Katarina Kollia
Há alguns séculos atrás, quando eu tinha apenas 17 anos, antes do fadado dia, meu sábio pai levou-me a um topo de uma colina e disse-me uma coisa, essa que eu guardei em meu coração e levarei para toda minha vida.
"[...]Filha, o amor não nasce incondicional. Ele surge impercetível, vai crescendo no nosso coração e se torna forte, eterno e então, incondicional. Quando for a hora certa, você saberá e entenderá o porquê estou lhe falando isso. - Vi meu pai admirar o horizonte e observar o pôr do sol. Ele suspirou alto e passou um braço por cima dos meus ombros, puxando-me para um abraço protetor e confortável. - Uns dias atrás, em meus sonhos, uma mulher, mais parecida com um anjo de tão bela, contou-me que minha pequena filha já tinha sua outra metade. Disse também que no momento certo você irar encontrá-la, isso já está destinado a acontecer. Por isso, minha pequena, estou lhe falando isso. Saiba ser paciente, o amor aparece quando menos esperamos."
Hoje eu o agradeço por ter me aconselhado, e uso isso quando me sinto perdida e sozinha nessa longa estrada que venho percorrendo durante todos esses anos. Tive que ser muito paciente e extremamente cautelosa com todos os meus atos, pois eu poderia colocar tudo a perder. Então, aproveitei para passar dez dias na minha mansão em Santorini, resolvendo alguns problemas da empresa e organizando a minha mente, e no domingo a noite voltei para Atenas. Não sei se fiz a decisão certa de ir procurar Khloe no dia seguinte, mas o peso em meu coração estava me sufocando aos poucos.
Quando fui procurar pelo amigo dela, Théos, a dúvida não martelava mais a minha mente, como aconteceu durante todos os malditos dias. Não desisti, eu precisava disso. Eu precisava dela para viver.
Neste dia de grande importante para mim, levantei determinada a procurá-lo e enfrentar meus medos, eu simplesmente não aguentava mais a maldita distância entre Khloe e eu. Meu corpo implorava pelo dela, meu coração pelo seu e minha alma pela sua. Já que ainda estava hospedada no hotel, fui a recepção à sua procura. Sabia que minha mulher estaria na faculdade e aproveitaria esse tempo que teria para planejar o que faria.
Eu, obviamente, sabia de toda a rotina de Khloe e os lugares que ela mais costumava a frequentar, não por possessão, obviamente, apenas para a sua proteção, devido a maldita perseguição que sofríamos. E para meu plano dar certo, teria que fingir e agir como se não soubesse de nada, por enquanto. O encontrei atrás do balcão onde Khloe ficava em seu turno e parei alguns segundos para observá-lo.
O cara era realmente lindo e charmoso, de uma beleza que poucas pessoas resistiriam. A pele morena contrastava com os cabelos negros e lisos, os olhos azuis pareciam com os de um felino, selvagens. Tive a ligeira sensação que o conhecia de algum lugar, porém não me recordava de onde.
" - Olá, bom dia. - Falei calmamente ao me aproximar dele.
- Bom dia, Sra. Kollia. - Ele respondeu parecendo nervoso, olhando para os lados e não focando o olhar em mim. Estranhei sua reação e decidi ficar de olho nele.
- Gostaria de saber onde a senhorita Angely está. Preciso falar com ela.
Ele olhou-me de cima a baixo, avaliando e decidindo se me responderia.
- Porque quer saber?
- Por que eu a levei para casa uns dias atrás muito bêbada e quero saber se ocorreu tudo certo depois disso. - Fiquei um pouco nervosa em ter que me explicar para um estranho, já que não devia satisfações nenhuma para ele. E hoje era um péssimo dia para me deixar com raiva.
- F-foi você quem a l-levou para casa? - Concordei com a cabeça quase revirando os olhos pela lerdeza. O que ele tem de bonito, tem de lerdo. - Oh... hm... Ela está na faculdade no momento.
- Obrigada."
Depois daquilo, segui com meu plano e fui para a Universidade de Atenas, um dos lugares que acho mais lindo na cidade.
Fiquei alguns minutos parada na entrada, só esperando dar o horário de Khloe sair. Enquanto a aguardava no meu carro, estacionado frente à universidade, peguei meu celular e decidi olhar alguns e-mails das empresas, precisava adiantar alguns assuntos.
