Αθήνα

4528 Words
- The Hills – The Weeknd - Valleys – Honors ----------------------------------------------- Atenas - Grécia MDXIV - 1.514 d.C Katarina Kollia Na hora de vermos a pessoa que amamos partir, muitas vezes sem qualquer explicação, é impossível negarmos o sofrimento que sentimos. Com o tempo aprendi que sentir saudades é tão natural quanto respirar. Que se sentem saudades porque se inala um aroma qualquer que faz lembrar algo esquecido. Que se sentem saudades quando se passa em um lugar perdido no tempo, quando se revê um retrato que ficou no passado, quando se escuta um som de outros tempos. Dizer adeus não é fácil, mas chega um momento em que é preciso. Não me sentia bem. Estava como um bagaço, que depois de sugado é atirado ao chão. Tinha perdido a vontade de sorrir, de viver, já nem cuidava mais de mim. Durante muito tempo o meu céu ficou nublado, os dias eram cinzentos, as noites não tinham luar, as estrelas não brilhavam. Até aquele dia... (...) Risadas, gritos contentes, músicas altas e o cheiro forte do vinho impregnado no ar, explicava o motivo das pessoas alegres demais no antigo Teatro de Dionísio, celebrando O festival das Antestérias, uma celebração anual ao deus Dionísio e a Hermes, que marcava o fim do inverno e o início da primavera. Eu sentia meu corpo pesado e minha visão turva, provavelmente pelas seguidas taças de todos os tipos de vinho que ingeri sem pausas. Dançava como se o mundo fosse acabar, girando, pulando e suando junto com os demais gregos ao meu redor. Sentia o cheiro de todos os tipos de sangue dos humanos e podia ouvir corações batendo freneticamente, atiçando-me de um jeito quase insuportável. Depois do ritual onde as crianças de 3 ou 4 anos eram coroadas por uma coroa de flores, elas recebiam seu primeiro cântaro de vinho — um tipo de vaso grego usado para beber vinho em rituais nos respetivos festivais anuais — todos se juntaram no centro do Teatro para comemorar e beber, obviamente. Eu costumava a participar sempre destas festas acompanhada do meu pai, pois nos divertíamos mais quando estávamos juntos, mas isso não aconteceria mais. Há uns dias atrás, recebi uma carta informando sua morte, sem explicações ou motivos plausíveis. Estava no meu templo aguardando notícias suas, depois que o mesmo partiu em uma viagem à Romênia, quando um mensageiro, pequeno e amedrontado, entregou-me a carta. Perdi meu chão ao terminar a leitura. Lembro-me vagamente da minha reação após à leitura. O pobre mensageiro provavelmente sofreu ao ter seu pescoço rasgado pelos meus dentes de um jeito brutal. Não soube o motivo dele ter permanecido no meu templo depois de me entregar a carta, somente sei que talvez ele poderia estar vivo hoje se não tivesse tido à audácia de permanecer em um lugar que não era bem-vindo sem convites. Chorei dias seguidos pela morte de meu pai, sendo ele a única pessoa que permaneceu ao meu lado desde criança, após minha mãe morrer misteriosamente. Não conseguia me alimentar, dormir ou sair de minha casa. Entrei em um estado vegetativo profundo, desejando a minha morte inúmeras vezes, não querendo ficar sozinha na minha eternidade como vampira. Perdi completamente as esperanças. Tornei-me uma mulher vazia de sentimentos após o ocorrido. Não sabia do motivo de sua viagem repentina para um lugar tão distante quanto à Romênia, só soube do necessário. “É uma viagem de negócios, querida. Não se preocupe, voltarei quando menos esperar! ” Esperei em meu quarto por dias seguidos, aguardando o momento em que ele chegaria e entraria pela porta, dizendo-me que não passou de uma brincadeira de mau gosto. Mas quando a ficha de que ela não voltaria para mim caiu, surtei, chorando e gritando. Quebrando a decoração do meu templo e esmurrando paredes. Cheguei até ficar com a pele um pouco ressecada pela falta