2 - I synántisi

1734 Words
Khloe Angely Eu simplesmente odiava meu chefe, aquele velho asqueroso sempre me obrigava a ficar até depois do meu horário no hotel onde eu trabalhava há quase três anos. Eu não me importo de ficar, o problema é o horário que meu turno acaba. Aqui em Atenas o dia é tão movimentado quanto à noite, mas eu não gosto de andar sozinha depois que o sol se põe. As lendas que os gregos contam realmente me dão sérios arrepios. Eu não tenho carro e no horário que saio, que é às duas e meia da madrugada, não passa quase nenhum ônibus que pare perto de Koukaki*, bairro onde eu moro. Então, além de ir sozinha, tenho que ir andando para minha casa, que fica um pouco mais de dois quilômetros do hotel. Eu gasto quase 30 minutos para chegar em casa, dependendo das ruas que pego. É o pior? Tenho que passar pelo bairro Psyrri*, um bairro muito perigoso para andar sozinho durante à noite, para poder chegar em casa. Já estava quase na hora do meu turno acabar, quando escuto as portas de vidro da entrada ser aberta. Reviro os olhos automaticamente e me levanto da cadeira que estava sentada atrás do balcão, lugar esse que eu estava quase dormindo. Meu humor estava péssimo devido a semana cansativa de estudos e trabalho, e hoje ter passado parte da noite discutindo com meu chefe. Porém, assim que olho para frente, vejo a pessoa que entrou. Era uma mulher lindíssima. Seus cabelos eram longos e levemente cacheados, na cor castanho escuro, sua pele, pouco exposta pela camisa social preta, era um bronzeado natural lindo, sua postura era elegante, como a maioria dos gregos ricos, e firme, mas bem feminina, seu cheio doce me deixou embriagada e me perdi durante alguns segundos olhando para suas mãos delicadas, que se apoiaram em cima do balcão quando ela o alcançou. Reparei que tinha uma aliança de ouro bem brilhante em seu anelar esquerdo. - Boa noite e bem vinda ao Hotel Dorian Inn. A Sra. tem reserva? - Pergunto tentando ao máximo não gaguejar. A mulher, que estava distraída olhando em volta, virou-se em minha direção e fitou meu rosto. Seus olhos se encontraram com os meus e eu me deslumbrei com a cor chocolate dos mesmos. Já tinha visto vários olhos castanhos, mas tão profundos e misteriosos iguais esses, jamais! Tive a sensação de já ter visto esses mesmos olhos em algum lugar. - Sim, em nome de Katarina Kollia Tepes. - Ela falou em greeklish, e com um sotaque grego forte, sem quebrar a ligação de nossos olhos. Sua voz era melodiosa e baixa, mas tão firme quanto sua postura. Ela me entregou seus documentos e procurei por seu nome no computador que ficava em cima do balcão, à minha frente e consequentemente ao lado de suas mãos. - Katarina Kollia Tepes, suíte para uma pessoa e estádia de 7 dias. Certo? - Olhei em sua direção esperando a confirmação, essa que veio com um simples aceno com a cabeça. - Seu quarto é o 737, no 6° andar. - Sas efcharistó.* - Um sorriso de agradecimento surgiu no canto de seus lábios vermelhos quando lhe entreguei o cartão magnético. Suspirei fixando meus olhos em sua boca e sorri fraco de volta. *Obrigada* - Desculpe-me por ficar aqui te prendendo a essa hora da madrugada, imagino que esteja com muita vontade de ir embora. - Seu tom de voz era culpado e seu cenho estava franzido. - Tudo bem, não tem problema. É o meu trabalho, Sra. - Sorri simpática e dei de ombros, lhe entregando seus documentos de volta depois de conferir mais uma vez. Estranho, já ouvi muito falar do seu último sobrenome, Tepes, mas nunca ouvi falar sobre alguma Katarina Kollia. - Seu chefe parece abusar de você. Te deixando sozinha até essa hora. - Saí de meus pensamentos quando ela falou e olhando em volta, confirmando se eu estava sozinha mesmo. Seu sotaque forte realmente está mexendo comigo. - Fazer o que, não é? Tenho que ganhar dinheiro. - Sorri triste, mas gostando dessa linda grega puxando papo comigo. Seu rosto se virou para mim e novamente me perdi em seus olhos castanhos. Não sei o motivo, mas seu olhar me prendeu de um jeito tão intenso que me deixou de pernas bambas e com o coração martelando no peito. - Qual seu nome? - Khloe Angely. - Khloe Angely... Muito prazer, Srta. Angely. - Ela falou parecendo saborear meu nome em sua boca e me estendeu sua mão. Ergui a minha e apertei a sua, que era incrivelmente quente. Agora é real, fiquei completamente arrepiada com seu jeito de falar puxando o "R", seu olhar quente sobre mim e seu toque só piorou as batidas do meu coração, que estava esmurrando contra minhas costelas. Senti um arrepio gostoso e estranho passar por todo meu corpo e parece que aconteceu o mesmo com ela, visto que a mesma sorriu discretamente, ou nem tanto assim, e quebrou o contato de nossas mãos. Só ai percebi que minhas estavam tremendo um pouco. - Já vou indo, tomei muito de seu tempo. - A grega foi em direção aos elevadores, que ficava a minha esquerda, praticamente desfilando sobre seus saltos altos e apertou o botão, fazendo