Capítulo dois - A notícia

3797 Words
Exatamente às 4h da manhã, Amélia se levanta para tomar seu banho. Seus olhos redondos não se abrem por nada e o peso, o cansaço de ontem à noite ainda está todo em seus ombros, pernas e pés. O ronco de Jason não a deixou dormir a noite toda, ela m*l pregou os olhos e já eram 4h. Como toda manhã, ela toma seu banho para despertar e põe seu roupão. Ela não queria lavar o cabelo, mas dessa vez teve fazer. Ontem à noite ela não podia molhar e ainda cheira a gordura. Foi até bom, ela despertou e a água bem quente fez bem para as suas costas e ombros. Amélia se enrola em seu roupão e trata de calçar pantufas bem fofas para que seus pés não doam mais do que já doem. Ela toma remédio para dor e logo começa sua rotina. Já são 4h20 e ela tem que fazer o café do Jason e das crianças. Amélia põe a mesa como toda a manhã e se não tivesse lavado a louça ontem teria feito logo cedo. Passa o café. Arruma o lanchinho dos pequenos e finalmente se senta na cadeira para uma pausa enquanto o misto fica pronto. Jason acorda às 6h para trabalhar e as crianças vão para a escola as 6h30. As aulas só começam às 7h30, mas ela tem que leva-los antes, pois seu turno começa às 7h. Horário acordado com Tom para que ela pudesse levar as crianças. Pois seu horário real começa às 6h que é quando o bar abre. Jason precisa estar no trabalho às 8h. Vai de carro até madeireira da cidade onde trabalha. Ele poderia levar as crianças para a escola, depois Amélia para o bar e seguir para a madeireira já que é caminho. Mas como ele nunca fez essa gentileza, Amélia nunca se atreveu a pedir ou a propor. Está há muitos anos acostumada a fazer mil coisas sozinha. Está acostumada a ter tudo em suas costas. E Jason é um homem bem encostado e egoísta. Pedir a ele uma coisa dessas, seria o mesmo que pedir a morte. Depois de conferir se Owen está melhor e se certificar de que ele pode ir à aula, Amélia dá banho nos dois filhos e os ajuda a colocar o uniforme. Owen ajuda bastante a mãe e muitas vezes acorda a irmãzinha antes indo para o banho com ela. Owen sabe que o pai não ajuda em nada e ao contrário de Amélia ele acha super injusto. Apesar de ter essa referência e exemplo de figura masculina em casa, ele é totalmente igual a mãe. Só que enxerga algumas injustiças que ela não vê. Incrível como alguns livros, bondade e inteligência podem mudar as pessoas. – Vamos, os dois. O café está na mesa e vocês têm que ir para a escola. – Diz pegando Clarinha no colo e a colocando em sua cadeira. – Porque temos que acordar tão cedo? A gente fica esperando, esperando, esperando e esperando para sempre na escola, mamãe. A gente chega antes de tooooodo mundo – Amélia embrulha o misto com o papel entregando para sua florzinha e sorri amena. – Por que tem que ser assim, bebê. Por que se não a mamãe não consegue levar vocês para a escola. – O papai podia levar a gente. – diz com toda sua inocência. – Ele tem carro. Owen que apesar de ter onze anos é esperto e sabe que o pai é um folgadão e machista. Ele só não sabe dessa palavra ainda. Ele sabe que o pai joga tudo nas costas da mãe. Sabe também que ele bate nela e por mais que ela esconda deles a todo custo, ele sabe. Só não conta, pois tem certeza de que a mãe ficaria arrasada. – A mamãe gosta de ir com a gente, Clarinha – Diz e morde seu misto – Também a gente passeia junto antes de ir – Diz de boca cheia e Amélia fisga seu nariz com dedo indicador e médio. – Não fala de boca cheia, meu amor. – Pede e logo se vira para a filha – Mas é o que seu irmão falou, eu gosto de levar vocês. Jason aparece na cozinha já vestido para trabalhar e o clima fica tenso que ele carrega com sigo se instala pelo local. Quando Jason está por perto a energia sempre fica mais pesada. – Bom dia – Diz e beija a cabeça dos filhos como se nada tivesse acontecido ontem. Jason me deseja um bom dia com toda a bondade que não tem e deposita um beijo em minha bochecha. Eu não gosto