de sangue. Mas, subitamente, numa noite fria de final de inverno, uma vontade de aproveitar minha imortalidade com todos os direitos que tinha apoderou-se do meu corpo. E hoje estou aqui, no meio dessa multidão, dançando e bebendo até meu organismo começar a rejeitar o álcool. O vinho me deixava em êxtase, tirando meu raciocínio lógico e coerentes, junto de meus pensamentos. Eu só queria me afundar no vinho, esquecendo-me que existia amanhã. Sentia o suor descer pelas minhas costas, grudando em minha pele o caro tecido branco do meu vestido longo e justo. Pendi minha cabeça para trás e passei a mão livre em meus cabelos longos, jogando-os por cima do meu ombro direito, logo levei minha taça em direção aos meus lábios, sorvendo o vinho tinto suave mais saboroso que havia provado até agora. Tomei longas goladas, acabando com o líquido roxo em segundos, ansiando por mais. Tinha perdido a conta de quantas taças de vinho havia ingerido em menos de 4 horas, mas não foram poucas. Homens e mulheres cortejaram-me desde a minha chegada, mas nenhum deles havia despertado meu interesse. Até o momento. Andava desnorteada e cambaleante entre as pessoas procurando por alguém que pudesse me servisse mais vinho, sentindo corpos suados e alcoolizados esbarrarem contra mim. Até que minha visão turva focalizou em um homem, aparentemente alto e musculoso, vestindo uma armadura prateada de gladiador, provavelmente se esbaldando do poder que ela trazia consigo, observando as demais mulheres que dançavam ao seu redor. O rosto bronzeado e de traços firmes compunha a aparência do homem, podendo ser facilmente comparado à um deus grego de tão belo. Eu nunca me interessei pelo sexo oposto, não gostava de homens no geral, mas aquele me chamou atenção. Não para ter relações sexuais ou sequer um beijo, mesmo tendo uma beleza inegável, mas sim pelo cheiro forte de seu sangue, que eu pude sentir mesmo estando alguns metros longe. Agridoce e suculento. Caminhei até ele, desviando das pessoas que entravam em meu caminho, logo ganhando sua atenção. Seus olhos castanhos quentes e brilhantes desceram pelo meu corpo lentamente, arrepiando-me pelo olhar feroz que exibiam. Consegui avalia-lo melhor agora que estava mais perto. Alto e forte, com a pele morena, cabelos pretos e lisos, estando completamente desgrenhados dava-o uma aparência selvagem, boca carnuda e rosada exibindo um largo e arrogante sorriso, sobrancelhas grossas marcavam ainda mais o olhar malicioso do homem sobre mim. Ele fazia jus ao perfil de guerreiro. Sorri com meu lábio inferior preso entre os dentes, indo em sua direção. Ele afastou-se rapidamente das mulheres ao seu lado quando viu minha intenção de aproximar-se, levantando do lugar onde estava sentando anteriormente, ficando de pé apenas aguardando-me. - Boa noite, senhorita. - Pegou em minha mão e levou até seus lábios, beijando-a delicadamente, assim que cheguei perto o suficiente de seu corpo. Deliciei-me ainda mais com o cheiro de seu sangue, ansiosa pelo momento em que pudesse sugar até a última gota. - Boa noite. - Respondi educada e sorri sedutoramente, atuando como a muito tempo não fazia. - O que uma bela dama como você faz desacompanhada nesta festa tão movimentada? - Ele teve a audácia de puxar-me pela cintura contra seu corpo quente. Suspirei, segurando um rosnado que queria rasgar minha garganta, mas deixei-me ser agarrada por ele. - Decidi distrair-me hoje. - Um sorriso cínico cresceu em meus lábios, enquanto passava suavemente meus dedos sobre tatuagem de escritas gregas em seu peitoral, sendo exposta pela armadura que cobria somente um lado de seu torso. Pude sentir sua pele se arrepiar pelo contato dos meus dedos. Ótimo. - Posso cuidar de lhe distrair mais, senhorita... - Sua voz estava mais rouca pelo seu estado embriagado, causando-me