mesmo que iria conseguir me derrubar assim tão fácil? – Sorriu analisando a postura da jovem a sua frente, parando o olhar em sua mão que se encontrava momentaneamente segura. E só então se deu conta de que sua melhor cientista não estava sozinha.

Não ficou feliz com a presença da jovem aspirante ali, mas não era necessário ter um elevado nível de QI para saber o motivo de ela estar naquele exato momento ao lado da cientista. Elas estavam juntas em toda a armação final, e independente de qual fosse a jogada, os resultados obtidos não seriam dos melhores.

– Não pensou que eu pudesse vir a colocar alguém para seguir os seus passos assim que começasse a ter minhas dúvidas? Eu sinceramente esperava mais Brenda. E com toda certeza lamento ter que tirar alguém como você da equipe, mas não posso deixar que estrague os meus planos – Disse cada palavra com a próxima ação já em mente, então olhou diretamente para Claire – Lamento ainda mais você ter convencido alguém a fazer parte desse seu suicídio – Fazendo um simples gesto com a mão, seguiu pelo corredor enquanto seus homens tratavam de garantir que ambas as jovens a acompanhasse por bem ou por m*l, o que não importava muito. Desde que a ordem fosse cumprida, qualquer ação seria aceita.

O percurso traçado não era dos mais agradáveis, e só piorava mais a cada minuto.

Gabriela as levou diretamente para o andar subterrâneo, pegando curso direto para uma sala ainda mais abaixo. Onde poderia explodir uma bomba de pequeno porte e não causaria danos, muito menos seria ouvida por alguém do lado de fora. Ou seja,o local era perfeito para se fazer quase qualquer coisa.

Ao chegar no destino buscado, destravou a porta com sua senha particular cedendo caminho para que suas convidadas pudessem entrar. Então, revezando o seu olhar de forma calma, abriu o seu mais convencido sorriso.

– Deveria ter se limitado simplesmente a fazer um trabalho bem feito, não tinha porquê meter o nariz onde não era da sua conta. Você não sabe o tamanho da burrada que cometeu – Junto aos seus dizeres, estendeu a mão para receber uma 9mm, a analisando por completo antes de decidir o que realmente iria fazer.

Soltando um longo e cansado suspiro, direcionou seu olhar para a novata um passo atrás de Brenda. Essa que parecia não estar preocupada com o que de fato poderia vir a acontecer. E tal ação não passou despercebida pelos olhos da presidente. Gabriela estava atenta a cada suspiro, a cada mínimo detalhe ligado às figuras bem a frente do seu olhar.

– Vendo o grande potencial que você pode vir a alcançar Claire, estou disposta a te explicar o meu ponto e tê-la mais uma vez na equipe principal – assim como se aproximava passo a passo, as jovens se afastavam na mesma proporção.

Não estavam com medo, longe disso. Porém, a preocupação da cientista com a novata um passo atrás de si era obviamente notável para qualquer um presente ali. Até mesmo para a própria Claire, que se sentiu bem por estar naquele momento ao lado dela, mesmo tendo a noção de que poderia não sair com vida daquela situação.

Gabriela, sem entender muito bem o porquê dos próprios sentimentos, sentia o seu corpo arder em chamas com a tamanha raiva que lhe dominava ao ver a tamanha p******o e o cuidado de Brenda sobre a jovem aspirante. Onde tudo piorava constantemente ao perceber que Claire estava mais do que disposta a retribuir tudo na mesma intensidade.

– Então Novak, o que me diz? Irá aceitar a minha proposta? – Se segurando em meio ao ódio que sentia, a mais velha finalizou ao ter chegado no fim de toda uma análise. E enfim, ao término de um jogo que a mesma havia começado sem nem mesmo saber quando ou o porquê. Mas no momento, não importava as consequências que cada uma de suas jogadas poderiam trazer.

Ela havia se decidido, iria até o grande final.