muito quando ele acorda assim. Não que eu não goste de carinho. Eu adoro. Ele m*l me toca e quando é carinhoso comigo por um momento eu me lembro da época que namorávamos. Nós éramos tão felizes. Ele me amava de verdade. Hoje, eu sinceramente não sei mais. Hora ele diz que me ama e que não vive sem mim. Hora ele diz que me odeia e que não faço nada certo. Hora diz que é grato por me ter em sua vida. Hora diz que se arrepende até a morte de ter se casado comigo. Bom, geralmente quando ele acorda carinhoso assim é porque ele quer carinho a noite. Eu não gosto muito de sexo. Na verdade, odeio. Não sei como as mulheres gostam. Os homens são tão violentos e só serve para eles terem prazer. Qual a graça disso? Jason é meu único homem durante a vida toda e acho que não quero conhecer mais nenhum. A única coisa boa mesmo que fizemos juntos foi Clarinha e Owen. Ah, eu amo meus filhos. Acho que eu não seria nada sem eles, minha razão de viver são esses dois. Clarinha tem apenas três aninhos e é minha florzinha mais linda. Ela é minha cara, tem meus olhos e é toda bonitinha. Não tem um traço se quer de Jason, alguns dizem que tem o sorriso dele, mas eu me recuso a aceitar. Ela é uma menina extraordinária e muito esperta. Eu morro de amores com ela. Owen tem onze e é meu homenzinho. É meu menino magrelo e lindo também. Tem a minha cara, porém, os olhos claros do pai. Mas a personalidade é igual a minha. Ainda bem. Ele me ajuda em muita coisa e ama estar comigo. Eu também amo passar o tempo com ele, temos muito em comum. – Bom, eu vou trocar de roupa, vocês comam e eu já volto. – Amélia levanta da cadeira e Jason se senta. Ela se curva para limpar a boca da Clarinha e nessa hora Jason dá uma palmada nela. – Jason! – Amélia diz tomando um susto e se sentindo envergonhada por ter feito na frente dos filhos. Clarinha dá risada inocentemente, mas Owen não gosta nada. Owen fica incomodado com o que o pai fizera, mas não se atreve a falar nada. Amélia beija o topo da cabeça dos filhos e vai até o quarto se trocar para ir ao trabalho. Não demora muito, Amélia logo aparece na cozinha pronta para ir ao trabalho. Ela faz os filhos se despedirem do pai e sai rumo a escola. Ela gosta quando sai de casa. Gosta de passar o tempo apenas com Clarinha e Owen, ela só não percebe muito isso e não assume para si própria. Ela vê e não enxerga. É como se não se conhecesse. Ela não sabe que não ama mais Jason há muito tempo. Beija seus filhos pela última vez e vai em direção ao bar. Bom, não é apenas um bar. É um restaurante onde serve café da manhã, almoço e jantar. A noite fica mais cheio e a janta passa a ser os petiscos que o pessoal pede para acompanhar as bebidas. Amélia tem um papel importante, além de servir as mesas e ajudar no salão, ela prepara as sobremesas. Em especial os bolos. Ela faz bolos como ninguém. O sonho dela é ter um dia sua própria confeitaria ou talvez um café onde serviria doces e bolos caseiros. É isso o que ela realmente gosta de fazer. Ela só não tem incentivo prático. Seu marido deveria ajuda-la. Incentiva-la a abrir um café como ela quer. Ir fundo nessa experiencia com ela, mas tudo o que ele faz é colocar defeitos em bolos perfeitos feitos por ela. Isso só gera insegurança em Amélia. É exatamente o que ele quer. Assim, ela não cresce muito, não fica independente e não larga ele. Assim, ele tem poder sobre ela. Amélia entra pelos fundos e coloca sua bolsa no armário. Seu cabelo preso em um coque perfeito deixa seu rosto aparente e bem mais visível. Usando sua jeans preta colada em suas coxas bonitas, blusa também preta de mangas 3/4 para cobrir os hematomas que Jason havia deixado na noite anterior, ela vai até o suporte para aventais e agarra o seu favorito. Todo preto. Apesar de ser doce como um marshmallow ela gosta de cores escuras. Bordo, azul marinho, preto, verde musgo ou marrom. São cores que harmonizam com seu tom de pele. Ela só não gosta de roxo, pois lembra seus