desgosto pelo hálito forte de bebida. Beleza nem sempre é tudo. - Katarina Kollia, senhor. - Sussurrei com a minha boca próxima de sua orelha, quando me ergui na ponta dos pés. Queria seduzi-lo; embebeda-lo com minha voz e deixá-lo extasiado com minha beleza, para sugar todo seu sangue. Amava o jogo de flertar com minhas vítimas, para depois matá-las bem lentamente. Principalmente os homens, que se deixavam levar por tão pouco. - A senhorita tens um belo nome. - Apertou-me ainda mais contra si, onde pude ouvir seu coração acelerado, bombeando seu sangue. Salivei, enquanto puxava seus cabelos lisos entre meus dedos e prendia seu olhar no meu, deixando-o em um estado de excitação mais rápido do que imaginei. - Não me dissestes teu nome ainda. – Seus olhos estavam perdidos em meu rosto. - Jace Drakus ao seu dispor, senhorita Kollia. - Muito bem, Jace, não quero mais enrolar. Vamos logo sair daqui. (Play na música The Hills) Ele sorriu de um jeito safado, mordendo os lábios, logo me puxando para longe das pessoas apressadamente. Passamos pelos grandes portões do Teatro e ganhamos a rua, que estava completamente deserta e escura, já que a maioria dos cidadãos da cidade estavam festejando no local que estávamos anteriormente. O céu estrelado brilhava sobre nossas cabeças e o vento frio soprava com força, bagunçando meus cabelos e deixando tudo mais sombrio. A lua cheia era a única luz que iluminava as ruas, onde a penumbra da noite predominava. Fui prensada bruscamente em um muro que rodeava o Teatro de Dionísio, sentindo seu corpo alto e quente prender-me firmemente, não me deixando escapatórias. - Observei-te durante boa parte da noite, senhorita Kollia. Não sabes o quanto estou lhe desejando no momento. - Ele murmurou enquanto beijava meu pescoço, lambendo e o mordendo. Revirei os olhos, não de prazer e sim de tédio. - Muito bom saber disto. - Tombei minha cabeça para o lado, dando-lhe espaço para beijar minha pele, aguardando o momento certo para agir. - És tão cheirosa, senhorita. Tão gostosa. - Um sorriso arrogante se formou em minha boca enquanto arrastava minhas mãos em suas costas definida, arranhando-a de cima a baixo e o sentindo arfar em minha pele. Suas mãos apertavam minha cintura possessivamente, puxando-me contra seu corpo constantemente, fazendo-me sentir sua grande ereção contra meu abdômen. Olhei para os lados, não avistando ninguém onde estávamos e sorri. Chegou minha vez. Empurrei seu corpo, distanciando-nos um pouco e nos girei, trocando de posição rapidamente. Olhei para seu rosto, mirando sua expressão assustada, mas seus olhos castanhos estavam cheios de t***o acumulado. - Meus deuses. - Seu sussurro rouco e e******o chegou em meus ouvidos, quando puxei fortemente seus fios pretos perto da nuca entre meus dedos de ambas as mãos, pendendo sua cabeça para trás, fixando meu olhar em sua veia pulsante em seu pescoço. Não conseguia enxergar mais nada a minha volta, a não ser a jugular latejando sob a pele do homem. Sentia as veias abaixo dos meus olhos pulsarem de um jeito forte, fazendo-me ter a certeza que meu rosto já estava transformado. Os meus caninos crescidos arranhavam meu lábio inferior suavemente. Meus sentidos trabalhavam a todo vapor, pois escutava tudo ao meu redor e sentia diversos cheiros inebriantes de sangue. Beijei e lambi a pele bronzeada do pescoço de Jace, podendo ouvir perfeitamente quando um baixo gemido foi emitido. Meu corpo queimava em uma ansiedade gostosa, minha garganta completamente seca aguardava o momento em que o sangue quente e doce desceria por ela, saciando-me. Meu coração palpitava nervosamente. Sem conseguir me segurar mais, levei uma mão para sua boca, tampando-a, e o empurrei ainda mais contra a parede atrás de si com meu corpo, para cravar meus dentes em seu pescoço, furando a pele