Quando estava terminando de responder um acionista, um e-mail de Ashton chegou. Curiosa, decidi olhá-lo.
Bom dia, Katarina.
Não quero dizer o que você tem que fazer, longe de mim cometer tal estupidez, mas precisa tomar cuidado com o que faz pelas noites. Você pode atrair as pessoas que estão lhe caçando para cá e colocar Lauren em perigo mais uma vez. Clique no link e veja o que estou lhe falando.
- Merda. - Nem precisei ler o resto, sabia muito bem o que era. - Não posso colocar Khloe nessa situação delicada de novo. - Murmurei para mim mesma enquanto olhava distraidamente para fora.
Vi uma pessoa indo em direção ao ponto de ônibus bem próximo daqui e soube que era Khloe pelos cabelos negros caindo em cascata pelas costas. Saí rapidamente do carro e gritei seu nome, vendo-a parar abruptamente e se virar para mim.
Era muito gostoso quando nossos olhos se encontravam, causando um preenchimento em meu peito e um calor intenso pelo corpo. Sabia que a sensação era recíproca, já que sempre sentíamos o que acontecia com a outra. Eu podia escutar seu coração completamente acelerado e vi sua timidez evidente, fazendo-me sorrir fraco com isso. Sentia falta de fazê-la sorrir ou corar, de fazê-la ficar tímida com meus elogios ou quente com meus beijos.
“Ah Zeus, eu estou tão melosa e carente. ” — Pensei enquanto a olhava admirada caminhar em minha direção.
Num impulso corajoso que se apossou de mim depois de alguns minutos de olhares intensos e pouca conversa, convidei-a para jantar comigo no final de semana. Quase me arrependi, mas quando vi um pequeno sorriso no canto de seus lábios, a alegria tomou conta do meu corpo.
"- Hipoteticamente falando, se eu aceitasse, onde iríamos?"
Achei-a estupidamente linda quando falou de um jeito tímido. Não consegui frear o sorriso imenso que se abriu em meu rosto com a sua fofura, mas tive que me segurar para não beijá-la.
Então a semana passou-se numa rapidez incrível, me assustando quando vi que já era sábado. Quando deu um certo horário, fui me arrumar, escolhendo uma das melhores roupas que tinha no closet. Sabia que Khloe não ligava para esse tipo de coisa, pois a conhecia há séculos e isso não mudou, mas queria ficar bela para ela. Não poderia ficar de qualquer jeito ao lado de uma mulher igual à minha.
Fui buscá-la em sua casa na hora certa e a trouxe em um restaurante que eu amava, não por ser caro ou luxuoso, mas sim pela qualidade dos alimentos e vinhos, e da beleza do lugar.
Não pude deixar de reparar o quão incrivelmente linda Khloe estava, com um vestido bem justo na cor azul escuro, um pouco acima dos joelhos e com o decote quadrado, com os cabelos naturais modelando o seu rosto e uma maquiagem forte que destacava os olhos verdes que tanto me fascinavam.
...............
Conversamos sobre poucos assuntos, nada realmente interessante e que a fizesse focar em mim, e nesse momento foi quando percebi Khloe inquieta na sua cadeira, enquanto aguardávamos os nossos pedidos, olhando para todos os lugares e mexendo ansiosamente os dedos, batucando-os na mesa ou embolando o guardanapo de pano entre eles. Não imaginava o motivo da sua inquietação e quando fui perguntá-la, meu nome já escapava por seus lábios.
- Katarina. - Se a minha audição não fosse tão aguçada, provavelmente não escutaria a sua voz baixinha e extremamente rouca. Olhei para ela, sorrindo para acalmá-la e coloquei o guardanapo sobre meu colo, querendo dar toda a atenção a ela. - Eu me lembro daquele dia. Lembro-me do seu sussurro contra os meus cabelos.
Talvez Khloe pôde escutar o meu coração, de tão forte que ele começou a bater contra o meu peito. Eu fiquei sem reação momentaneamente e comecei a pensar como eu contaria-lhe a verdade.
- Quem é você, Katarina Kollia?