hematomas. Amélia passa em frente ao escritório de Tom indo em direção à cozinha. – Bom dia, Tom. – Diz com um sorriso fraco. Tom escreve em sua agenda e está rodeado de contas, seu notebook ligado indica que tem muito trabalho a fazer. – Bom dia, Amélia. Muito obrigado por ter ficado ontem, me ajudou muito. – Deseja de volta e agradece ficando feliz em vê-la. Ele observa sua blusa e junta as sobrancelhas levando a cabeça para trás num movimento curto e rápido – Está um dia tão quente, você está com todo esse frio? Vai passar calor! Amélia sabia disso, mas hoje cedo quando se olhara no espelho não podia colocar nenhuma blusa de manga curta, nem uma camiseta larga se quer, qualquer movimento em meio de sua correria no almoço mostraria a marca dos dedos e ela não queria que ninguém soubesse. Sofreria em silencio, pois pensa ser uma mulher forte o suficiente para aguentar o próprio marido e lidar com os próprios problemas. Uma pena ela não saber que seria mais forte ainda se enfrentasse o medo que tem por ele e o denunciasse. – Ah, mas é que me deu um frio – Mente abraçando seu próprio corpo miúdo num ligeiro gesto passando as mãos em seus braços num movimento de vai e vem para cima e para baixo – Seu eu sentir calor eu tiro. Não se preocupa – Dá seu mais belo sorriso tímido e se retira indo para a cozinha. – Não quero você desmaiando, meu bem. – Tom grita para ela ouvir. O dia de Amélia começa calmo como todos os outros. O café da manhã é silencioso e só começa a ficar agitado e um pouco barulhento às 9h. É a hora que uma parte da cidade costuma fazer o desjejum e nessa hora seus bolos e sobremesas para o dia já estão tinindo. Orgulha de si mesma ela põe seu bolo de cenoura com cobertura de chocolate na pequena vitrine refrigerada que há no bar. Tom comprou por causa de Amélia. Ele não pode começar o negócio de confeitaria por ela, é necessário investir, ter confiança, não ter empecilhos e ir em frente. Tom sabe mais que ninguém que tem que ir até o fim com os negócios, ser persistente e cuidar de sua empresa. Ele sabe bem que já lhe falou mil vezes para abrir um food truck ou sei lá, mas ao mesmo tempo que Amélia é talentosa ela é insegura. Apesar de não poder tocar os negócios por ela, pode fazer alguns agrados. Amélia quase chorou quando viu a vitrine e tudo melhorou no bar. Ainda mais depois que a cidade de Hills Valley começou a ser visitada com frequência. – Ah, o bolo que eu Hills Valley inteira amamos. – Lucia diz lavando os copos e taças do bar. Lucia é loira, de cabelos enrolados e olhos escuros. Ela tem cabelo curtinho e quando prende parece um pom pom no topo de sua cabeça. Seu nariz é bem pontudo e sua boca bem carnuda. Ela é meio bocuda e bem desastrada. Não leva desaforo para casa e Tom tem o tempo todo que controlar os surtos de Lucia. Amélia se diverte à beça com ela durante o dia. – Ah, para. Hoje o bolo é bem simples. Cafézinho da manhã bem caseiro. – Eu amo os pedacinhos de cenoura minúsculos cortados em quadradinhos perfeitos e cozidos que você põe na calda. Cara, eu nunca tive essa ideia, e fica assim... ótimo. Parece r**m, mas é ótimo. – Ambas dão risada juntas e Lucia acaba derrubando um copo na pia que faz um tremendo barulho. Amélia dá risada enquanto Lucia pega o copo com as mãos cheias de sabão e o derruba novamente. – Mas que menina mais desastrada é essa. – Tom diz ainda no corredor. Ele passa pela porta vai e vem e põe as mãos na cintura. – Lucia. Se você quebrou mais um copo, Lucia. Eu desconto do seu salário, mocinha. – Diz num tom sério, mas com todo o seu humor. Ele não consegue ser rude com ninguém. Todos adoram o Tom. – Seu eu não fosse sua sobrinha... ai ai. – Diz esfregando outros copos e os enfileirando no balcão para depois ensaboa-los. – Eu já teria cortado sua cabeça. – Olha para a Amélia – Porque não aprende a ser delicada como Amélia. Ela é leve. Se move como uma pena – Fala gesticulando, dobra uma das pernas deixando o bico de seu All Star