fina, sentindo o sangue saciar deliciosamente minha sede. Seu grito de dor foi abafado pela minha mão, enquanto eu afundava ainda mais meus caninos em sua pele, trazendo mais de seu sangue a mim. Ele começou a se debater, mas sua força não era páreo contra a minha. O sangue jorrava em abundância, deixando-me desesperada para sugar tudo. Mordi com mais força, ansiando acabar com a minha sede momentânea. Até que o senti perder às forças e seu corpo amolecer contra o meu. O coração que antes batia freneticamente em seu peito, agora m*l se escutava. Quando drenei todo o sangue, vi o homem cair no chão à minha frente, morto, sem nenhuma gota de sangue sequer em seu corpo. Joguei minha cabeça para trás, extasiada com o sabor divino ainda em minha boca. Passei a língua sobre os lábios, limpando qualquer resquício do líquido, e sorri largo. Levei minha mão direita até meu queixo para limpar o sangue que havia escorrido por ele. Olhei em volta, não avistando ninguém, e mirei o corpo pálido jogado de qualquer jeito no chão, o sorriso macabro nunca abandonando meus lábios. Provavelmente achariam que houve uma briga ou algo do tipo, quando o encontrasse largado aqui, não que eu me importasse com o destino desse ser insignificante. Minha noite estava só começando. (...) Eu não sabia onde estava, mas sabia que tinha andando por entre as ruas de Atenas durante algumas horas, completamente sem rumo. Depois que matei aquele homem, que agora não recordava-me mais o nome, voltei para a festa e bebi ainda mais, dançando e sugando mais sangue de outras pessoas que seduzia, mas não matei ninguém mais, só me alimentei o suficiente ainda deixando-as vivas. Todos estavam bêbados demais para perceber o que aconteciam debaixo de seus narizes. Andava cambaleante, sentindo o álcool do vinho deixando-me absurdamente tonta. Tropeçava nos meus próprios pés a cada cinco passos que dava e ria alto sem motivo algum. Os saltos altos dificultando ainda mais a minha tarefa de andar sem cair. Parei e tentei me localizar, observando debilmente o lugar que estava parada, percebendo que era uma área mais afastada do centro da cidade. Olhei em volta, vendo tudo girar, e avistei um pouco longe uma casa. Forcei minha visão embaçada mais um pouco e vi uma chama acessa dentro do pequeno imóvel. Talvez um lampião ou uma lareira. Ou seja, há pessoas lá. Senti minha garganta secar subitamente, desejando mais sangue. Caminhei lentamente até a casa, seguindo por um caminho feito de pedras que daria para a entrada da pequena casa. Estava muito bêbada para me detalhar do ambiente, mas sabia que o lugar era cercado por uma campina, árvores altas — dando o lugar uma aparência assombrada pela escuridão que o rodeava — e plantações. A escuridão da noite dificultava minha visão, e devido ao meu estado alcoolizado elevado, não vi um pequeno relevo de uma pedra no chão. Não havia onde me apoiar, por isso cai, batendo a cabeça na porta da pequena casa, causando um alto barulho pelo impacto. - Ai! - Ergui minha mão e acariciei a parte onde estava doendo, perto da têmpora esquerda. Tentei me sentar, mas meu corpo estava muito mole, então continuei deitada com a cabeça apoiada na porta e de olhos fechados, até ter forças o suficiente para conseguir me levantar. O álcool logo sairia do meu organismo, era só questão de tempo. Ouvi passos apressados dentro da casa e uma única respiração afobada, causando um barulho estranho pelo aparente desespero da pessoa. A porta foi aberta repentinamente, e como eu estava apoiada na madeira, cai para o lado, batendo a cabeça no chão mais uma vez. - Ai! - Reclamei novamente, enquanto me erguia, ficando apoiada pelos cotovelos. - Você poderia ter sido mais gentil e não abrir a porta assim. - Oh meus deuses! Me perdoe, senhorita. A voz rouca me chamou atenção, me fazendo tombar