- Eu? - Perguntei-a baixinho a olhando nos olhos. Estava tentando conter os tremores em meu corpo.
- Sim, quem é você? - Ela começou a falar um pouco mais alto. Parecia ao ponto de explodir, me deixando nervosa. - Quero saber o porquê de sempre que nos encontramos eu tenho a maldita sensação que te conheço há anos, ou o porquê de todos os meus sonhos envolvem você, até mesmo antes de você aparecer em minha vida. Mas, não parecem somente sonhos, e sim lembranças. Sinto como se meu coração fosse sair pela minha boca todas às vezes que te vejo. Eu estou exausta disso, pois não durmo mais, não como mais, não consigo me concentrar em meu trabalho ou na faculdade PORQUE VOCÊ NÃO SAÍ DOS MEUS PENSAMENTOS.
Khloe praticamente gritou as últimas palavras, chamando a atenção de algumas pessoas e fazendo as palavras sumirem da minha boca. Pude sentir o meu coração quase quebrar as minhas costelas.
- Você sonha comigo? Quais tipos de sonhos, Khloe? - Eu precisava saber, queria ter certeza se seria igual às últimas vezes. Só assim seria mais fácil falar a verdade.
Ela tremia tanto que eu estava com medo dela ter uma síncope.
- Não sei se consigo explicar para você.
Sentia que Khloe estava receosa por algum motivo, então por isso me levantei, pegando minha bolsa e dando a volta na mesa redonda, parando ao seu lado. Puxei-a para se levantar delicadamente pela mão, trazendo seu corpo para próximo ao meu.
- Eu vou te dar as respostas que você precisa. - Sussurrei enquanto olhava seus olhos verdes, eles estavam clarinhos e marejados.
- Okay. - Sua voz estava trêmula e baixinha.
Nessa hora o garçom chegou com o nosso pedido e nos olhou confuso.
- Me desculpe, mas teremos que ir embora.
- Oh, tudo bem. - E antes dele continuar, peguei algumas notas e lhe entreguei. Ele olhou-as e arregalou os olhos. - S-senhora, aqui tem mais do que...
- Eu sei, fique com o troco.
Pude escutar o coração do homem acelerar e sorri, dando as costas para ele e puxando Khloe para fora do restaurante. Precisava de um lugar calmo para lhe contar a verdade.
Fomos para o meu carro e entramos no mesmo, logo me inclinei e pedi para Daimos nos levar para o hotel.
Durante o caminho, percebi Khloe extremamente quieta, observando as ruas com uma expressão indecifrável. Suspirei triste e me encostei no banco, deitando a cabeça no mesmo e pensando num jeito de falar sem assustá-la, coisa que seria impossível de não acontecer.
Não demorou muito e rapidamente chegamos ao hotel. Khloe me olhou com uma sobrancelha arqueara, mas logo suavizou a expressão, com certeza lembrando-se que eu estava hospedada aqui. Saímos calmamente do carro e andamos até a entrada do grande edifício. Subimos até o 6º andar, indo para o meu quarto.
Khloe olhava tudo em volta assim que abri a porta, dando passagem para a mesma entrar timidamente.
- Katarina. - Olhei-a parada ao lado da minha cama e esperei tomar coragem para falar, a vi respirando fundo algumas vezes. - Por favor, eu quero que me conte tudo. Não aguento mais essa agonia de não saber nada, sentindo que estou no escuro e tendo certeza que você sabe de tudo o que está acontecendo comigo. Não é à toa que esses sonhos vêm me atormentando minha vida. Só, por favor, não minta para mim.
Khloe estava com os olhos vermelhos, como se estivesse segurando o choro, e parecendo muito cansada. Assenti e apontei para a cama com a mão, indicando para ela se sentar. Rapidamente me sentei ao seu lado, mas sempre olhando em seus olhos.
- Khloe, primeiro eu vou te contar uma pequena história e com ela você terá algumas perguntas respondidas e dúvidas, e só assim te contarei toda a verdade. Mas, só farei isso se você me deixar contar tudo sem me interromper. - Ela me olhava intensamente, parecendo querer entrar em minha mente ou ver minha alma. Ela concordou com um simples aceno de cabeça e sussurrou um "tudo bem".