surrado no chão e deixa a curva seu pulso para cima. Amélia dá risada encostada no balcão junto com Lúcia – Mas é ligeira. Por mais funcionários como a Amélia. – Me joga no lago de Hills Valley e adota a Amélia como sobrinha. – Boa ideia. Mas lava os pratos e chão antes. Estarei no meu escritório quando estiver pronta para ser desertada. – Gira indo em direção a porta vai e vem – Desastrada. Ô menina desastrada. – Eu já tenho, 23 anos e ele insiste em me chamar de menina. – Eu tenho 33 e me pareço com uma menina. – As duas riem e mais uma vez o copo cai na pia fazendo barulho. Amélia rapidamente dispersa pegando seu bloquinho e caneta para anotar o pedido de um casal que acaba de olhar o cardápio no bar e de longe vê Tom parado na porta olhando para Lucia de olhos serrados enquanto ela finge não estar acontecendo nada. – Bom dia. Bem-vindos ao bar do Tom, qual será o pedido? – Diz olhando para a mulher, mas quem faz o pedido é o homem. – Bom dia. Vou querer um café com leite grande. E um café expresso curto. O bolo de cenoura para minha mulher... – Diz apontando para a vitrine e ela sente o coração dela palpitar – ...e dois mistos quentes. Por favor. – Misto com pão francês, italiano ou integral? – O homem olha para a esposa e ela quem responde dessa vez. – Pode ser um com pão integral e outro francês. – Ela sorri de lado e dá mais uma instrução – O francês você torra um pouquinho – Diz por claramente conhecer o gosto do marido. – Obrigada. – Ok. Anotado. – Recolhe os cardápios e vai até a cozinha deixar o pedido. Ah, eles querem meu bolo. Pensa ao retornar ao balcão e montar a enorme bandeja com as bebidas e o bolo enquanto os mistos ficam prontos. Morrendo de calor, mas sem poder tirar a blusa ela se abana e aguarda pacientemente os cafés. Olha no relógio e nota que hora está passando rápido. Depois de servir o casal e ficar animada por ouvir a mulher comentar que o bolo está com aparência boa, ela retorna ao balcão e sorri ao ver o Xerife Hoffman entrando no café. Ele cumprimenta algumas pessoas e anda devagar até o balcão. Hoffman é um velhinho barrigudo, alto e bem robusto. Tem poucos cabelos brancos nas laterais de sua cabeça, mas por conta de seu chapéu nem dá para notar sua calvície. Sua camisa cáqui de manga curta, com o escudo, sempre está por dentro da calça, e seus cintos de couro com as fivelas country mais chamativas seguram suas calças marrons do uniforme. Suas botas de salto ecoam por onde ele anda e sua estrela banhada a ouro reluzente chama atenção de todos por onde passa. Ele tira seus óculos escuros sentando no banco e sorri abertamente para Lucia e Amélia. – Meninas, como estão? – Pergunta com sua voz bem presente e alta. – Oi, Xerife Joe. Estamos bem. Lucia ainda não quebrou o bar inteiro. – Joe solta uma risada e apoia os cotovelos no balcão de madeira extenso – O de sempre? – Amélia pergunta já preparando o cafezinho que ele gosta. – Sim, por favor. Nada como um cafezinho para começar o dia. Ah, e um de seus bolos. Qual o de hoje? – Amélia entrega a xícara e um pratinho de sobremesa. – Hoje é de cenoura com cobertura de chocolate e pedacinhos de cenoura. – Ah, um pedaço generoso, por favor. – Tom aparece no bar se espreguiçando depois de ficar sentado em sua cadeira resolvendo contas e logo se anima quando cruza o olhar com Joe. – ÔÔhh, Tom. – Xerife, Joe. – Diz animado se aproximando. Eles se cumprimentam com um bom aperto de mão e sorrisos – Veio pelo cafezinho de sempre? – Com certeza, né? Meu dia não começa sem esse café. E os bolos dessa mocinha que me engorda a cada dia. – Engorda a cidade toda – Lucia diz arrumando a bancada dessa vez. – Está tudo certo por aqui? – Joe pergunta. – Sim, está ótimo. Desde que os turistas têm visitado a cidade aqui está dando um belo movimento. Soube que Josi e Marque querem reabrir a pousada. – Tom pega uma bolotinha de pão de queijo com requeijão da vitrine não resistindo. Ao comer quase revira os olhos com o