minha cabeça para trás de um jeito bruto já que a pessoa estava a minhas costas, olhando para cima e me deparando com uma mulher que me fitava assustada. Oh céus! Não sabia se com a minha queda tinha batido à cabeça mais forte do que meu corpo alcoolizado sentiu ou eu realmente estava diante de uma Deusa. A beleza da mulher era indescritível, tão delicada em seus traços de menina, mas tão mulher ao mesmo tempo. A camisola de alças finas feita de cetim num tom perolado realçava as belas curvas de seu corpo, deixando-a ainda mais deslumbrante. Eu poderia compara-la à Afrodite sem nenhuma dificuldade. Fiquei sem palavras, completamente hipnotizada pela mulher de olhos tão verdes. Não havendo reações da minha parte, ela se moveu, me ajudando a sentar, para puxar-me delicadamente para cima, fazendo com que meu corpo se apoiasse no seu. Quente, muito quente. Firmei minhas pernas sobre meus saltos, e elevei meu rosto, fazendo com que meu olhar se cruzasse com o seu. Fiquei assustada com a explosão de sentimento que houve dentro do meu peito e percebi que a mulher provavelmente teve as mesmas sensações, seus olhos arregalados e seu coração batendo fortemente em seu peito a denunciava. Meu coração palpitava violentamente contra minhas costelas, meus pulmões pareciam não funcionar corretamente, uma vez que o meu ar estava escasso. Minha pele se arrepiou completamente e meu corpo ficou mais pesado, não pelo álcool, pois o efeito do mesmo sumiu assim que nossos olhos se prenderam uns aos outros, mas em uma sensação gostosa. Um preenchimento na alma, uma coisa prazerosa de se sentir. Meu estômago embrulhava em uma sensação esquisita e desconhecida, como se houvesse milhares de borboletas levantando voo ao mesmo. - A senhorita sente-se bem? - Sua voz rouca e tímida chegou em ouvidos, logo após ela ter quebrado a ligação de nossos olhares. - Estou muito melhor agora. - Sussurrei sem conseguir segurar às palavras em minha boca, observando perdida cada detalhe do rosto da mulher à minha frente. Pele branca e aparentemente macia, brilhando pela luz da lua que iluminava aquele fim da noite fria e silenciosa, combinando perfeitamente com a boca bem desenhada num tom avermelhado tão forte que me segurei para não passar meus dedos sobre os lábios carnudos, as bochechas coradas, e os olhos tão verdes e cintilantes que eu senti como se pudesse me afogar neles, descobrir o que escondiam e desvendar os mistérios contidos neles. Os cabelos negros, que batiam na altura da cintura, esvoaçavam pela brisa calma que nos atingia constantemente, fazendo com que algumas mechas caíssem por seu rosto. - S-senhorita? Está tudo bem? - Estou me sentindo um pouco tonta. Minha cabeça está girando! A mulher me puxou ainda mais contra seu corpo, e eu pude descansar minha testa em seu ombro direito, apoiando minhas mãos em sua cintura, entretanto, sem malícia no toque, apenas para ter onde me segurar. Quando senti o cheiro de seu sangue, depois de ter escondido sorrateiramente meu rosto em seu pescoço, e notei que era o meu tipo favorito, o mais doce e saboroso de todos, sentido apenas uma vez em meu paladar, estranhei-me, franzindo fortemente o cenho ainda sem ter movido meu rosto do lugar. Não tive vontade alguma de me alimentar da belíssima mulher, eu não consegui imaginar-me matando um ser tão divino quanto ela. Parecia um erro absurdo que meu corpo e minha mente se recusava a fazê-lo. - Venha, senhorita, entre comigo. Apoie-se em mim e deite-se um pouco, não me parece nada bem. Ela caminhou comigo, me ajudando a andar até a pequena sala de estar da casa, e me deitou no sofá de couro, ajeitando-me confortavelmente no móvel macio. Tirou os saltos dos meus pés e os colocou no canto da porta de entrada. - Como viestes parar tão longe? Parece uma moça da cidade, provavelmente nunca