- Esta história começou no século XV, aqui mesmo na Grécia, e nela havia uma grega que havia acabado de descobrir a morte de seu pai, que aconteceu algum tempo depois que o mesmo a transformou. - Ela ia falar alguma coisa, mas rapidamente ergui minha mão e a coloquei delicadamente sobre sua boca, calando-a. - Perguntas depois, okay? - Ela concordou de novo. - Continuando. Essa grega amava seu pai com todo o seu ser, pois ele era o único em sua vida, então ela ficou extremamente abalada, e com isso tentava esquecer a sua dor bebendo até não aguentar mais. Por fim, depois de um certo festival, após beber mais do que imaginava, foi andando pelas ruas escuras e desertas de Atenas, até que, depois de muito caminhar sem rumo, caiu completamente bêbada, literalmente na porta de uma humilde casa um pouco afastada do centro da cidade.
“Ela iria matar a pessoa que abrisse a porta, fazendo jus a lenda dos Vrykolakas, mas deparou-se com outra grega de pele muito clara e de olhos incrivelmente verdes. A grega de olhos verdes, preocupada com a mulher embriagada caída em sua porta, decidiu ajudá-la. Convidou-a para entrar em sua casa e a deixou dormir em seu sofá. A grega de olhos castanhos não conseguiu e não queria matar a linda mulher. - Funguei sem conseguir me controlar, eu amava lembrar dessa época. - Ela foi embora bem cedo no dia seguinte, antes do sol nascer, porém voltou à noite para agradecer a mulher. Ambas simpatizaram uma com a outra, e de um encontro constrangedor, numa madrugada qualquer, uma linda amizade surgiu. E, depois de alguns meses, quando uma pequena oportunidade apareceu, a grega de olhos castanhos, já completamente apaixonada, beijou a menina de olhos verdes. Com isso, um amor forte e intenso aflorou em ambos os corações. - Sorri em meio de lágrimas, pois já não tinha mais controle sobre meu corpo. Fiquei olhando para baixo enquanto contava a história, porque não queria olhar nos olhos de Khloe e me perder neles. - Até que em um dia, depois de alguns anos casadas e absolutamente felizes, a grega de olhos verdes foi brutalmente assassinada sem motivo algum, fazendo a tristeza e o ódio crescerem dentro do peito da mulher de olhos castanhos. ”
- Meu Deus. - Ouvi o sussurro de Khloe, mas não a olhei, tentava controlar a raiva repentina que me atingiu.
- A grega desolada com a morte de sua esposa, começou a viajar pelo mundo sem rumo e em uma dessas suas viagens, seu destino foi Nassau. A de olhos castanhos teve uma surpresa absurda quando, numa das noites em uma taverna qualquer, viu sua mulher, trabalhando ali. Quando a menina de olhos verdes se deparou com a grega, foi um tremendo susto, pois a mesma tinha se lembrado de tudo por meio de sonhos. A felicidade tomou conta de ambos os corpos, fazendo com que a de olhos verdes corresse e pulasse no colo da outra, e logo um beijo apaixonado dar início.
“A menina de olhos verdes contou a grega que trabalhava insanamente ali para conseguir moedas de ouro, porque queria voltar para sua cidade natal, na Grécia e encontrar sua mulher. - Minha voz ia diminuindo a cada palavra, já que o nó em minha garganta quase me sufocava. - E foi assim durante vários séculos depois que a grega descobriu que sua mulher reencarnava. Era difícil, mas valia a pena, pois eram almas gêmeas e se amavam intensamente.
Terminei de contar e solucei alto, chorando tudo o que não chorei durante anos sozinha, sem a presença dela. Levantei a cabeça e me deparei com o rosto de Khloe completamente vermelho e banhado em lágrimas. Ela começou a negar com a cabeça rapidamente e eu sorri sem humor, limpando minhas bochechas.
- Então, Khloe, sei que você é inteligente o suficiente para responder essa minha única pergunta. - Ela já soluçava alto e ofegava, então segurei suas mãos trêmulas e as apertei entre as minhas. Olhei em seus olhos, esses que estavam totalmente claros e vermelhos pelo choro recente, e perguntei: - Me diga, meu amor, quem eram essas duas mulheres com esse amor incrível e indestrutível?
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