sabor. – Sim, ouvi dizer, mas eles têm que reformar algumas coisas. – Bebe seu café e limpa os lábios. – Passei por lá e tem coisas fora do aceitável. – Franze o queixo como de costume. É um trejeito que ele tem. Uma espécie de tick. – E as ruas? – Tom se escora no balcão. – O de sempre. Alguém excede o limite de velocidade aqui, uma briga de vizinhos alí... – Responde com uma leve risadinha – Nada muito sério. – E o seu joelho? Você me disse outro dia que ele estava r**m? É o da bala? – Tom pergunta com um jeito preocupado e Lucia e Amélia prestam mais atenção neste momento. – Ahh – Joe respira fundo desanimado e põe as mãos no balcão – Ele ainda está puxando. Ainda dói. Começou do nada. Eu fui ao médico, estou fazendo os exames, mas acho que terei que me afastar um tempo. – Vai deixar a cidade, Joe? – Lucia questiona preocupada e toca na mão dele. – Ah, será por um tempo. Não estou confiante, acho que essa bala deveria ter sido tirada há muito tempo do meu joelho e agora terei que fazer isso. – Vai precisar de cirurgia – Tom se dá conta e também pega na mão de Joe numa forma de dar força a ele. – Bom, minha esposa vai me acompanhar e tudo vai ficar bem. Vou esperar os resultados dos exames e atualizo vocês. – Quem vai ficar no seu lugar? – Amélia questiona e cruza os braços. – Vou indicar um Xerife de confiança. É um conhecido meu. Me recuso a deixar a cidade nas mãos de quem não conheço. Vou convocar uma reunião com meu superior. Entram um grupo de pessoas da vizinhança no bar e os quatro olham no relógio. O horário de almoço já vai começar a todos tem que se apressar. É horário mais corrido do bar e Amélia já se prepara para duas horas de suadeira. Literalmente, pois está morrendo de calor e seus braços estão doloridos. – Bom, eu vou voltar ao trabalho. Está começando o horário de almoço e aqui ferve. – Diz aos três, mas Tom a impede. – Ah, não, Amélia. Você não. Está dispensada mais cedo hoje. Você me ajudou muito ontem e sei que seus filhos ficam um tempo a mais te esperando na escola. Pode ir buscá-los no horário. – Amélia levanta as sobrancelhas e quase não contem o riso. Ela se sente aliviada, pois ainda está exausta dos ocorridos de ontem e precisava descansar um pouco. Ela tira o avental as presas e dá um abraço sincero em Tom, mas quando ele pega em seus braços e os aperta de leve, em sinal de carinho, ela geme de dor e se encolhe levemente. Dá última vez que fora pega desse jeito quase arrancam-lhe a carne dos braços. Todos ao seu redor percebem sua esquiva, mas ela não repara nesse detalhe. – Te machuquei? Desculpe. Você é tão pequena que às vezes acho que vou te quebrar – Eles riem em couro descontraindo. – Não, não foi nada. Só dormi m*l, Tom. Muito obrigada por me liberar. Meus filhos vão amar. Animada e aliviada por poder ir para casa mais cedo, eu atualizo as sobremesas para o almoço na vitrine e levo o pedaço que sobrou do café da manhã para a cozinha. Coloco em uma embalagem de isopor e ponho em minha bolsa a fim de fazer uma surpresa para Clarinha e Owen. Eles simplesmente adoram quando levo alguns pedaços dos bolos que fiz pela manhã. Eles geralmente só comem assim. Jason coloca defeito nas minhas massas quando faço. Sempre está molhada demais, doce demais, sem gosto demais, com farinha demais, solada demais, fofa demais... nunca está bom. Depois de muito tempo apenas recebendo críticas a gente desanima, sabe? Faço apenas no bar e morro de medo de ficar r**m. Por isso fico que nem uma boba quando elogiam e vejo que estão comendo meus bolos. Eu nunca mais fiz bolos ou sobremesas em casa, apenas quando Clarinha e Owen pedem muito, aí eu faço para eles. Eles são tudo o que tenho e eu os amo mais que tudo na vida. Faço tudo por eles. São minha razão para viver, pois as vezes me sinto tão triste e infeliz que se não fosse eles, não sei o que seria de mim. Ah, eles vão amar me ver mais cedo na porta da escola.
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