veio para esta área de Atenas. – Perguntou, indo em direção ao pequeno lampião sobre uma estante no canto da sala, pegando-o e se aproximando novamente. O cômodo ficou parcialmente iluminado pela luz amarelada da chama. Observei o momento em que a bela mulher se sentou numa pequena mesa de madeira que ficava em frente aonde eu repousava. Ela me olhava com curiosidade e admiração, passando seus olhos por todo meu corpo, mirando cada detalhe que prendia a atenção daqueles olhos verdes. - Não sei como, mas vim andando até parar aqui. Estava no Festival das Antestérias, no Teatro de Dionísio. - Oh céus! - Seus olhos se arregalaram e fitaram os meus. - Veio andando sozinha, na madrugada, de tão longe assim?! - Hm, sim? - Um sorriso suave se abriu em meus lábios pela preocupação evidente em sua voz. Deitei a cabeça no estofado e deixei que meus olhos percorressem pelo seu rosto alvo. - Estás embriagada? - Estava. - Lhe corrigi quando me olhou assustada, provavelmente pensando que eu pudesse lhe machucar de alguma maneira. - Não se preocupe, não bebi tanto assim e não irei te machucar. Só estava apreciando à noite e não percebi o momento que comecei a me afastar do Teatro, mas também estava cansada de ficar lá. - Compreendo-te. - A mulher apoiou seus cotovelos em seus joelhos, que estavam cobertos pela camisola de cetim perolada, entrelaçando os dedos, e sua expressão se tornou pensativa. - O que pretende fazer? Não posso deixar-te voltar sozinha quando ainda está escuro, mas também não posso lhe acompanhar até sua casa. - Eu poderia ficar aqui até o amanhecer, então. Se me permitir, é claro! Não quero lhe incomodar. Seus olhos verdes curiosos avaliaram-me, e seu cenho franziu. Ela ponderava a ideia. - Tudo bem, senhorita, fique aqui está noite. Amanhã cedo poderá ir sem perigos para sua casa e me deixaras tranquila aqui. - Obrigada, assim poderei me localizar, pois realmente não sei onde estou. – Eu não menti, estava perdida, já que nunca andei por esses lados de Atenas antes. Ouvi sua risada baixa, um som gostoso de ser apreciado, e lhe observei enquanto ria, com um sorriso discreto em meus lábios. Seus olhos ficaram cerrados pelo largo sorriso genuíno estampado em sua boca e as bochechas levemente rosadas. Ela não deveria ter mais de 20 anos. - Posso saber teu nome, senhorita? Já que pretendes passar a noite aqui, ou o resto dela. – Ela perguntou em um tom divertido. - Katarina Kollia. – Sorri, permanecendo deitada. A tontura já havia passado há algum tempo. – E o teu, senhorita? - Khloe Angely. - Tens um belo nome, senhorita Angely, assim como a dona dele. Seu rosto tingiu de um tom completamente avermelhado, e seus olhos desviaram-se dos meus, mirando qualquer outra coisa que não fosse eu. - Obrigada. Acenei com a cabeça, vendo-a se levantar da mesinha, ajeitando a roupa em seu corpo. A ação foi tão inocente como qualquer outra que ela fizera, mas seus movimentos foram de uma sensualidade obscena, deixando-me paralisada com meus olhos presos em seu corpo. - Bom, eu irei me deitar agora. Preciso dormir, meus pais chegarão para uma visita bem cedo. Então... tenha um bom descanso, nos falaremos logo mais! – Khloe pegou o lampião que ficara ao lado de onde estava sentada e caminhou lentamente em direção a saída da sala, ainda mantendo seus olhos sobre mim. – Qualquer coisa me chame. - Mais uma vez lhe agradeço, senhorita Angely, por me hospedar em sua casa. Tenha um bom descanso. – Lhe lancei um sorriso agradecido e sincero, sendo prontamente retribuída. – Até mais. Logo após Khloe se retirar, deitei de costas sobre o pequeno sofá, com minha cabeça dando voltas. Me perdi em pensamentos enquanto deixava meus olhos passarem por todo o cômodo, observando tudo ao meu redor. A sala era pequena, porém aconchegante. O sofá onde estava deitada era encostado