as portas se abrirem para ela. Percebi que ela carregava uma pequena mala preta da Gucci em sua mão. - Cuidado ao ir para casa, Srta. Angely. Está bem tarde e as algumas ruas estão bem desertas. - Ela falou olhando por cima do ombro direito, antes de entrar na caixa metálica, me deixando sozinha e estática. Suspirei alto, logo o outro funcionário chegaria e estaria na minha hora de ir também. Alguns minutos depois vejo a garota da madrugada passando pela porta de funcionários e fico aliviada. Peguei minha bolsa, minha jaqueta e fui em direção a saída. Abri a porta de vidro e saí, olhando a avenida pouco movimentada. Apertei a jaqueta de couro contra meu corpo ao sentir uma brisa fria e comecei a andar, olhando para os lados, me certificando que nada anormal acontecia. Andei pelas ruas de Atenas calmamente, observando os bares lotados por ser sexta-feira. As pessoas sentadas em mesas nas calçadas, do lado de fora dos bares, estavam conversando e rindo alto. Eu podia escutar todos os tipos de músicas sendo tocadas em alguns bares, contagiando os gregos e turistas, fazendo-os dançarem até no meio das ruas mesmo. Observei também as arquiteturas antigas das casas, bares e mercados, fazendo-me sorrir, de tão apaixonantes que eram. Atenas era constituídas pelos pequenos e poucos templos gregos que ainda estavam aqui, erguidos por colunas típicas, as casas pintadas com a cor branca construídas com pedras e madeiras, algumas partes das ruas mostrando os tijolos alaranjados antigos por baixo do asfalto... Por isso sou apaixonada por aqui, os lugares em Atenas exalam antiguidade e por mais estranho que seja, me trazem nostalgia. Diminuí o passo e respirei fundo quando percebi estava chegando ao bairro Psyrri. Apertei minha bolsa contra meu peito disfarçadamente e comecei a andar mais rápido, vendo alguns vendedores de bugigangas e alguns homens estranhos me olharem de cima a baixo. Sem perceber, consegui passar pelo bairro sem problema algum e continuei meu caminho. Eu já estava quase chegando em casa quando sinto uma sensação estranha, um arrepio gelado percorrendo minhas costas, uma sensação que havia alguém me seguindo ou me olhando. Olhei por cima do ombro, sem parar de andar, é claro, mas não vi ninguém. Comecei a correr, tentando chegar em casa mais rápido para me trancar e me sentir segura. Ainda faltava alguns metros para chegar quando a sensação de estar sendo seguida aumentou, fazendo-me tremer de medo. Olhei para trás novamente e vi um gato preto, correndo na direção oposta em que eu ia. Olhei para a direção em que o gato correu e senti como se meu sangue parasse de circular pelas veias do meu corpo quando avisto uma sombra de um homem no final da rua, parado, apenas observando-me. Segurei o grito de pânico que queria rasgar minha garganta e corri como se minha vida dependesse disso. É no caso dependia mesmo. Um suspiro de alívio saiu pelos meus lábios secos e gelados assim que cheguei na entrada da minha casa. Tirei a chave da porta rapidamente do bolso da minha jaqueta, torcendo para que ela não escorregasse pelas minhas mãos trêmulas, e coloquei na fechadura, destrancando-a. Abri a porta tão rápido e forte que ela bateu na parede, causando um barulho alto pela colisão. Entrei e a fechei, trancando-a logo em seguida. Meu corpo todo tremia de medo, meu coração batia tão rápido que quase saia pela minha boca. Minha respiração estava ofegante, tanto pela corrida quanto pelo medo. Distanciei-me da porta e segui pelo corredor que daria ao meu quarto. Entrei nele conferindo se a janela estava aberta, e a mesma estava fechada como havia deixado antes de sair para a faculdade de manhã, mas a cortina estava presa no canto, deixando que a luz da lua iluminasse o quarto parcialmente escuro, então deixei assim mesmo. O brilho da lua me reconfortava quando me sentia sozinha. Tirei minha roupa, deixando-a jogada no chão do quarto e fui para o banheiro. Abri a porta de vidro do box e liguei a ducha na água quente, entrando debaixo, e relaxando automaticamente todos os meus músculos tensos. Tomei um banho demorado, me ensaboando calmamente, fazendo meu corpo relaxar e o cansaço da semana me atingir em cheio. Saí do banheiro, somente com um conjunto de lingerie branca. O cansaço era tanto que eu simplesmente deitei na minha cama, sem me preocupar em vestir alguma roupa. Me enfiei debaixo do edredom grosso e me permiti suspirar tranquila, porém logo meu corpo todo ficou tenso quando a sensação de estar sendo vigiada voltou com força. Olhei para a janela e não vi nada, somente a escuridão da noite, junto com algumas árvores balançando por causa dos ventos intensos e a lua cheia iluminando as ruas e meu quarto. Me acomodei melhor na cama e apaguei a luz do abajur, que ficava na cômoda ao lado da cabeceira. Fechei meus olhos, sentindo o sono tomar conta de mim. Meu corpo ficou mole, minhas pálpebras pesadas e eu apaguei.
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