na parede, com a mesa de centro frente a ele; uma estante grande ficava na parede lateral do cômodo, tendo nela alguns livros e enfeites delicados, como vasos e flores. E uma janela ficava bem no meio da parede esquerda da sala, dando uma visão da campina escura lá fora. Eu estava cada vez mais confusa com meus pensamentos e os vários porquês que rondavam minha mente. Por que eu não a matei? Sendo que pretendia fazer isso com a primeira pessoa que abrisse aquela porta. Por que eu senti como se meu coração tivesse explodido quando nossos olhos se encontraram? Por que ela me convidou para entrar em sua casa tão facilmente? Sem ao menos duvidar de minhas intenções. Por que eu senti vontade de beijá-la e de entregar meu corpo, pela primeira vez, a alguém que nunca havia visto na vida? E por que eu senti a necessidade de permanecer ao lado dela? Rolei de um lado para o outro no sofá durante várias horas, com as perguntas rodeando minha mente sem cessar. Pude ouvi-la em seu quarto, no segundo andar da casa, inquieta também, mexendo em sua cama sem parar, mas não soube dizer se estava dormindo ou acordada. O ranger do móvel contra o chão e o arrastar do lençol contra sua pele me deixou nervosa, ansiosa. Queria poder tocar em seu corpo do mesmo jeito em que aquele tecido fazia. Balancei a cabeça, afastando os pensamentos e fechei os olhos, sentindo a brisa fria entrar pela janela aberta da sala, arrepiando minha pele. O dia já estava clareando, e eu teria que ir para meu templo antes do sol nascer completamente, para não ter o risco de queimar meu corpo. Levantei apressadamente e andei em direção a porta de entrada. Não queria incomodar a bela mulher em seu sono, preferia sair em silêncio sem acordá-la. Abri a porta com cuidado, sem querer fazer barulhos, e sai, podendo agora ver melhor o lugar onde estava. Era uma fazenda, bem longe do centro de Atenas e consequentemente longe da minha casa, mas isso não seria problemas para mim. Avancei mais alguns passos para longe da casa, depois de fechar a porta com o mesmo cuidado que a abri, e olhei para trás mais uma vez. Sorri sabendo que provavelmente voltaria a ver aquela mulher, pois não a deixaria escapar assim tão fácil. Comecei a correr tão rápido quanto pude e em menos de 10 minutos consegui chegar sã e salva em minha casa, entrando para me esconder dos raios solares que me queimariam até a morte caso ficasse exposta por muito tempo. Andei pelos corredores largos do meu templo, até chegar em meu quarto, rapidamente tirando meu vestido e meus saltos, ficando completamente nua. Deitei em minha cama, me aconchegando entre os lençóis e travesseiros macios, sem me preocupar em colocar alguma roupa ou banhar-me. - Acho que entendi o que o senhor quis dizer, papai. – Murmurei comigo mesma, lembrando-me quando meu pai avisou-me, há uns anos atrás, sobre este dia tão importante para mim. Fiquei emocionada automaticamente, sentindo uma lagrima descer pela minha bochecha timidamente. "[...]Filha, o amor não nasce incondicional. Ele surge imperceptível, vai crescendo no nosso coração e se torna forte, eterno e então, incondicional. Quando for a hora certa, você saberá e entenderá o porquê estou lhe falando isso. - Vi meu pai admirar o horizonte e observar o pôr do sol. Ele suspirou alto e passou um braço por cima dos meus ombros, puxando-me para um abraço protetor e confortável. - Uns dias atrás, em meus sonhos, uma mulher, mais parecida com um anjo de tão bela, contou-me que minha pequena filha já tinha sua outra metade. Disse também que no, momento certo, você irar encontrá-la e isso já está destinado a acontecer. Por isso, minha pequena, estou lhe falando isso. Saiba ser paciente, o amor aparece quando menos esperamos." (...) PARTE DOIS NO PROXIMO....
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